“Ubi tu Gaius, ego Gaia”
O casamento romano, um ato solene realizado entre famílias que assim uniam suas descendências, era semelhante ao grego e compreendia três atos: traditio, deductio indomum e confarreatio.
Na véspera à noite a moça abandonava as vestes de adolescente, uma toga pretexta com uma tira de púrpura na borda e prendia a cabeleira numa redinha vermelha.
No dia vestia o traje, uma túnica sem ornado – túnica recta- amarrada na cintura por uma faixa de lã com nó duplo – “Cingulum herculeum”. Essa túnica era feita de uma peça de pano tecida em um tear à moda antiga por um tecelão que trabalhava de pé.
Por cima da túnica colocava um manto ou palla cor de açafrão, nos pés sandálias do mesmo tom e no pescoço um colar de metal. Os cabelos eram penteados de acordo com um ritual bem definido. Uma mulher os repartia com um instrumento chamado: “hasta caelibaris”.
O penteado da noiva era imutável. Seis tranças postiças eram presas em torno da testa. Um véu alaranjado e flamejante escondia o alto do rosto com uma grinalda trançada de manjedoura e verbena (na época de Augusto) e depois se usou flores de laranjeiras
Pela manhã, todos os convidados se reuniam no átrio da casa da noiva ou iam a um santuário da vizinhança e ofereciam um sacrifício aos deuses. Os adivinhos auspices consultavam as entranhas da vítima que podia ser uma ovelha, um boi ou um porco.
Após o sacrifício vinha o casamento propriamente dito com a declaração perante testemunhas do consentimento dos noivos cujas mãos uma mulher (pronuba), a que conduzia o cortejo, unia solenemente. Esse gesto “dextrarum junctio” era o momento culminante.
A noiva dizia: “Ubi tu Gaius, ego Gaia”. (onde fores Gaio, estarei contigo)
Pedia-se aos deuses que abençoasse o casal invocando a proteção de cinco divindades (quatro deusas e 1 deus). Júpiter, Juno, Vênus, Fides e Diana. Os noivos oferecem outro sacrifício e todos se reuniam em torno de uma refeição até o cair da noite.
Até esse momento a noiva não havia deixado a casa de sua infância de onde vinha tirá-la definitivamente a aparição da estrela vésper no céu. A noiva fingia temer essa separação e abrigava-se nos braços da mãe, porém os assistentes arrancavam-na do regaço materno e levavam-na em cortejo para a casa do marido.
O cortejo era alegre e flautistas abriam o desfile seguidos por cinco portadores de tochas. Ao longo do percurso o cortejo entoava canções alegres e picantes e jogavam-se nozes nas pessoas. Nozes com as quais a noiva havia brincado na infância e que era símbolo de fertilidade.
Três amigos do noivo se adiantavam e o paraninfo “o pronubus” brandia a tocha nupcial feita de espinhos entrelaçados. Os outros dois se apoderavam da jovem esposa erguiam-na nos braços e sem deixar que seus pés tocassem o solo faziam-na transpor o umbral do novo lar.
Duas criadas levavam a roca e o fuso, símbolos das virtudes e atividades domésticas. O noivo, no atrium, oferecia a noiva o fogo e a água (dois elementos vitais da existência e dos ritos sagrados).
A jovem esposa começava sua nova vida oferecendo três moedas. Uma ao marido, outra aos deuses do lar e a terceira aos lares da encruzilhada próxima. A noiva era finalmente conduzida até o leito nupcial e o marido tirava-lhe a palla e desatava-lhe o laço e os assistentes se retiravam.
Todo o ritual nupcial romano foi transmitido ao ritual nupcial cristão.
Autora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica CRM 1782-CE, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.
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