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Reportagem especial Pediatria: Maria Dione Mota Rôla

A criança que gostava de cuidar e que virou pediatra inspirando toda uma geração

 

Empatia e amor a profissão, são ingredientes que marcam uma trajetória de mais de seis décadas ininterruptas da pediatra que inspirou uma geração com seus filhos e netos que também escolheram a medicina como profissão.

 

Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará no ano de 1961, Maria Dione Mota Rôla escolheu a pediatria como profissão por traduzir a sua personalidade acolhedora e de empatia pelas pessoas. Irmã mais velha entre os dez irmãos, desde pequena tinha a responsabilidade de cuidar e tomar conta dos pequenos.

 

Dra. Maria Dione Mota Rôla, médica em 61 pela UFC

 

Em sua trajetória profissional, Dra. Maria Dione passou por diversos momentos na evolução da medicina, onde nos seus primeiros passos como médica, o acesso a tecnologia, exames laboratoriais, antibióticos e principalmente as vacinas, eram praticamente inexistentes, logo, o exercício da medicina se tornava uma verdadeira arte, enfrentando casos de Poliomielite, Tétano Umbilical, Difteria, por não contar com as vacinas.

 

Mesmo nos dias atuais com o acesso a toda a tecnologia disponível na saúde como os exames de laboratório, imagens, telemedicina, ser um país de referência mundial em vacinas, antibióticos, e outros mais, há algo que ela sempre carrega no seu dia a dia dos mais de 60 anos de prática médica ininterruptas, de que o exame clínico é, e sempre será soberano no atendimento da saúde dos pacientes para se chegar a um diagnóstico diante das experiências obtidas no INAMPS, IPM, Hospital da Polícia, Associação do Merceeiros e em seu consultório.

 

Com toda essa energia que carrega em seu dia a dia se tornou um grande referencial e inspiração para as pessoas, e mesmo sem nunca ter induzido os seus filhos “ah, eu quero que você seja um médico”, eles acabaram escolhendo seus próprios caminhos de serem médicos por verem nos seus pais uma grande fonte de inspiração de amor e carinho pelo próximo.

 

Além da medicina, Dra. Maria Dione também tem sua dedicação pelo social com voluntariado no atendimento às crianças da Comunidade do Trilho (bairro Mucuripe), idosos da Casa da Vó Marieta, Lions Club Mulher Rendeira, APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, grupo Os Stressados, Ação SOCIALMED Jornal do Médico, sem se falar também da sua dedicação as artes onde é membro da SOBRAMES Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional Ceará, ACEMES Academia Cearense de Médicos Escritores e integrante do Coral da Unimed Fortaleza e Coral Vozes de Outono.

 

 

Dra. Maria Dione e sua filha Dione (Dioninha)

 

Mãe de três filhos, Dr. Kitt Rôla Jr. (Ginecologia e Obstetrícia, Emergencista), Dr. Sérgio Mota (Anestesista) e Dra. Dione Mota (Pediatra e Psicanalista), sete netos, Dr. Davi Mota Alcantara (Médico Saúde da Família), Pedro Rôla (Engenheiro), Dra. Cristiana Rôla (Pediatra), Prof. Levi Mota (Ator, Professor e Artista), Taís (estudante de medicina), Guilherme (estudante de Cinema) e Lia (estudante do Ensino Médio e Dançarina), além de duas Bisnetas, Olívia e Ana. Dra. Maria Dione Mota Rôla, Membro da SOCEP Sociedade Cearense de Pediatria, vive a vida nos seus oitenta e cinco anos de idade com muita energia e amor ao próximo. Confira a entrevista exclusiva concedida ao JORNAL DO MÉDICO.

 

Jornal do Médico: Como é que você tomou a decisão de se tornar pediatra, ser médica?

