fbpx

Pedaços

Quando formos estraçalhados pelas intempéries e perdas da vida necessitamos acreditar que o remendo dos nossos pedaços é factível de formar algo ainda maior do que o nosso inteiro. Ainda que naveguemos nos mares turbulentos da reconstrução e nos ares das névoas escuras do medo, temos essa condição de nos reorganizar de um modo ainda mais completo do que antes da quebradeira. Quando estamos despedaçados, os pensamentos ficam mais catastrofizados. Carecemos nos perfazer, e corrigir falhas, mesmo mergulhados nas nossas incompletudes. Vejamos e vivamos as dores das pessoas que aparentam ser muito fortes, e as “coisas novas, que também são boas”. Cansaço, perda e dor nos faz sentir em pedaços, que muitas vezes, não imaginamos conseguir reconstruir. Precisamos nos curar de nossas feridas, para não sangrar no coração dos outros. Perdão, amor, continuidade e constância são sublimes remédios amigos do tempo. Ninguém deve se considerar uma ilha; ainda mais quando estiver partido, dilacerado ou desgarrado do “continente normal do viver”. Renovemo-nos.

 

Há uma tendência, por algo que se batiza de entropismo, de permanecermos nas frestas do sofrimento, quando somos arremessados no escorregador da aflição que não queremos. A essência da vida talvez seja paciência e amor ao trabalho. Muitos atritos ou silêncios aniquilam relacionamentos e os arremessam na escuridão de epílogos indesejados, ou do fim inesperado. Os pedaços de todos nós, que ficam estacionados nos caminhos de quem convivemos mudam histórias, memórias, vitórias e desejos. Quando estivermos dilacerados ou estilhaçados pelo tempo, carecemos encontrar os baús dos tesouros que se escondem na nossa plenitude, e que demandam ser considerados, explorados, descobertos e achados. Que transbordemos além do que somos Querendo ou não, há almas mais preparadas e emocionalmente íntegras, que ficam “aparentemente” mais quebradas e desgarradas do mundo, em alguns momentos de padecer e provação.

 

Aceitemos a nossa humanidade e a condição eventual de sermos fracionados ou fatiados por coisas que não desejamos alcançar, ou por algo que nos tira da nossa valiosa zona de conforto e do nosso bem-estar. Louvemos, apreciemos e condecoremos todos os que valorizam esses pedaços. Somos humanos; carecemos viver inteiros e ser respeitados e apoiados quando estivermos enfrentando momentos de quebradeira, sofrimento, tristeza, provação e desamor. Assim também se fazem os seres e os saberes. Valorizemos sempre os indivíduos que colam nossos “pedaços”; e aprendamos com quem os desconsideram. Precisamos ajudar pessoas a serem mais inteiras, principalmente quando percebermos que elas estão muito trituradas; demos atenção e cuidados – isso é um extraordinário e supremo gesto de caridade. “Pedaços” também fala sobre isso – o louvor ao amor que usamos e aplicamos para mudar o mundo; e sobre encontrar força, dignidade e coragem dentro de nossos próprios fragmentos e ruínas.

 

 

Créditos da imagem: Freepik/wayhomestudio

Este post já foi lido63 times!

Compartilhe esse conteúdo:

WhatsApp
Telegram
Facebook

You must be logged in to post a comment Login

Acesse GRATUITO nossas revistas

Send this to a friend