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Mulheres gestantes e a vacina Covid-19.

Kristina Adams Waldorf, médica, obstetra-ginecologista da University of Washington, e recentemente co-autora de um estudo que encontrou um maior risco de hospitalização e morte entre mulheres com doença por coronavírus 2019 (COVID-19), nas que estavam grávidas, do que entre aquelas que não estavam grávidas.

Ainda assim, uma de suas pacientes, uma profissional de saúde que está grávida, disse que “não tem certeza” sobre se ela deve ou não ser vacinada. A paciente teme que a vacina da COVID-19 possa prejudicar seu feto. Não admira que ela esteja preocupada. Todos os ensaios da vacina COVID-19, como virtualmente todos os ensaios clínicos, excluíram a participação de gestantes e lactantes; no entanto, estudos de toxicidade reprodutiva e de desenvolvimento, com a vacina Moderna em ratos, não descobriram nenhum sinal preocupante.

Mas, enquanto essas pacientes grávidas questionam se devem ser vacinadas, há evidências de que elas têm um risco maior de complicações e morte por COVID-19, do que as mulheres que não estão grávidas. Alguns estudos também sugerem que, entre as pacientes grávidas com COVID-19, a gravidade da doença pode aumentar o risco de parto prematuro.

“Estamos quase certas de que as mortes maternas de COVID-19 estão sendo subestimadas nacionalmente”, disse Adams Waldorf. “Temos dados nacionais terríveis sobre isso.”

 

Por trás das manchetes

Evidências crescentes de que gestantes têm maior probabilidade de apresentar complicações com COVID-19 do que não gestantes, inclui estes 3 estudos relatados no final de janeiro:

 

  • O estudo de coorte retrospectivo de Adams Waldorf, publicado online em 19 de janeiro, focado em 240 pacientes grávidas no estado de Washington, com infecção por síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2), confirmada por teste de reação em cadeia da polimerase (PCR), entre 1º de março e 30 de junho de 2020. Das 240, 24 foram hospitalizadas devido ao COVID-19 e 3 faleceram. O risco das pacientes grávidas de morrer de COVID-19 foi 13,6 vezes maior do que as mulheres não grávidas da mesma idade.

 

  • Outro estudo de coorte retrospectivo, de 262 mulheres em idade fértil com diagnóstico de COVID-19 sintomático, descobriu que as 22 que estavam grávidas tinham um risco significativamente aumentado de doença grave.

 

  • Um estudo apresentado na recente reunião anual da Society for Maternal-Fetal Medicine, constatou que as taxas de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia sem características graves, foram significativamente maiores em pacientes grávidas com resultados de teste de PCR positivos para COVID-19, do que naquelas com resultados negativos para COVID-19.

 

Mensagens ambíguas?

Também durante o mês de janeiro, grupos médicos e de saúde pública, divulgaram uma série de declarações sobre se as gestantes deveriam ser vacinadas contra a COVID-19.

 

  • 7 de janeiro: Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, atualizaram suas diretrizes de vacinação COVID-19 para gestantes. As vacinas Pfizer-BioNTech funcionam, e os especialistas acreditam que é improvável que representem um risco específico para as mulheres que estão grávidas”, escreveram os autores da atualização. Mas os riscos reais para grávidas e seus fetos são desconhecidos porque as vacinas não foram estudadas nesta população. E portanto, o resultado final, disse o CDC, é que a vacinação “é uma escolha pessoal para as pessoas que estão grávidas”.

 

  • 8 de janeiro: Em uma recomendação sobre a vacina Pfizer-BioNTech, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou evitar a vacina para mulheres grávidas, a menos que o benefício da vacinação supere o risco potencial, como no caso de profissionais de saúde, ou aqueles que têm comorbidades relacionadas com COVID-19 grave.

 

  • 25 de janeiro: A OMS emitiu uma recomendação provisória para o uso da vacina Moderna, repetindo o mesmo conselho dado para mulheres grávidas, em sua recomendação sobre a vacina Pfizer-BioNTech.

