Escrevi este texto, dinamitando ou exaltando a capacidade de pensar, quando descobri que há na mente, que sofre e se dilacera pelos arroubos vindos do luto, um seguimento resistente que insiste em não aceitar o que jamais é factível ser mudado. E nessa verdade, exaspero ou enalteço com insistência, o lado transformador do psiquismo, que deve transformar dor em amor; essa parte mirabolante e entusiasmante que gangorreia com esse outro seguimento persistente, rudimentar e retrógrado, que se mumifica no marasmo do sofrer, e não entende, bem verdadeiramente, o que é, de fato, o real viver. Para esse outro lado, explodo ou implico o meu mudar para mexer nessa parte que estaciona e que morre todo dia.
Como diz uma amiga tanatóloga, das bandas das Minas Gerais, “existe no luto um vazio, um silêncio e um mistério que não conseguimos decifrar”. Na vigência de um luto insistente, seja real para todos, ou que se passe por algo não reconhecido por alguns, é necessário viver a empatia do tentar se colocar na posição do enlutado, mesmo jamais chegando nesse espaço individualizado. Há relatos que, quanto mais desconsideramos o sofrer de alguém que vive um luto, mais o estacionamos nesse digladiante poder de persistir nesse padecer. Reforço e repito essa tríade que nos faz meditar: mistério, vazio e silêncio. De fato, esse persistente silêncio escondido, no vazio desse mistério que se cria, na perda, no luto e na intensa melancolia, é algo que precisamos decifrar e usar como nosso aliado (jamais como nosso inimigo). E ainda considerar esses rounds, como repito insistente nesse palavrear, da parte que briga e intriga (e que não encontra a saída), com a parte que acolhe e aceita (e já está a caminho de outra “v”ida).
Imagine termos a condição de explodir um luto, pela eclosão do desejo de auxiliar quem perde. Isso é uma ficção. Não existe a condição de mudar o que não pode ser mudado. No luto e na perda indesejada, que manipula muito a condição da transformação que liquidifica o pensar, repito e penso, que em muitos instantes, precisamos lutar contra uma parte do psiquismo que reluta e persiste em não querer aceitar. Isso é factível de ser muito frequente e enigmático. Freud gradua e define a mente na essência do id, ego e superego. Porque não, nós simples mortais, que desfilamos no caminho do existir, não conseguimos ou não podemos definir a mente em duas partes – a que aceita, valoriza o sorrir e quer viver no mundo da alegria; e a parte relutante, resistente e insistente que não quer reagir, e vive a fantasia de padecer e não permitir o bom agir. Ter a percepção da morte antes de morrer (“morra antes de você morrer”), talvez nos traga a verdadeira essência e razão de viver. A explosão no luto é uma ode e um louvor, à vida e ao amor.
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