No princípio, inertes, hibernados na nova semente da vida, iniciamos o caminho. Na gênese, somos levados pela frágil e inocente dependência. Horizontes se avolumam, sonhos se concretizam ou se evaporam. Na fase adulta, crescemos na experiência, nas oscilações e renovações do pensar, e na formação corporal; e em seguida, lá mais adiante, incorporamos a limitação do novo (velho) corpo e os efeitos da senescência.
Na edição do tempo vivemos a inocência, identidade, independência, amadurecimento, variadas mudanças, nova dependência, limitações e aceitação do fim. Parece que as pessoas não se preparam para ficar velhos, ou para sofrer os efeitos dos limites que o tempo impõe. Quem está preparado para parar na relva das provações e das privações, ou mesmo, no mar das conquistas e construções? Penso, desde tenra idade, que aquilo que acontece na mente humana durante as mutações do existir e próximo dos medos indesejados, e sobretudo, ante as perdas, representa um dos maiores enigmas do ser humano; talvez seja o mais nobre e misterioso momento para refletir.
Na finitude, todos teremos algo interrompido. O desprazer parece ser mais frequente que as sensações prazerosas. Santo Agostinho comentava: “prepara-te para o pior; espere o melhor e aceite o que vier”; será que estamos mais preparados para o pior, ou esperamos o melhor em intensidade maior? Ocasionalmente, vejo aposentados que ingressam no mundo da demência ou de algum sofrer diferente, quando param de forma imediata sem o adequado esperado preparo. Preocupar-se é factivel de correr paralelo ou anexo à culpa. E no fim? Estamos preparados para ele? Necessitamos aceitar a experiência e o aprendizado da vida como nossos aliados; e carecemos ser semeadores das boas virtudes que o tempo ensina. Lembremos do efeito dos afetos, e o fato das fotos e feitos, que guardamos na alma para nos transformar. Preparemo-nos para parar.
A coluna Momento de Reflexão é publicada aos sábados com a assinatura do Dr. Russen Moreira Conrado, Cirurgião Plástico e psicoterapeuta, CRM: 5255-CE – RQE Nº: 1777 – RQE Nº: 1811
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