A obesidade é uma alteração da composição corporal, definida por um excesso relativo ou absoluto das reservas corporais de gordura, e frequentemente resulta em prejuízos significativos para a saúde do indivíduo, uma vez que as alterações fisiológicas provocadas por ela, estão contidas na fisiopatologia de diversas comorbidades.
É considerada uma doença crônica limitante, com importante abrangência mundial, decorrente de múltiplos fatores, como comportamento alimentar, genética, mecanismos de armazenamento de gordura, regulação do aporte e gasto energético e fatores ambientais e psicológicos .
A classificação da obesidade é feita de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), porém é aconselhável que seja utilizado associado a outros métodos, devido a suas limitações quanto a composição corporal do indivíduo, como a impossibilidade de distinguir o percentual da massa magra da massa gorda . De acordo com o cálculo do IMC, classifica se como sobrepeso valores de 25 a 29,9 kg/m², obesidade grau I de 30 a 34,9 kg/m², obesidade grau II de 35 a 39,9 kg/m² e obesidade grau III acima de 40 kg/m²
A cirurgia bariátrica é um dos tratamentos disponíveis para a obesidade , que promove alteração do peso do paciente devido a mecanismos restritivos, como a redução da capacidade gástrica, e disabsortivos, como a exclusão de um segmento do intestino, que diminui a capacidade de absorção e hormonais, devido as alterações fisiológicas provocadas tanto pela cirurgia como pela própria perda de peso. Nos últimos anos ocorreram várias inovações nas técnicas cirúrgicas, dentre essas a técnica de Gastroplastia por Sleeve, que vem sendo utilizada cada vez mais, uma vez que apresenta o benefício de ser menos invasiva quando comparada às demais técnicas utilizadas anteriormente. Ainda a Gastroplastia em Y de Roux (GYR), é a mais realizada no mundo.
Nesse método, a capacidade do estômago é reduzida para apenas 10% do volume total, restringindo a quantidade de comida que pode ser ingerida e desviando esses alimentos para a primeira porção do intestino, chamada duodeno, até a porção intermediária do órgão, chamada jejuno.
Após a cirurgia o consumo calórico dos pacientes pode diminuir consideravelmente, saindo de quase 3000 kcal diárias para cerca de 1000 kcal, no pós-operatório de 6 meses as indicações gerais de tratamento cirúrgico no Brasil contemplam uma idade maior que 16 anos, IMC acima de 40 kg/m² ou com IMC acima de 35 kg/m², mas que apresentem comorbidades relacionadas à obesidade, sendo essas agravadas pela obesidade . A lista de comorbidades recebeu uma atualização, que ampliou as comorbidades que contam como indicação, dentre essas se encontram patologias cardíacas, vasculares, pulmonares, ortopédicas, gastrointestinais, hormonais, urológicas e psicossociais, além de evidência de tratamento prévio, de pelo menos dois anos, que não obteve resultados satisfatórios.
Nas cirurgias bariátricas realizadas pode se identificar uma prevalência dos pacientes do sexo feminino, em torno de 90%, entretanto o grau de obesidade se mantém semelhante entre os dois sexos, com uma maior prevalência da obesidade grau III.
Os pacientes que realizam cirurgia bariátrica, em sua maioria, são portadores de algumas comorbidades associadas ao sobrepeso.
Após a realização da cirurgia, algumas comorbidades apresentam melhora clínica como é o caso da hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM), depressão, problemas articulares e apneia obstrutiva do sono . A DM apresenta uma grande taxa de remissão, relacionada a diversos mecanismos, como a restrição da ingesta calórica, a redução da grelina, a restrição do trânsito intestinal e a perda de peso ponderal com redução da gordura visceral, que auxiliam na diminuição da resistência insulínica e a modulação das incretinas.
É importante ressaltar que o tratamento cirúrgico não promove a CURA da obesidade, mas auxilia no melhor controle clínico do paciente e em um melhor prognóstico da doença e de suas comorbidades. A perda de peso corporal já é significante um mês após a cirurgia e até o terceiro mês ocorre de maneira acentuada. No entanto, uma série de mudanças de hábitos como, uma alimentação balanceada, atividade física programada e ajuda psicológica devem ser introduzidos no dia a dia dos pacientes para que ocorra a manutenção da perda de peso e prevenção de novas comorbidades
Devido às mudanças nos hábitos alimentares da população nas últimas décadas ocorreu um aumento da prevalência e da incidência de obesidade nos últimos anos. Sendo assim, tornou se necessário o conhecimento das características dos pacientes acometidos por essa condição.
Após o tratamento cirúrgico , existe a necessidade de seguimento com a equipe multidisciplinar . O Endocrinologista irá acompanhar as deficiências nutricionais desses pacientes e deve se considerar megadoses de micronutrientes devido à menor biodisponibilidade em decorrência das alterações fisiológicas proporcionadas pelas técnicas cirúrgicas, portanto a suplementação nutricional torna-se uma alternativa terapêutica necessária, contribuindo para a perda de peso de forma saudável. Essa suplementação é maior na técnica de Bypass por alteração a nível de intestino , mas também é necessário no Sleeve.
As vitaminas e minerais são fatores e cofatores essenciais em muitos processos biológicos que regulam o peso corporal direta ou indiretamente .