 

  • 27 de janeiro: Respondendo às recomendações da OMS para evitar as vacinas de gestantes, a menos que elas estejam sob alto risco de exposição ou COVID-19 grave, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) e a Sociedade de Medicina Materno-Fetal (SMFM), emitiu uma declaração conjunta reafirmando que todas as mulheres grávidas devem ser capazes de decidir se querem ser vacinadas contra um vírus potencialmente fatal.

 

  • 29 de janeiro: Em um comunicado, a OMS observou que suas recomendações para imunizar mulheres grávidas com a vacina COVID-19, são “muito parecidas” às do CDC. A principal diferença, disseram oficiais da OMS, é que suas recomendações colocam mais ênfase na orientação das decisões do programa de imunização, enquanto as recomendações do CDC, enfatizam a orientação da tomada de decisão individual.

 

“As informações conflitantes fornecidas a mulheres grávidas derivam de obstáculos de longa data à inclusão de mulheres grávidas e lactantes na pesquisa clínica”, Diana Bianchi, MD, diretora do Instituto Nacional de Saúde Infantil Eunice Kennedy Shriver e Desenvolvimento Humano. Outros co-autores observaram em 10 de fevereiro, em um Ponto de Vista no JAMA, sobre a necessidade de envolver gestantes na pesquisa da vacina COVID-19.

 

Procurando Respostas

Apesar de alguma confusão e hesitação, as grávidas estão sendo vacinadas. Cerca de 300.000 profissionais de saúde, membros do grupo de maior prioridade para vacinação, estão grávidas, observou um artigo de opinião recente. Além disso, algumas dezenas de participantes do ensaio da vacina de fase 3, não sabiam que estavam grávidas quando receberam as injeções. Portanto, vários esforços estão em andamento para coletar informações sobre grávidas que recebem as vacinas contra a COVID-19.

 

Entre eles:

  • A BioNTech e a Pfizer planejam inscrever aproximadamente 4.000 mulheres grávidas em 21 centros nos EUA, em um ensaio clínico de fase 2/3 controlado por placebo de sua vacina contra COVID-19.

 

  • A Janssen Vaccines, subsidiária da Johnson & Johnson, inscreverá 824 participantes grávidas em um ensaio clínico de fase 2, controlado por placebo de sua vacina COVID-19.

 

  • O V-safe After Vaccination Health Checker do CDC, uma ferramenta baseada em smartphone que usa mensagens de texto e pesquisas na web, pergunta às participantes se elas estão grávidas.

 

  • Moderna criou um registro, para monitorar os resultados da gravidez, em mulheres que receberam a vacina COVID-19 da empresa.

 

  • O Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da University of Washington, onde Adams Waldorf faz parte do corpo docente, estabeleceu um registro envolvendo mulheres que estão grávidas, ou após o parto, ou já amamentando, ou as que estão planejando engravidar nos próximos 1 ou 2 anos.

 

  • Pregistry, uma empresa iniciante com foco na melhoria da saúde materna e fetal, está colaborando com a Harvard School of Public Health, em um registro que visa inscrever 5.000 mulheres, para avaliar os resultados obstétricos, neonatais e infantis, após a vacinação COVID-19 durante a gravidez.

 

A difícil decisão

O CDC já recomenda o recebimento das vacinas contra influenza e tétano, difteria e coqueluche durante cada gravidez. “As mulheres grávidas são muito, muito suscetíveis à gripe”, observou Adams Waldorf, que está estudando um modelo de primata não humano, para aprender sobre as diferenças entre a resposta imunológica em mulheres grávidas e não grávidas.

Quanto à vacina COVID-19, “mulheres grávidas que estão em alto risco devem fazer a escolha”, disse Adams Waldorf, “e se fosse eu, eu decidiria pelo meu batimento cardíaco”.

 

Referente ao artigo publicado em JAMA

 

Dylvardo Costa

 

 

Autor: 
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

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