Na cobertura exclusiva do Jornal do Médico sobre as eleições do CREMEC 2023, entrevistamos o Dr. Ricardo Hélio, médico emergencista, (CREMEC 7521 RQE 9177) com vasta experiência na área da saúde, Mestre em Gestão em Saúde Coletiva pela UECE, concursado do Estado (SESA), atua nas emergências do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes e HGF, atua também no vale do jaguaribe e representante do CREMEC no município de Limoeiro do Norte-CE. Com um currículo sólido e amplo conhecimento do sistema de saúde, ele compartilha suas perspectivas e propostas para a nova gestão do conselho. Confira a entrevista completa do Dr. Ricardo Hélio sobre o futuro do CREMEC.
Jornal do Médico – Na sua avaliação, quais seriam os principais desafios que o Conselho Regional de Medicina enfrenta atualmente, e como você espera que os candidatos eleitos possam lidar com esses desafios para melhorar a qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população além do trabalho médico?
Dr. Ricardo Hélio – Os desafios que mais me assustam são a multiplicação nas vagas dos cursos de medicina com a tendência atual de liberação governamental cada vez maior sem a devida padronização da qualidade, tutoria e preceptoria organizada;
A entrada de profissionais formados em faculdades fora do Brasil sem um criterioso processo de revalidação do diploma médico; ao contrário do que acontece nos Estados Unidos que quando o médico vai para aquele país, o processo de revalidação do diploma médico é caprichoso, pois além de uma prova que contempla todas as fases da faculdade de medicina, desde as áreas básicas até a clínica, tem a prova de proficiência da língua e ainda uma prova prática, ou seja, você vai aos Estados Unidos atende as pessoas falando no idioma deles, decide a conduta e tudo isso é filmado para no final ir para uma comissão avaliadora que irá julgar se você está em condições ou não de exercer medicina no território americano. Então vejo que isso não poderia ser diferente, mas aqui no Brasil só se faz uma prova teórica, e temos observado com receio que o governo tende a isentar profissionais de faculdades estrangeiras da prova de revalidação do diploma médico para atuarem na atenção básica, tal como fez antes, no território brasileiro.
Destaco ainda outros desafios, como a inserção de novos profissionais no mercado, interiores adentro, sem a efetiva fiscalização e também sem o devido apoio; a queixa mais comum entre os colegas médicos que eu escuto sobre o conselho de medicina, é de que o conselho “só serve para arrecadar” e ainda “não me apoia em nada”.
Jornal do Médico – Que tipo de iniciativas e propostas você espera que os candidatos eleitos apresentem para promover melhorias na saúde, tanto para os médicos quanto para a população do Ceará?
Dr. Ricardo Hélio – Penso que as estruturas do conselho de medicina tem que ser expandidas. E eu não sou daqueles que valoriza a super regulamentação, mas os médicos precisam da presença dele para orientação e proteção das boas práticas e a população precisa ter acesso a facilidade para denúncias do mal exercício da profissão- que precisam ser sempre investigadas e apuradas.
Há tempos inclusive que nas reuniões quando eu tenho a oportunidade de me expressar em falar como representante do conselho em Limoeiro do Norte-CE, eu proponho que o conselho de medicina deveria ter uma sede física também nas microrregiões, por mais caro que seja, mas eu acredito nessa perspectiva: uma sede física em cada regional de saúde. Por exemplo, são cento e oitenta e quatro municípios no Ceará, então ter cerca de vinte pequenos escritórios instalados pelo interior, que poderiam dar mais abrangência e cobrir todo o território no interior do estado, seguindo a lógica do Plano Diretor de Regionalização do SUS, onde temos cidades-polo e cidades satélites; e não precisa ser algo caro, rebuscado, mas é preciso se fazer presente. Como exemplo, o COREN-CE (Conselho Regional de Enfermagem do Estado do Ceará) tem uma sede física na cidade de Limoeiro do Norte-CE, então da mesma forma, penso que o CREMEC poderia ter também uma sede na cidade e assim ser replicado em todo o estado.
Jornal do Médico – Como você avalia a atuação do CREMEC no meio digital?
