A idealização do filho por seus pais, englobam quatro pontos: primeiro a ideia de criança de acordo com a história de vida dos pais, por conseguinte, o imaginário de características mais objetivas como o sexo e os traços, seguindo pela ideia de representação dos ideais construídos durante a vida dos pais, e por último a representação das expectativas da sociedade. Essas características vão influenciar nos vínculos que irão ser formados pelos pais e o filho, podendo ser facilitadores ou dificultadores.¹
A chegada de um filho dentro do círculo familiar, requer alguns reajustes , tanto no âmbito individual, como no âmbito do casal. Mas nem sempre os filhos vêm como idealizamos. Uma situação de saúde pode vir como malformações congênitas, asfixia neonatal com sequelas, nascimento prematuro ou diversos atrasos do neurodesenvolvimento, causando um impacto na família. A concretização do filho idealizado em um filho real realça os vínculos e o sentimento de realização do casal. No entanto, qualquer divergência que possa ocorrer entre o filho esperado e o filho real, gera uma quebra das expectativas e uma exigência aos pais de adaptação rápida e forçada para uma realidade a qual não estavam esperando ou se sentiam preparados. Nesse processo, deve ocorrer o entendimento das reais condições, a adequação da intensa ansiedade e dos mecanismos defensivos. É importante uma equipe profissional bem treinada, principalmente para orientar sobre a atenção primária desse filho real, orientar sobre a participação de grupo de apoio de pais que passam pela mesma situação e amparar qualquer tipo de reação que esses pais possam ter. Do ponto de vista dos profissionais, é importante entender certas atitudes que possam ocorrer, como a rejeição e a negação pelo diagnóstico ou condição do filho real, pois cada indivíduo tem seu tempo de processar a realidade.²
As mães conseguem superar mais rapidamente que os pais e essas mães de crianças com necessidades especiais enfrentam desafios únicos que muitas vezes são incompreendidos pela sociedade. Desde o momento em que recebem o diagnóstico, essas mães são lançadas em um mundo de incertezas, lutas e demandas constantes. Cada dia traz consigo uma nova batalha, exigindo uma dose extra de resiliência, amor e dedicação.
Um dos principais desafios é lidar com o desconhecimento e o preconceito por parte de outras pessoas. Muitas vezes, enfrentam olhares de reprovação ou comentários insensíveis, o que pode ser extremamente doloroso. A batalha pela inclusão é constante, desde garantir acesso à educação e serviços de saúde adequados até lutar contra estigmas sociais que limitam as oportunidades de seus filhos.
Além disso, as mães de crianças com necessidades especiais frequentemente enfrentam uma sobrecarga emocional e física. O cuidado exigido pode ser exaustivo, especialmente quando combinado com as demandas de trabalho, da casa e de outros membros da família. A falta de tempo para cuidar de si mesmas é uma realidade comum, o que pode levar a problemas de saúde física e mental.
A preocupação constante com o futuro de seus filhos também é um fardo pesado a carregar. Mães se perguntam se serão capazes de fornecer todo o apoio necessário ao longo da vida, se seus filhos serão capazes de se tornar independentes e como serão tratados pela sociedade quando elas não estiverem mais por perto.
A falta de recursos adequados e de apoio governamental também é um desafio significativo. Muitas famílias enfrentam dificuldades financeiras devido aos altos custos de terapias, medicamentos e equipamentos especializados. Além disso, a burocracia para obter os serviços necessários pode ser esmagadora, deixando muitas mães lutando sozinhas por soluções.
Apesar de todos esses desafios, as mães de crianças com necessidades especiais demonstram uma resiliência incrível. Elas são verdadeiras guerreiras, dedicadas a proporcionar o melhor para seus filhos, enfrentando adversidades com coragem e amor incondicional. É fundamental que a sociedade reconheça e apoie essas mães, oferecendo compreensão, solidariedade e recursos adequados para ajudá-las a superar os desafios do dia a dia.
Cuidar da saúde é fundamental para todas as mães, incluindo aquelas que têm filhos com necessidades especiais. Aqui estão algumas sugestões para ajudar as mães a cuidarem também de si mesmas:
- Estabeleça limites: Reconheça que é importante reservar um tempo para si mesma. Não se sinta culpada por tirar um tempo para cuidar de sua própria saúde e bem-estar.
- Peça ajuda: Não tenha medo de pedir ajuda. Seja de familiares, amigos, ou mesmo de grupos de apoio para pais de crianças com necessidades especiais. Ter alguém com quem compartilhar responsabilidades pode fazer toda a diferença.
- Organize sua rotina: Tente criar uma rotina que inclua momentos para o autocuidado, mesmo que sejam breves. Pode ser uma caminhada rápida, alguns minutos de meditação ou até mesmo um banho relaxante após o dia agitado.
- Priorize o sono: Embora possa ser difícil, tente priorizar o sono adequado. O descanso é essencial para sua saúde física e mental, permitindo que você tenha mais energia e disposição para enfrentar os desafios do dia a dia.
- Alimentação saudável: Faça escolhas alimentares saudáveis sempre que possível. Tente preparar refeições simples e nutritivas que possam ser congeladas e aquecidas facilmente durante a semana ocupada.
- Exercício físico: Encontre formas de incorporar atividades físicas à sua rotina, mesmo que seja apenas por alguns minutos por dia. Isso pode ser tão simples quanto uma breve sessão de alongamento ou algumas abdominais em casa.
- Cuidado com a saúde mental: Reserve tempo para cuidar de sua saúde mental. Isso pode incluir práticas como meditação, yoga, terapia ou simplesmente dedicar tempo a atividades que você gosta e que a fazem se sentir bem.
- Agende consultas médicas regulares: Não negligencie suas próprias necessidades médicas. Agende consultas regulares com seu médico de família e outros profissionais de saúde para garantir que você esteja cuidando de sua saúde de forma adequada.
- Encontre apoio emocional: Procure grupos de apoio ou comunidades online de pais de crianças com necessidades especiais. Compartilhar experiências com outras pessoas que entendem sua situação pode ser muito reconfortante e útil.
- Lembre-se de que você é importante: Por fim, lembre-se de que cuidar de si mesma não é um luxo, mas uma necessidade. Ao priorizar sua própria saúde e bem-estar, você estará em uma posição melhor para cuidar de seu filho e enfrentar os desafios que a vida apresenta.
REFERÊNCIAS
1-ZORNIG, Silvia Maria Abu-Jamra. Tornar-se pai, tornar-se mãe: o processo de construção da parentalidade. Tempo psicanalítico, v. 42, n. 2, p. 453-470, 2010.
2- NEDER, Mathilde; QUAYLE, J. O luto pelo filho idealizado: o atendimento psicológico de casais ante o diagnóstico de malformação fetal incompatível com a vida. Coletâneas AMPEPP, v. 1, p. 37-46, 1996.
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