 

Dra. Maria Dione: Meu filho, a decisão de me tornar pediatra é incrível. Acho que é desde que eu nasci. Porque quando eu era pequena, nem sabia falar direito, meus tios perguntavam, você vai querer ser o que? Eu dizia que queria ser pediatra, e eu nem sabia falar direito. Aí ele respondia “Só se for um pé de ata mesmo.” Eu ficava com uma raiva. Mas eu sempre quis fazer pediatria. Não sei de onde eu tirei, porque eu nem tinha pai nem mãe pediatra. Era algo como uma intuição mesmo.

 

 

Dra. Maria Dione em atendimento nos dias atuais

 


Jornal do Médico: Mas o que você de fato fez você querer ser pediatra?

 

Dra. Maria Dione: E eu acho que querer a pediatria, mesmo quando eu era muito novinha não tinha ainda motivo claro. Mas depois de uns tempos eu cuidei dos meus irmãos, pois eu era a irmã mais velha entre os dez irmãos, então eu já tinha essa tendência de cuidar, tomar conta, de tratar, aí fui tomando um certo gosto antes de fazer o vestibular de medicina.

 

Jornal do Médico: E o que lhe representa ser pediatra?

 

Dra. Maria Dione: Representa muito ser pediatra! Tanto que eu, com 62 anos de formada, ainda não tive coragem de me desprender do meu consultório. Eu acho incrível essa relação com o paciente, ensinar a mãe como é pra ser o cuidado com seus filhos. Isso me satisfaz demais.

 

Pra se ter mais uma ideia, eu gosto tanto da pediatria que para os meus filhos eu nunca chamei outro pediatra, porque às vezes os colegas que são pais acabam encaminhando seus filhos para outros pediatras, só que eu tinha comigo de que só eu podia e tinha de ser a pediatra deles, e assim eu fui com todos os meus três filhos e dos meus netos, já os bisnetos eu vou dividindo um pouco com a minha filha Dioninha que também é pediatra assim como eu.

 

Com tudo isso então eu acho que só vou deixar a pediatria se um dia eu ficar com Alzheimer, que aí vão me tirar a força, ou então quando eu morrer.

Dra. Maria Dione durante ação SOCIALMED Jornal do Médico

 


Jornal do Médico: A senhora por ser pediatra tem a dimensão do impacto que tem na vida das crianças e da família que você atende?

 

Dra. Maria Dione: Olha, antigamente a gente era bem mais valorizado. O médico quando recebia o paciente chegava a ser até endeusado. Era aquele respeito maior, um tratamento até diferenciado, algo muitas vezes até fora de série. E tudo isso fazia com que a gente se sentisse respeitado, importante, valorizado com a missão de levar saúde e bem-estar aos pacientes, até porque também a responsabilidade era e continua enorme. Quando você entrava na casa do paciente para fazer algum tipo de atendimento, essas coisas todas eram notórias.

 

A maior parte dos meus pacientes atuais muitas vezes são filhos ou netos dos meus primeiros pacientes.

 

Então cria-se uma relação de confiabilidade enorme, de amizade mesmo. No meu consultório eu posso até brigar com os meninos, sabe? Brigar até mesmo com os pais, “Olha pai, não é pra fazer isso ou aquilo com o menino não hein”. Tudo isso é muito satisfatório e prazeroso.

 

Jornal do Médico: Quais foram os momentos mais gratificantes na sua carreira de pediatra?

 

Dra. Maria Dione: Primeiro de tudo foi passar no vestibular de medicina. Isso pra mim foi algo maravilhoso! A gente passa nesse vestibular tão concorrido, e olha que no vestibular do meu tempo a gente tinha a prova escrita e a prova oral. E eu, que em toda a minha vida fui muito nervosa para me apresentar em público, tinha horror daquela prova oral, mas fiquei lá diante de três examinadores no auditório. Era um martírio ver todo mundo assistindo ao meu vestibular, mas eu enfrentei e passei graças a Deus.

 

E um fato curioso é que eu só tive a coragem mesmo de me apresentar em público com naturalidade somente depois de formada. Principalmente depois de ingressar nos corais.

 

Jornal do Médico: Como é que foi o seu primeiro paciente pediátrico?

