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Crônicas de viagens: Um dia em Paris Passeio nº. 3

Église Saint-Séverin – Paris

Nossa terceira parada era a Igreja Saint-Séverin,  mas, antes, eu precisava passar em uma livraria. Saimos do Panthéon, descemos o Boulevard Saint Michel, também conhecido como Boulemiche, em direção ao rio Sena.

Construído pelo Barão de Haussmann, em 1864, no Quartier Latin, o referido boulevard ficou famoso pelos cafés literários. Hoje, está repleto de livrarias e lojas de roupas. Cruzamos a Rue des Écoles e, ao passarmos pertinho da Sorbonne, lembrei-me de maio de 1968, e do famoso enfrentamento entre a polícia e os estudantes, ali, no Boulemiche.

Seguimos em frente e paramos rapidamente ao lado do Musée Cluny (Museu Nacional da Idade Média), construído em uma mansão medieval com ruínas galo-romanas. Tantas vezes estive lá com o Rose, mas, infelizmente, por falta de tempo, não poderia mostrá-lo à Nilze.

Lembrei-me da Yone, medievalista, minha professora da PUC, que, em sua primeira visita ao museu, ficou  emocionada e não conseguiu adentrá-lo. Dentre sua bela coleção de arte e objetos medievais podemos apreciar a famosa série de seis tapeçarias, tecidas no final do século XV, chamada “Mulher com o Unicórnio”. Porém, seu ponto alto são as ruinas das termas galo-romanas, construídas em 200 a.C.

De repente, estávamos no cruzamento mais famoso do Quartier Latin. O Boulevard Saint Germain com o Boulevard Saint Michel. Atravessamos a avenida e fomos à livraria Gibert Jeune. Como a Nilze estava querendo comprar um xale para ir ao Moulin Rouge e eu querendo comprar livros para o meu neto, marcamos um reencontro, em frente à livraria, dentro de meia hora.

Com ansiedade fui até o último andar para ver os livros infantis. No meio de tantos consegui selecionar 13. Entre os do Pepê, um para a Beatriz, netinha da Ângela Vasconcelos Brito e outro para a Fátima Assunção. Como gostaria de poder ficar o resto do dia lá, lendo, manuseando e comprando livros de História! O tempo foi curto e sai quase correndo.

Difícil foi escolher um restaurante naquelas ruelas do Quartier Latin. Eram tantos… Finalmente encontramos um que nos agradou. Pedi uma sopa de cebola, que os franceses chamam de soupe à l’oignon e a Nilze, na falta de um baião de dois, pediu um spagetti.

Saímos do restaurante e fomos visitar a Igreja Saint Séverin, uma das mais antigas de Paris. Sempre que visito essa Igreja, lembro-me de minha amiga Heloisa, filha do Dr. Trajano, que me falou que o Dr. Frota, seu avô, frequentava essa Igreja, quando morou em Paris, no começo do século XX.

Apreciando o interior da Igreja, lembrei-me que lá estive, várias vezes, com o Rose e, em uma delas, ouvimos o som celestial de seu órgão, que foi importado da Alemanha pela sobrinha de rei Luís XIV.

 

Órgão da Igreja Saint Sérerin

A história da Igreja nos remete ao eremita Séverin que viveu nas margens do rio Sena, no século VI.  No pequeno oratório em que ele costumava rezar foi construída uma capela, que foi destruída pelos Vikings, no século IX, e reconstruída, no século XIII, em estilo gótico. Transcrevo, abaixo, um pequeno trecho de uma carta que o Rosemberg fez ao seu amigo Affonso Tarantino.

A Igreja St. Séverin, outra maravilha gótica esquecida, foi edificada no século XIII. A histérica sobrinha de Luís XIV (não sei por que a chamavam de Grande Mademoiselle) brigou com sua paróquia e por pirraça resolveu dotar St. Séverin com tudo que fosse novidade para maior eficiência do culto; inclusive trouxe da Alemanha notável órgão que aqui está intacto até hoje. Ao som celestial desse instrumento ouviremos ferventes oratórios. Depois, silêncio… Aí começa um sussurro, que vai se avolumando, de vozes sem modulações que no crescendo avassalam toda a nave e se eleva pela abside. É o mais autêntico canto gregoriano do século XI dos frades beneditinos da Abadia de São Pedro de Solesmes, famosos pelo cantochão que desenvolveram. Imensa paz nos invade e aí percebemos como o gregoriano e o gótico se fundem para criar fundo clima de religiosidade. É como se fossemos transportados para 800 anos atrás. A St. Sevérin é de gótico flamejante e sua maravilha está no duplo deambulatório do coro; miríades de nervuras do nartex retombam nas colunas semelhantes a palmeiras. Não há dúvida, a maior manifestação artístico-estética da idade média, é o gótico.

 

Église Saint-Séverin – Paris – interior

Apreciamos a bela Igreja e saímos em direção a nossa quarta parada, a Catedral de Notre-Dame de Paris.

 

dra. ana

 

 

Autora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica CRM 1782-CE, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.

 

 

 

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