HEMOPTISE
Fui atender uma doente na Granja Portugal
e… chocante amostra do real
o que lá vi
sem qualquer dubiedade
iluminadamente bem visível
com toda a crueza
foi a face terrível
da pobreza
e da desigualdade!
Choro,
tosse,
hemoptise da doente
e crianças a rolar
adultos a pisar e repisar
naquele sangue, quente também
de dor…
de desesperança…
de morte!
Dez pessoas num cubículo,
pálidas,
esquálidas,
a dividir o ar fétido
e a dessincronizar as vozes
das suas tosses.
Ruas de cubículos iguais
separadas por pervasiva lama estagnada
chegando-lhes aos parcos quintais
impondo um toque de podre
a tudo e a todos
naquele odre
de decomposição.
O que lá vi
foi a face terrível
da abusiva desigualdade,
a que nos acostumamos
para a qual somos
com cumplicidade
isolados, anestesiados
cegados.
O que lá vi
foi a face terrível
da legião presença
de mortos vivos
excluídos
despossuídos
invisibilizados
aos olhos mortos
da generosidade
dos vivos.
Autor:
José Henrique Leal Cardoso, MD, Ph D.
Professor Emeritus, Senior Investigator of CNPq
Membro da Academia Cearense de Medicina
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