 

Dra. Maria Dione: O primeiro paciente? Deixa eu ver se me lembro, pois faz tempo demais,. Em sua grande maioria, os meus primeiros pacientes foram os colegas dos meus filhos, cujo os pais chamavam para ser a pediatra deles. E acabava virando uma relação quase de mãe ao acompanhar todo o seu desenvolvimento.

 

Jornal do Médico: Comente um pouco sobre os seus desafios e superações ao longo da sua brilhante carreira.

 

Dra. Maria Dione: Os desafios meu filho continuam, pois a medicina não é uma ciência exata certo? É uma ciência de probabilidades. E logo quando eu me formei, há muitos anos atrás, ninguém contava com os antibióticos, que só vieram surgir muitos tempos depois. Naquela época, não contávamos com os antibióticos atuais e a tecnologia para auxilionar o diagnóstico. Então fazer medicina naqueles tempos era algo feito com muita arte e muita dedicação. Imagine só, você tinha que ir mesmo a fundo para o exame físico que era muito rigoroso, daí você examinava mesmo seu paciente, tocava nele, conversava bastante e a partir daí se tirava as conclusões para um diagnóstico.

 

Já nos dias de hoje, mesmo quase não existindo toda essa prática do passado, temos os exames de laboratório e os exames de imagem que nos proporcionam melhores condições para diagnosticar alguma patologia no paciente, pois estas tecnologias na saúde se tornam quase uma mágica, pois nós conseguimos ver de tudo dentro do paciente.

 

Mas nesses meus mais de 60 anos de formada com atividade ininterrupta, eu passei por muitas fases na evolução da medicina, e que mesmo com toda a tecnologia que tem o seu importante valor, o exame clínico é, e sempre será soberano. É algo do passado em que eu aprendi durante a graduação de medicina, e que carrego até os dias de hoje, e infelizmente ouvimos os pacientes reclamarem de que quase inexiste esta prática.

 

Reunião com sua turma de medicina UFC 1961

 

Jornal do Médico: Falando um pouco do impacto da pediatria na vida das crianças e o que é mais gratificante?

 

Dra. Maria Dione: O processo de acompanhar a vida toda. Isso é maravilhoso meu filho. Praticamente todos os meus pacientes atuais são filhos ou até netos dos meus primeiros pacientes. Isso não tem preço, bom demais!

 

Jornal do Médico: Como a senhora acredita que na condição de pediatra pode influenciar de maneira positiva na vida das crianças e, principalmente, das famílias?

 

Dra. Maria Dione: Muitos dos meus pacientes acabaram seguindo a medicina, talvez eu até tenha influenciado os meus filhos, pois todos os três seguiram a medicina, já que  dentro de casa tanto eu como o pai éramos médicos e o assunto principal era medicina, e que acabava induzindo sem ter a pretensão de o fazerem atuar a mesma carreira.

 

Jornal do Médico: Como você procura criar a relação com um paciente novo?

 

Dra. Maria Dione: Eu acho que, em primeiro lugar, eu sorrio muito. Eu já o acolho com um sorriso. Eu acho que isso deve ser muito importante para quem vem ao nosso consultório. Eu, por exemplo, ao chegar no médico e ele me acolher sorrindo, eu vou me sentir acolhida. E mesmo sendo médica quando a gente vai para o médico na situação de paciente, é muito difícil, você precisa criar aquele clima para a pessoa poder ficar um pouco mais tranquila, pois geralmente o paciente vai numa situação de muita aflição.

 

Jornal do Médico: Nos conte um pouquinho das suas contribuições além do consultório.

 

Dra. Maria Dione: Eu sempre gostei de fazer uma medicina mesmo para ajudar. A minha sogra tinha a casa da Vó Marieta, então como médica eu atendia lá as idosas, os colaboradores, conversava com elas, cantava junto, era uma maravilha. Eu também atendia as crianças da Favela do Trilho, porque os meus filhos eram do grupo de jovens da Igreja São Vicente, supervisionada pela irmã Yolanda. Então eu atendia esses meninos, fazia brincadeiras, era muito prazeroso pois sempre gostei de ajudar. Atualmente também sou voluntária em algumas ações da APAE, Lions Club e do Grupo Os Stressados.