Dr. Ricardo Hélio – Mesmo já tendo algumas iniciativas, o conselho tem que cada vez mais se aproximar do médico por meio dos canais digitais. Então a nível até de conselho federal ter aplicativos melhores, mais eficientes, rápidos e mais completos para facilitar toda a tramitação burocrática como a geração de boletos, emissão de declarações, mesmo com isso já tendo sido feito, mas que necessita em ser otimizado. O portal CFM ainda o vejo um pouco lento, um pouco rudimentar, mas que também tem que ser aprimorado. A necessidade por uma interação digital para até mesmo fazer algum tipo de reclamação, questionamento, solicitação de pareceres de forma mais ágil e prática, seria melhor para nós médicos.
Jornal do Médico – Como você avalia a questão da abertura de novos cursos de medicina, considerando a falta de poder e força do conselho para contê-la?
Dr. Ricardo Hélio – Uma vez que um conselho não está tendo força para conter a abertura de novos cursos de medicina, mas que ao menos que se faça ainda mais presente inclusive nas vésperas da formatura de cada uma das faculdades novas e antigas, para lembrar aos futuros esculápios de todas as questões legais, morais e éticas envolvidos no exercício da medicina.
Ultimamente, a cada nova geração há uma tendência na dissolução da moralidade que a gente costumava ver no passado, como se cada vez mais os limites da moralidade estão sendo ultrapassados e esmagados, que implicam em alterações de postura e comportamento; há ainda uma grande tendência a mercantilização da profissão.
Outro ponto é quanto ao rigor no exercício da especialidade, onde muito colegas se colocam como especialistas sem ter seguido o devido caminho regulamentado, que seria a prova de título e/ou a residência médica. Temos visto muitos colegas recém-formados se apresentando como especialistas em determinadas áreas, quando nem sequer tiveram tempo suficiente de fazer uma pós graduação para tal.
Jornal do Médico – E quanto a atuação do CREMEC nos últimos anos, como você avalia?
Dr. Ricardo Hélio – Eu avalio que o conselho tem sido bom, o conselho conseguiu com todos os méritos construir uma boa sede, reunir pessoas muito qualificadas na questão do julgamento ético e na busca para o melhor exercício da profissão. Porém, uma parte importante nos conselheiros é composta de pessoas de uma outra geração, que precisam ser mesclados com colegas mais jovens e antenados com os novos desafios da classe. Uma parte desses conselheiros hoje se encontra naquela fase de vida em que estão atuando bem menos na assistência em um ritmo mais brando, pela idade e fase da vida em que se encontram. Então diante disso, eu acho que é hora de fazer uma renovação, uma mescla com os mais jovens, para dar uma oxigenada nos processos de trabalho dentro do Cremec.
Em resumo eu considero que a atuação do CREMEC nos últimos anos tem sido boa, mas não a contento porque o mundo vem mudando muito rápido e os desafios mais do que cresceram, logo o conselho precisa se aprimorar constantemente nessa era mais digital, até pelo aumento do número de médicos atuantes em nosso estado.
Jornal do Médico – Por fim, quais suas expectativas com nova gestão a ser eleita no CREMEC?
Dr. Ricardo Hélio – Quero deixar claro que eu torço para que o conselho mantenha o que tem feito de bom e melhore nas suas deficiências como aquelas citadas quanto a expansão da sede física, na expansão digital, na pressão junto aos parlamentares e governantes para que não se piore na qualidade do exercício profissional. Pois parece que para alguns agentes da classe política, a sensação é de que a gente ter um número de médicos no mercado cada vez maior, é melhor para todo mundo. E quem é médico sabe que isso não é verdade, não é só jogar numericamente mais médicos e que com esses médicos terão qualidade nos serviços. Esse é o maior desafio para a nova gestão no conselho; por fim, a minha torcida é para que vença a chapa que não tenha um vínculo ideológico que venha a distorcer suas condutas ou se portar de forma de ajudar determinadas correntes ideológicas, para que se preserve a qualidade do trabalho médico.
Eleições CREMEC 2023, Cobertura Jornal do Médico
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