Descrição Técnica
Título – O Êxtase de Santa Teresa
Artista – Gian Lorenzo Bernini
Ano – 1647-1652
Período – Barroco
Técnica – Escultura em mármore branco
Localização – Igreja de Santa Maria della Vittoria, Roma
Gian Lorenzo Bernini, filho do escultor maneirista, Pietro Bernini (1562-1629), nasceu em Nápoles-Itália, em 7/12/1598, e faleceu em Roma-Itália, em 28/11/1680, com 82 anos, deixando uma obra monumental.
Bernini, escultor, planejador urbano, arquiteto, pintor, cenógrafo e dramaturgo, atraiu a atenção Papa Paulo V, tornando-se o arquiteto da “Praça de São Pedro”. Devemos a ele o desenho da majestosa colunata com as estátuas que circundam a praça e o baldaquim do altar-mor da Basílica de São Pedro.
O Cardeal Scipio Borghese, ao patrocinar as magnificas esculturas: Enéias, Anquises e Ascanius (1619), Rapto de Proserpina (1622), David (1624) e Apollo e Daphne (1622-1625), contribuiu para a glória de Bernini. Profundamente religioso, favorito dos papas: Gregório XV, Urbano VIII e Inocêncio X, Bernini aproximou sua fé ao teatro, desenhando cenários e escrevendo peças com temas religiosos.
A tela em pauta, “O Êxtase de Santa Teresa” ou “Transverberação de Santa Teresa”, obra prima de Bernini, exemplifica a teatralidade nas obras deste artista barroco. Encomenda do Cardeal Federico Cornaro para celebrar Santa Teresa, primeira carmelita canonizada (1622), é um espetáculo teatral do “ÊXTASE”, onde escultura e arquitetura estão imbricadas no nicho que abriga a obra, dentro da capela Cornaro, na Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma.
Bernini usou todos os meios teatrais para insuflar a fé nos observadores de sua arte, que foi inspirada no relato da experiência mística de Teresa de Ávila, descrito por ela própria em sua obra: “Livro da Vida”.
“Um dia me apareceu um anjo com uma beleza nunca vista antes. Eu vi em sua mão uma longa lança de ouro, na ponta da qual parecia haver um pequeno incêndio. Parecia-me que de vez em quando entrava em meu coração e me perfurava até o fundo de minhas entranhas; quando ele o retirou, pareceu-me que também os levou embora e me deixou todo em chamas com um grande amor de Deus. A dor foi tão grande que me fez gemer; e, no entanto, a doçura dessa dor excessiva era tal que era impossível para mim querer me livrar dela. A alma fica satisfeita em tal momento apenas por Deus e apenas por ele. A dor não é física, mas espiritual, mesmo que o corpo tenha sua parte. É uma carícia de amor tão doce que é feita então entre a alma e Deus, que peço a Deus em Sua bondade que faça sentir para aqueles que podem acreditar que estou mentindo”.
A palavra êxtase deriva do grego “ekstasis”, e significa arrebatar-se, elevar-se. É um estado psíquico em que uma pessoa, tomada por um fenômeno místico, tem a sensação de sair do próprio corpo. Teresa de Ávila fala, em seu livro, desse misticismo, desse momento de entrega total a Deus.
No nicho que abriga a escultura, uma luz zenital ilumina a cena em que Santa Teresa é abatida e contorce o corpo sob um tecido pesado, e um anjo, com um tecido leve e esvoaçante, como as penas de suas asas, dirige o dardo para o seu coração. É o contraste entre o celestial e o terreno. Bernini, com o mesmo mármore, expressa diferentes texturas das roupas e tudo parece flutuar no ar. Os raios de ouro são misteriosos e uma luz vinda de uma janela escondida cai miraculosamente sobre a escultura, dando a impressão de vir do Espírito Santo, uma pomba branca, pintada no afresco do teto. Bernini, mestre dos palcos, dramatiza sua obra prima.
“O Êxtase de Santa Teresa” inspirou diversas manifestações artísticas. No livro e filme “Anjos e demônios”, 2009, do escritor Dan Brown, a escultura de Bernini foi utilizada para dar uma pista ao Professor Langdon e fazê-lo chegar ao esconderijo da confraternidade dos illuminati. Émile Zola (1840-1902) faz referência à essa escultura no seu livro: Les Trois Villes, 1898.
Bernini, com sua magnífica obra retratando a experiência mística de Santa Teresa, causou polêmica com as versões que surgiram para interpretar a santa com os olhos semicerrados, os lábios semiabertos, quase gemendo, enquanto um cupido, com um sorriso doce e angelical, abre sua roupa e flecha o seu coração.
Para descrever esta cena, as palavras mais usadas por apreciadores da arte são: prazer e orgasmo. Em fevereiro de 1964, o tema de um seminário ministrado por Jacques-Marie Lacan (1901-1981), em Paris, foi: “O prazer erótico do êxtase de Santa Teresa”. Para o psicanalista, Santa Teresa sentiu um prazer carnal. “Elle jouit, ça ne fait pas de doute” (Ela gosta, não há dúvida), frisou Lacan.
Nicolas Mattei, especialista em arte barroca, em uma conferência sobre a referida escultura de Bernini, em dezembro de 2009, declarou: “Nosso tempo, marcado por Freud e pela psicanálise, só pode ver aqui um êxtase físico. É, no entanto, um êxtase místico”.
Ignoremos, enfim, a luta entre o prazer do corpo e o prazer da alma, e nos enlevemos com essa obra prima de um dos maiores gênios da arte, Gian Lorenzo Bernini.
REFERÊNCIAS
https://www.romapravoce.com/extase-santa-teresa-bernini/
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_%C3%8Axtase_de_Santa_Teresa
https://it.wikipedia.org/wiki/Gian_Lorenzo_Bernini
https://fr.wikipedia.org/wiki/Le_Bernin
https://www.romapravoce.com/extase-santa-teresa-bernini/
http://www.protestants-aix.fr/IMG/pdf/DC_art_et_contre_reforme_Bernin_Borromini.pdf
https://fr.wikipedia.org/wiki/L%27Extase_de_sainte_Th%C3%A9r%C3%A8se
https://www.youtube.com/watch?v=RKcJvjP9zgY
Autora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica CRM 1782-CE, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.
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