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Normose: a doença do século

Normose: você já parou para pensar se também foi acometido pela anomalia da normalidade? Algumas pessoas acreditam que o mundo pode estar sendo afetado por uma pandemia conhecida como normose: a obsessão doentia por ser normal.

 

O conceito é aplicado por correntes da Filosofia, Psicanálise e Psicologia para designar comportamentos socialmente encarados como normais, mas que, na realidade, são patogênicos. Segundo o psicólogo Crema, “o normótico padece da falta de empenho em fazer florescer seus dons e enterra seus talentos com medo da própria grandeza, fugindo da sua missão individual e intransferível”. As anomalias da normalidade são letais, embora executadas sem que seus agentes estejam conscientes de sua natureza patológica. Ou seja, o normótico vive de acordo com o que acredita ser um “estado normal” das coisas, seguindo expectativas e tendências sociais sem nunca questioná-las.

 

A característica comum a todas as formas de normose é seu caráter automático e inconsciente. O normótico é absorvido pelo que se pode chamar de “espírito de rebanho”. De modo geral, seres humanos, por preguiça e autoindulgência, costumam seguir o exemplo da maioria. Por conveniência ou necessidade de pertencimento, o comportamento predominante socialmente consiste em repetir discursos e narrativas impostos pela mídia, por grupos ideológicos, por religiões específicas ou por partidos políticos, por exemplo.

 

A certa altura, era normal na história da humanidade que duas pessoas lutassem até a morte para entreter a multidão, queimar mulheres acusadas de feitiçaria e fazer as pessoas trabalharem sem remuneração, com direito a castigo físico, por causa da cor da pele. Em alguns lugares, ainda é normal que homens e mulheres se casem sem amor. O que é “normal”?Trabalhar 44 horas semanais em troca de dinheiro, sem ter tempo para gastá-lo, é normal. Desmatar florestas em nome do progresso, então, é supernormal! De fato, muitas coisas no mínimo curiosas são socialmente tomadas como normais. Mas fica a questão: aquilo que é normalizado é, necessariamente, saudável? De acordo com alguns psicólogos, não.

 

A Normose, conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social, não só é patogênica em diferentes graus como leva à infelicidade, ao desenvolvimento de transtornos mentais e à perda de sabedoria e qualidade de vida. É comum justificar a manutenção de comportamentos não saudáveis por serem “normais”, coisas que “todo mundo faz”. No entanto, essa justificativa é falaciosa e acaba perpetuando normas desprovidas de qualquer fundamento. O cérebro confunde o que é familiar com o que é certo: ao ver ou sentir algo que desperta alguma memória, o cérebro define aquele “familiar” como “correto”, da mesma forma que decodifica o que é incerto e suscetível a desconfianças (ou o comportamento “anormal”).

 

Normoses gerais dizem respeito à sensação patológica do indivíduo normótico diante da coletividade. São discursos comuns que normalizam hábitos prejudiciais ao meio ambiente, às pessoas e ao planeta. Enfim fazemos parte da maior doença do século que é normose.

 

Rossana Brasil Kopf – psicanalista e advogada

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