 

Jornal do Médico: Além do social, a senhora compartilha o seu conhecimento com o público?

 

Dra. Maria Dione: Ah, eu gosto também de ensinar, de ensinar para os mais novos o que fazer. Tanto que nunca rejeitei quando sou convidada para dar alguma palestra, levar alguns esclarecimentos para os mais leigos. No Lions por exemplo, de vez em quando eu faço algumas atividades desse tipo.

 

Jornal do Médico: E quanto a pandemia e o cenário pós-pandemia?

 

Dra. Maria Dione: Foi muito ruim porque no período da pandemia primeiro eu não podia atender presencialmente como eu sempre gostei, mas mesmo assim eu nunca deixei de atender via internet. É algo bem diferente.

 

E nessa época da pandemia faleceu muita gente, inclusive perdi um sobrinho e um irmão na pandemia. Agora a gente está voltando a normalidade.

 

Jornal do Médico: Como é que a senhora avalia os impactos da COVID-19 nas famílias?

 

Dra. Maria Dione: Foi um tempo difícil mas que trouxe de positivo uma maior convivência familiar.

 

Jornal do Médico: Quais conselhos a senhora daria para os futuros pediatras? Para aqueles que estão estudando medicina e estão interessados em fazer pediatria?

 

Dra. Maria Dione: Para qualquer especialidade o importante é que seja feita com amor, e não fazer da medicina só um meio de vida. Na pediatria você mais do que nunca tem que gostar de servir ao próximo. Isso é o principal. Tem que ser dedicado, ter empatia com o paciente, acolher sempre bem, pois é sempre um momento muito difícil para quem está entrando no consultório. A situação de quem está por trás do birô é diferente de quem está do outro lado. Eu mesma, quando me sento desse outro lado, eu percebo como é difícil. E a gente já vai aflito e preocupado com a doença. Então tem que ter bom acolhimento, visto que a medicina é uma profissão diferente das demais, exige ainda mais amor ao próximo.

 

Jornal do Médico: Existe algum momento que acima ou conquista específica que você considera como a chave de ouro na carreira?

 

Dra. Maria Dione: Olha, teve tantos momentos bons, mas que não tem nada melhor como na hora que a gente passa nesse vestibular, é a emoção maior. Foi bom demais quando eu passei por todas aquelas etapas do concurso do vestibular. Outra grande alegria foi quando os meus filhos e neto também lograram o mesmo êxito.

 

 

Esq/Dir Superior: os filhos Dra. Dione Rôla, Dr. Sérgio Rôla e Dr. Kitt Jr. na parte inferior, Dra. Maria Dione e Dr. Kitt Rôla

 

Jornal do Médico: E na pediatria, o que mais marcou a sua carreira?

 

Dra. Maria Dione: Dentro da pediatria o que mais me marca é quando a gente consegue a cura das doenças, quando vê um menino bem doentinho e depois vê aqui sorrindo, brincando. Isso é gratificante demais, e é o que me faz ficar nesse consultório depois de tantos anos de formada.

 

Jornal do Médico: E para a gente poder encerrar, como estamos no mês do pediatra, qual mensagem você gostaria de transmitir para os seus colegas de especialidade?

 

Dra. Maria Dione: Em primeiro lugar, eu quero parabenizá-los, porque realmente é uma especialidade incrível. Estou bem certa disso. Exerçam sempre com amor, esse é o principal requisito, e estejam sempre atualizados, nunca deixem de estudar!

 

 

JORNAL DO MÉDICO

Desde sua criação em 2004, o Jornal do Médico tem se destacado como uma fonte confiável e contínua de conteúdo médico e de saúde. Ao longo dos anos, temos trabalhado incansavelmente para fornecer informações relevantes e entrevistas exclusivas com renomados especialistas da área.

 

A entrevista com a pediatra Dra. Maria Dione Mota Rôla, que compartilhou suas experiências e insights sobre a importância da pediatria, reflete nosso compromisso em fornecer informações valiosas para a comunidade médica e de saúde.

 

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