Em algum momento da vida, muita mulher já teve que lidar com um mioma, ou ao menos conhece alguém que passou por esse problema, pois os miomas são bastante comuns, sendo o tumor mais frequente do trato genital feminino, atingindo até 70% das mulheres em idade reprodutiva, principalmente entre os 30 e 50 anos, regredindo parcialmente após a menopausa.
Embora metade das mulheres com miomas sejam assintomáticas, com o diagnóstico feito após um ultrassom de rotina ginecológica ou por outra razão, a outra metade de casos em que há sintomas, principalmente sangramento e dor pélvica, ainda é muito numerosa, sendo por isso responsável por aproximadamente 40% das cirurgias de retirada do útero em todo o mundo, representando a maior indicação para esse tipo de procedimento.
Quanto ao tratamento cirúrgico do mioma, o Dr. Mariano Tamura Vieira Gomes, Vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Endoscopia Ginecológica da Febrasgo, explica que esse tratamento é dividido entre definitivo e conservador e há 30 anos a via laparotômica era tradicionalmente escolhida para a realização de histerectomias ou miomectomias. “Além disso, a via vaginal tem sido um excelente acesso para a histerectomia, sempre que viável. Porém, a evolução do tratamento cirúrgico do mioma nos últimos 30 anos trouxe opções terapêuticas minimamente invasivas, com preservação da anatomia uterina e melhores resultados de fertilidade, em especial com a aplicação da histeroscopia e da laparoscopia, essa última como via para miomectomia ou histerectomia.”, explicou o Dr. Mariano Tamura.
Ainda segundo o Vice-presidente, as opções medicamentosas e técnicas cirúrgicas que ajudam no controle do sangramento intraoperatório também se agregam a esses avanços. “Na última década, a robótica tem se firmado como um avanço tecnológico da laparoscopia no nosso país, permitindo cada vez mais a indicação de cirurgias minimamente invasivas para tratamento do mioma.”, falou o médico. “A via endoscópica, sempre que bem indicada, possibilita melhor recuperação pós-operatória e redução do tempo de internação em relação à laparotomia. Com isso, tem-se observado aumento desses procedimentos no decorrer dos anos.”
Dessa forma, atualmente, a miomectomia histeroscópica e a miomectomia laparoscópica ou laparoscópica robô-assistida são os principais padrões de tratamento conservador, enquanto os procedimentos radiointervencionistas para miólise, que visam a redução dos miomas, como a embolização das artérias uterinas e ablação dos miomas por radiofrequência, têm ganhado espaço. “A evolução do tratamento dos miomas é crescente e os casos devem ser individualizados para melhor escolha do método e sucesso do tratamento.”, afirma o Dr. Mariano Tamura.
O Dr. Mariano também comenta sobre os cuidados pré-operatórios nas cirurgias ginecológicas em meio ao momento da pandemia causada pela COVID-19. “No período de pandemia, tem-se indicado distanciamento social da paciente e acompanhante por 14 dias antes e 14 dias após o procedimento cirúrgico, para maior segurança na recuperação pós- operatória.”, explica. “Sendo assim, visando a segurança da paciente e da equipe, é colhido o PCR para COVID-19 48h antes da internação. Caso o resultado seja positivo, reprograma-se o procedimento. Se a paciente tem comorbidades graves, um quadro duvidoso ou se o procedimento é muito extenso, pode-se recorrer também à tomografia de tórax no pré-operatório, numa análise caso a caso.”
O Vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Endoscopia Ginecológica da Febrasgo revela também suas expectativas para a área da cirurgia ginecológica nos próximos anos e afirma que a especialidade busca sempre por tratamentos cada vez menos invasivos e mais seguros para as pacientes. “Neste sentido, a tecnologia pode ser uma aliada quando bem desenvolvida, avaliada e indicada. Por outro lado, há uma preocupação permanente com custo e sustentabilidade.”, disse. Fora isso, Dr. Mariano diz que deve ser fortalecida a formação de cirurgiões ginecológicos conhecedores da sua área de atuação e das técnicas minimamente invasivas, capazes de seguir protocolos de evidência científica e de individualizar os casos na busca dos melhores resultados.
Sobre o autor:
Dr. Mariano Tamura Vieira Gomes é Vice-presidente da Comissão Nacional. Especializado em Endoscopia Ginecológica da Febrasgo.
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