Os 56 anos de experiência após a formação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialização em Pediatria permitiram à Dra. Maria Dione de Mota Rôla ver a profissão se transformar ao longo do tempo. Concursada, ela trabalhou “desde poucos anos de formada” no Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), no Instituto de Previdência do Município (IPM) de Fortaleza e no Hospital Militar da cidade. Tendo se aposentado por tempo de serviço, hoje a médica trabalha em seu consultório particular, onde atua também desde que se formou.
Dra. Dione é voluntária da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e do Lions, sendo também médica de uma creche em Mundaú, no interior do estado. Pertence a dois corais: Vozes de Outono e outro da operadora de saúde Unimed. É membro da Academia de Médicos e Escritores do Ceará (Acemes), da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames), do Lions Feminino, da Sociedade Cearense de Pediatria (Socep) e fundadora da Cooperativa dos Pediatras do Ceará (Cooped).
Em ocasião do Dia do Pediatra, comemorado hoje, 27 de julho, a Dra. Dione aconselha o jovem interessado em cursar Pediatria a não encarar a atividade como uma profissão, mas como uma vocação. “É preciso gostar de criança e ter muita disponibilidade, porque é um ofício diferenciado, eu poderia dizer até que é um ofício divino.” Segundo conta, sua vontade de fazer Pediatria vem desde a infância e a escolha da profissão “nunca constituiu dúvida” para ela. Confira abaixo a entrevista que a pediatra concedeu ao Jornal do Médico no dia 26 de julho.
JMédico: Quais os desafios da profissão?
Dra. Dione: Muitos desafios existem, na Pediatria. Por exemplo, ao longo do ano, essa desvalorização da especialização – porque as outras especialidades contam também com procedimentos – e a Pediatria só com consultas. Então, agora, ao longo dos anos, a baixa remuneração, a condição (in)adequada de trabalho e o número excessivo de atendimentos levam a pior qualidade na consulta. E o mais frustrante: há também o caso de doenças incuráveis, ou que levam a uma incapacitação física e mental para o resto da vida. Isso é um desafio para a gente que pretende dar o melhor possível para as crianças.
As condições da Pediatria, desde que eu me formei, realmente passaram por algumas melhoras. Muitas melhoras. A imunização, por exemplo. Agora, aqui a gente conta com o serviço de imunização no Brasil dos melhores do mundo, que vai fazendo a prevenção de muitas doenças. Outra coisa também – o incentivo ao aleitamento materno, que trouxe as crianças mais saudáveis; E a orientação da puericultura, que pretende fazer adultos cada vez mais saudáveis. Porque agora a pretensão é que se dure cem anos. E os primeiros anos de vida são decisivos para essa saúde do adulto.
JMédico: Agora fale um pouco dos prazeres que a Pediatria lhe proporcionou.
Dra. Dione: Quanto aos prazeres, esses superam qualquer desafio e nenhuma outra atividade eu acredito que possa ser tão prazerosa, trazer tanta alegria, como acompanhar o desenvolvimento de uma criança, desde o nascimento até praticamente a idade adulta, porque a gente trabalha até a fase da adolescência deles. E como a gente cria um vínculo muito grande com a família, acaba sendo médico até depois que viram adultos. E eu, como já tenho mais de 56 anos de consultório, já atendo os filhos e até netos dos meus primeiros clientes. Com certeza não tem nada que pague isso.
E outra coisa… O sorriso de uma criança para gente é um negócio que não tem nada melhor. E o resultado da [cura da] doença… A criança chega doentinha, depois a gente consegue reverter aquele quadro… É um negócio maravilhoso, que não tem preço, é o melhor prêmio que a gente pode ter. Depois, você está lidando com a coisa mais preciosa que você tem. Quer dizer, os pais levam para nós o bem mais preciosos deles, que são os filhos. Nós temos essa responsabilidade de deixá-los o mais possível saudáveis.
JMédico: Como sua gravidez ajudou a senhora na profissão?
Dra. Dione: Eu tenho três filhos, todos três médicos. Isso aí [gravidez] me trouxe algumas vantagens. Teve vantagens e desvantagens das duas partes, tanto da medicina, quanto da família. Porque para a medicina fez eu entender cada vez mais a angústia das mães, e saber que às vezes uma pequena doença a gente já considera uma coisa enorme, então eu fico acessível a todas as dúvidas a todas as horas… Eu deixo os meus contatos com as minhas clientes, elas podem me contatar em qualquer momento, que é para eu tirar as dúvidas, agora por telefone, WhatsApp. Não é a consulta, porque a consulta [se] faz regularmente no consultório. Mas eu fico a disposição pra qualquer dúvida, depois. E isso cria um vínculo com a família, o que é muito gratificante.
A desvantagem de ter os filhos para sua profissão: eu tinha que tirar alguns momentos ou da profissão, ou da família. Em muitos momentos eu não estava presente como eu queria, totalmente. Mas nada que desse um grande prejuízo, deu pra eu conseguir bem lidar com isso.
JMédico: Para finalizar, uma pergunta meio boba, mas necessária. O que é Pediatria para a senhora?
Dra. Dione: Pediatria é uma especialidade diferenciada, porque você tem a obrigação de diagnosticar, orientar, cuidar e prevenir [doenças em] uma pessoa que nem sabe ainda se comunicar. No caso dos bebês, você vai ter que fazer um exame mais minucioso para poder chegar a um diagnóstico mais correto.
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