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A servidão voluntária em La Boétie

Sejam resolutos em não servir e vocês serão livres

Etienne de La Boétie

 

Étienne de La Boétie, escritor humanista, poeta e jurista francês, nasceu em 1/11/1530, em Sarlat, uma cidade no sudeste do Périgord, e morreu com 33 anos, em 18/08/1563, em Germignan, na cidade de Taillan-Médoc, perto de Bordéus.

La Boétie era um estudante de direito, de apenas 18 anos de idade, quando, em 1548, escreveu o ensaio “Discurso da Servidão Voluntária”, ao  sentir na própria pele  a brutalidade da repressão a uma revolta anti-impostos na Guyenne.

Seus escritos refletem a angústia da elite culta da época, diante da realidade do absolutismo e questiona a legitimidade dos detentores do poder, a quem La Boétie chama de “senhores” ou “tiranos”.

Segundo La Boétie, é o próprio povo que se escraviza e se suicida quando, podendo escolher entre ser submisso ou ser livre, renuncia à liberdade e aceita o jugo,  consentindo, dessa forma, o sofrimento.

A servidão, paradoxalmente, é voluntária.

O mecanismo está na criação de uma rede de favores e concessões, em que um homem deve obediência a outro. É uma teia cuja ponta leva, em última instância, ao tirano. Ao cabo, os súditos são subjugados uns por meio dos outros. O tirano se mantém tirano, porque os próprios súditos se mantêm servis.

Somente o hábito do povo a servidão explica a dominação do tirano. O “segredo de toda dominação” é fazer com que os dominados participem de sua dominação.

Cria-se uma pirâmide de poder: o tirano domina cinco, que dominam cem, que dominam mil, assim por diante… Esta pirâmide desmorona quando os dominados deixam de se entregar de corpo e alma ao tirano. Então, o último perde todo o poder adquirido.

Antes de morrer, La Boétie deixou, em testamento, seus escritos a seu amigo Michel de Montaigne, que o homenageou em seu ensaio “Sobre a Amizade”.

Para La Boétie, a confiança na amizade só é possível quando uma pessoa conhece a integridade da outra e ambas possuem um bom caráter. Na tirania isso não é possível, pois o tirano não pode deixar-se conhecer integralmente, não possui um bom caráter, não confia em ninguém e é inconstante.

Para ele não pode haver amizade onde existe deslealdade, injustiça e crueldade. A amizade não cabe aos maus e não existe em quem exerce a função de ditador, pois a amizade pressupõe certa equidade.

 

Parce que c’était lui, parce que c’était moi” (“Porque era ele, porque era eu”)

Com esta frase, que ficou célebre, Montaigne, explicou as razões de sua amizade com Étienne de La Boétie.

Hoje, vivendo no terceiro milênio, quase 500 anos após La Boétie escrever o “Discurso da Servidão Voluntária” nós, Sapiens, nos achamos livres com nossos celulares conectados ao Mundo pela internet, sem percebermos que somos escravos do sistema e que criamos uma pós-submissão singular: somos senhores e escravos de nós mesmos.

 

REFERÊNCIAS

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/04/politica/1467642464_246482.html

http://www.justificando.com/2017/04/12/tiranos-de-nos-mesmos-servidao-voluntaria-na-era-da-sociedade-do-desempenho/

LA BOÉTIE, Étienne de. Discurso da servidão voluntária. São Paulo: Martin Claret, 2009.

https://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89tienne_de_La_Bo%C3%A9tie

 

 

dra. ana

 

 

Autora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica CRM 1782-CE, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e Conselheira do Jornal do Médico.

 

 

 

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