Os benefícios metabólicos desses micronutrientes no controle da perda de peso incluem a regulação do apetite, da fome, da absorção de nutrientes, da taxa metabólica, do metabolismo de lipídios e carboidratos, das funções das glândulas tireoide e suprarrenais, do armazenamento de energia, da homeostase da glicose, de atividades neurais, entre outros.
Assim, a “adequação” de micronutrientes é importante não só para a manutenção da saúde, mas também para obter o máximo sucesso na manutenção e na perda de peso em longo prazo.
Uma grande porcentagem de pacientes , apresentam riscos elevados de deficiências em vitamina B12, cálcio, ferro , sódio, potássio, cloreto , fósforo, magnésio e zinco . A deficiência de proteína é a mais comumente relatada entre os macronutrientes. É observada principalmente após as técnicas cirúrgicas disabsortivas ou mistas (DBP/DS e BGYR). Estima-se que apenas 57% da proteína ingerida é absorvida após o bypass intestinal.
Por isso chamamos de “prato bariátrico “a refeição dessas pessoas já que necessitam de um percentual de proteínas maior que a população em geral .
A Cirurgia Bariátrica é hoje o tratamento mais eficaz da obesidade . No entanto, alguns pacientes não atingem a perda de peso esperada e muitos reganham parte do peso perdido entre 2 e 10 anos do pós-cirúrgico . A cirurgia bariátrica induz uma redução de 60 a 70% do excesso de peso corporal, com perda máxima no período entre 18 e 24 meses, com reganho ponderal significativo observado após cinco anos .
Os indivíduos submetidos ao tratamento cirúrgico da obesidade podem apresentar uma recidiva de aumento de peso se não alterarem seus hábitos alimentares e não praticarem atividade física e abandonarem o acompanhamento médico e da equipe multidisciplinar.
Muitas vezes, quando o cliente observa que está reganhando peso, opta por não buscar auxílio da equipe que o acompanhou por sentimento de fracasso no emagrecimento efetivo buscado cirurgicamente . Alguns dos fatores apontados como possíveis responsáveis para o reganho de peso são hábitos alimentares inadequados, dilatação da bolsa gástrica, redução da prática de atividade física, adaptações hormonais, tempo de pós- operatório, aderência do paciente ao grupo de apoio, Índice de Massa Corporal (IMC) no pré- cirúrgico, baixa autoestima e depressão . Hoje sabemos que devemos intervir o quanto antes , modificando estratégias utilizados já no platô da perda de peso . Quer dizer mesmo no primeiro ano , caso paciente já não tenha perda de peso satisfatória , estratégias comportamentais e uso de medicações devem ser indicados após consentimento do paciente . Medicações devem devem ser prescritas pelo Endocrinologista, médico especialista no tratamento clínico da obesidade .
A Lista das medicações disponíveis, para auxiliar a perda de peso são:
- Sibutramina
A sibutramina atua em alguns neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina, e com isso, reduzindo o apetite. Hoje ele é um dos remédios que pode ser vendido no Brasil, desde que com prescrição médica.
- Saxenda
O saxenda é um remédio para emagrecer aprovado pela Anvisa em 2016. Seu princípio ativo, a liraglutina, é a mesma do remédio Victoza, usado para tratar o diabetes. Foi descoberto que ele reduz a sensação de fome .Saxenda deve ser injetado sob a pele.
- Orlislat
Interfere na absorção de gordura, inibindo que 30% dela seja assimilada pelo corpo, que é eliminada em maior quantidade nas fezes.
Por conta disso, ele é mais usado como coadjuvante, junto a outros tipos de remédios para emagrecer.
4. Sertralina
A sertralina é um medicamento antidepressivo . Seu uso na perda de peso é utilizado em casos de depressão e /ou ansiedade que levam à compulsão alimentar .
- Bupropiona
A bupropiona é um antidepressivo também indicado para o emagrecimento , por ajudar a reduzir a compulsão . Ela atua de forma semelhante em casos de fumantes que querem deixar o vício de fumar.
6. Topiramato
É , na verdade uma medicação anticonvulsivante mas é utilizado para compulsão alimentar , “off – label “. Pode ser associado a medicações como a sibutramina ou sertralina.
Um dos pontos principais que garante o sucesso do tratamento e prolonga os benefícios provenientes do procedimento cirúrgico é ter acompanhamento pré e pós-operatório de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais experientes e especializados em obesidade e cirurgia bariátrica e metabólica.
É importante que todos saibam que ninguém tem obesidade porque quer ou escolhe ser obeso, pois não é uma questão de força de vontade, determinação ou caráter.
Sobre a autora:
Dra. Claudia Peter possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará e é médica Endocrinologista do Serviço de Cirurgia Bariátrica do Hospital Geral Dr. César Cals.
Médica Endocrinologista da Prefeitura de Fortaleza, tem Especialização em Clínica Médica com Residência em Clínica Medica pelo Hospital Geral Dr.Cesar Cals. Residência médica em Terapia Intensiva no Hospital Geral de Fortaleza no ano de 1999.
Possui residência em Endocrinologia e Metabologia no Instituto Estadual Luis Capliogle Rio de Janeiro (RJ), além de título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia (SBEM), dra. Cláudia é Mestranda em Farmacologia pela UFC.
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