O paradoxo da saúde moderna é inquietante: nunca tivemos tantos recursos tecnológicos, e ainda assim, o tempo entre médico e paciente parece cada vez mais escasso. Entre cliques, formulários e telas, os profissionais da saúde se veem imersos em tarefas burocráticas que roubam o que há de mais valioso na medicina — o contato humano.
Mas há uma virada silenciosa em curso. Automatizar não significa desumanizar. Ao contrário: integrar sistemas, usar inteligência artificial (IA) e automatizar processos pode ser o caminho mais concreto para resgatar a essência do cuidado — o olhar atento, a escuta ativa, o toque que conforta.
Nos Estados Unidos, o sistema Mount Sinai Health (NY) reduziu em 37% o tempo de preenchimento de prontuários eletrônicos ao integrar assistentes virtuais baseados em IA ao Epic, seu sistema de prontuário. Médicos passaram a ditar os dados clínicos durante a consulta, enquanto a IA transcreve, organiza e já sugere condutas baseadas em diretrizes atualizadas. O resultado? Mais tempo para escutar o paciente. Mais tempo para pensar.
No Brasil, a plataforma Laura (usada em redes como o Hospital das Clínicas de Curitiba) aplica IA para monitorar sinais vitais e alertar precocemente sobre risco de deterioração clínica. Enfermeiros e médicos deixam de “caçar” manualmente alterações em scores ou planilhas para se concentrar na ação clínica quando ela realmente importa.
Outro exemplo emblemático é o uso de chatbots e triagens inteligentes em unidades básicas de saúde e hospitais, como no Hospital Israelita Albert Einstein. Sistemas automatizados ajudam pacientes a agendar consultas, renovar receitas e esclarecer dúvidas simples. Isso desafoga call centers, reduz filas e permite que o contato humano seja reservado para quem mais precisa.
A integração entre sistemas de imagem, laboratórios e prontuário eletrônico também reduz retrabalho e tempo de espera. Quando um resultado de tomografia chega diretamente ao prontuário e já vem com uma sugestão de laudo preliminar por IA (como ocorre em hospitais da Rede Dasa), o médico ganha minutos preciosos. E minutos, em saúde, podem ser vida.
Claro, automatizar requer cuidado. Nenhum algoritmo substitui o julgamento clínico. Nenhuma máquina entende a angústia no olhar de uma mãe em um plantão noturno. Mas ao delegar à tecnologia o que é repetitivo, padronizado e administrativo, abrimos espaço para o que é essencialmente humano: o vínculo, a empatia, o cuidado.
A tecnologia, usada com propósito e critério, pode ser nossa aliada mais poderosa para resgatar a medicina que inspirou tantos de nós a vestir o jaleco pela primeira vez. Automatizar é, enfim, um ato profundamente humano.
Créditos da imagem: Freepik
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