Quando falamos de fragilidade emocional é bom considerar como é um conceito facilmente compreendido por muitos, mas não presente como uma categoria psicopatológica por si só. Porém, podemos considerá-lo caracterizado por intensas e frequentes flutuações de emoções que podem ocorrer na ausência ou presença de eventos agradáveis ou desagradáveis.
Reações repentinas de choro, raiva ou alterações de humor vivenciadas como excessivas em relação ao contexto ou situação desencadeadora delineiam os contornos da labilidade ou fragilidade emocional. Neste estado o indivíduo luta para tolerar pequenas doses de frustração, ansiedade, raiva que determinam uma manifestação emocional e comportamental transbordante e vivenciada subjetivamente como inadequada, estranha ou fora de controle. Pensando em alguns amigos, acho correto definir fragilidade emocional como aquela condição que torna o indivíduo incapaz de lidar com as emoções, agradáveis ou desagradáveis, que se vê enfrentando, de modo a ser forçado a evitar experiências ou perceber os acontecimentos. de sua vida como fonte de perigo ou potencialmente traumática. Algumas pessoas são incapazes de suportar uma carga de tensão sem que isso leve a um agravamento da sua saúde, a elevados níveis de angústia ou a um comportamento francamente agressivo ou autodestrutivo. Acontece que o aumento da vivência do estresse e das emoções pode levar algumas pessoas a realizar comportamentos que podem ir contra os próprios interesses: fugas, ataques físicos ou verbais, comportamentos que colocam em risco a própria segurança.
Penso naqueles que pareciam ter que juntar os cacos depois de uma briga vivida como traumatizante no local de trabalho, naqueles que tiveram que apresentar um trabalho na universidade e ficaram sem fôlego, com a voz quebrada e baixa com a ideia de ter que apresentá-lo a um público que se imagina pronto para julgar negativamente, ou àquelas situações de colapso após a perda de uma pessoa importante ou, ainda, à nova consciência de que as coisas não eram como sempre se imaginou: pense em traições, à perda de confiança em um familiar, à percepção de impotência em relação a alguns acontecimentos da vida que se espalham ao longo do tempo sem que o indivíduo se sinta mais capaz de enfrentá-los.
Muitas vezes as pessoas temem partes frágeis e delicadas e se veem comparando-as com ideais hipertróficos de força propostos pelo meio social, pela televisão, sem considerar que aspectos preciosos podem estar escondidos nas chamadas fragilidades. A evitação da chamada parte frágil impede muitas vezes que os indivíduos entrem em contacto com algo precioso e vital, pelo menos no sentido de ser algo que, goste ou não, pertence ao indivíduo que o carrega e que não pode ser rejeitado ou negado sem o consequente empobrecimento dos recursos psíquicos. A negação da fragilidade emocional geralmente não só não elimina o problema percebido subjetivamente, mas também dá origem a experiências de vergonha, ao risco de desenvolver falsas personalidades, mentirosos patológicos ou de desenvolver transtornos de personalidade de vários tipos.
Evitar a fragilidade envolve, de certa forma, evitar limites e, com isso, a tendência do indivíduo a desviar invejosamente o olhar para fora de si mesmo, em busca do que poderia ilusoriamente permitir o fortalecimento. O olhar ultrapassa os limites da esfera individual sem que a fronteira seja percebida ao mesmo tempo. Muitas vezes, a evitação da própria fragilidade impede o indivíduo de entrar em contacto com os seus afetos e sentimentos, excluindo-o, por sua vez, não só da relação consigo mesmo, mas também da relação com os outros e daí o surgimento de experiências de vazio, futilidade, superficialidade ou o desenvolvimento de transtornos de personalidade. A pessoa frágil muitas vezes tende a esconder suas vulnerabilidades, evita necessidades a ponto de negá-las até para si mesmo, o que leva à exposição a estímulos excessivos em relação à sua capacidade de tolerá-los naquele determinado momento.
Alguns consideram como é possível o surgimento da necessidade de não ter necessidades. Na verdade, a necessidade torna-se precisamente aquilo que lembra ao indivíduo que ele tem que cuidar de si mesmo e que não pode fazer tudo sozinho; isso aumenta a raiva pela impossibilidade de ser autossuficiente. Naquelas pessoas que tiveram experiências relacionais precoces que foram decepcionantes, traumatizantes ou que resultaram em feridas, a percepção de necessidades que implicam a necessidade do outro envolve também uma percepção, muitas vezes inconsciente, do perigo de que o relacionamento possa se tornar o precursor de repetição de traumas.
Rossana Köpf – psicanalista
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