O número de patógenos que podem desencadear a próxima pandemia, cresceu para mais de 30, e agora inclui o vírus da gripe A, o vírus da dengue e o vírus da varíola, de acordo com uma lista atualizada publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta semana. Os pesquisadores dizem que a lista de “patógenos prioritários” ajudará as organizações a decidirem onde concentrar seus esforços no desenvolvimento de tratamentos, vacinas e diagnósticos.
“É muito abrangente”, diz Neelika Malavige, imunologista da Universidade de Sri Jayewardenepura, em Colombo, Sri Lanka, que esteve envolvida no estudo. Ela estuda a família Flaviviridae de vírus, que inclui o vírus que causa a dengue.
Os patógenos prioritários, publicados em um relatório em 30 de julho, foram selecionados por seu potencial para causar uma emergência global de saúde pública em pessoas, como uma pandemia. Isso foi com base em evidências que mostram que os patógenos eram altamente transmissíveis e virulentos, e que havia acesso limitado a vacinas e tratamentos. Os dois esforços anteriores da OMS, em 2017 e 2018, identificaram cerca de uma dúzia de patógenos prioritários.
“O processo de priorização ajuda a identificar lacunas críticas de conhecimento que precisam ser abordadas com urgência e garantir o uso eficiente dos recursos”, diz Ana Maria Henao Restrepo, que lidera a equipe de P&D Blueprint for Epidemics da OMS, que preparou o relatório.
É importante revisitar regularmente essas listas, para explicar as principais mudanças globais no desmatamento das mudanças climáticas, na urbanização, nas viagens internacionais e muito mais, diz Malavige. O último esforço identificou patógenos de risco em famílias inteiras de vírus e bactérias, o que ampliou seu escopo.
Mpox e varíola
Mais de 200 cientistas passaram cerca de dois anos avaliando evidências em 1.652 espécies de patógenos, principalmente vírus e algumas bactérias, para decidir quais incluir na lista.
Entre os mais de 30 patógenos prioritários estão o grupo de coronavírus conhecido como Sarbecovirus, que inclui o SARS-CoV-2, o vírus que causou a pandemia global de COVID-19, e o Merbecovirus, que inclui o vírus que causa a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS). As listas anteriores incluíam os vírus específicos que causam síndrome respiratória aguda grave (SARS) e MERS, mas não os subgêneros inteiros a que pertencem.
Outras adições à lista incluem o vírus da varíola, que causou um surto Mpox global em 2022, e continua a se espalhar em bolsões da África Central. O vírus é considerado uma prioridade, assim como é relativo, o vírus da varíola, que causa a varíola, apesar de ter sido erradicada em 1980. Isso porque, devido às pessoas que não são mais vacinadas rotineiramente contra o vírus e, portanto, não se tornam imune a ele, uma liberação não planejada dele poderia causar uma pandemia. O vírus poderia ser usado por terroristas como “uma arma biológica”, diz Malavige.
Meia dúzia de vírus influenza A também estão agora na lista, incluindo o subtipo H5, que provocou um surto de gado nos Estados Unidos. Entre as cinco bactérias, todas recém-adiadas, estão cepas que causam cólera, peste, disenteria, diarreia e pneumonia.
Dois vírus de roedores também foram adicionados, porque saltaram para as pessoas, com transmissão esporádica de humano para humano. A mudança climática e o aumento da urbanização, podem aumentar o risco de esses vírus se transmitirem às pessoas, de acordo com o relatório. O vírus Nipah, transmitido por morcegos, permanece na lista porque é mortal e altamente transmissível em animais, e atualmente não há terapias para se proteger dele.
Muitos dos patógenos prioritários estão atualmente confinados a regiões específicas, mas têm o potencial de se espalhar globalmente, diz Naomi Forrester-Soto, virologista do Instituto Pirbright, no Reino Unido, que também contribuiu para a análise. Ela estuda a família Togaviridae, que inclui o vírus que causa Chikungunya. “Não há realmente um lugar que esteja mais em risco”, diz ela.
Patógenos de “protótipo”
Além da lista de patógenos prioritários, os pesquisadores também criaram uma lista separada de “patógenos de protótipos”, que poderiam atuar como espécie modelo para estudos de ciências básicas, e o desenvolvimento de terapias e vacinas. “Isso pode encorajar mais pesquisas”, sobre vírus e bactérias menos estudados, diz Forrester-Soto.
Por exemplo, antes da pandemia de COVID-19, não havia vacinas humanas disponíveis para nenhum dos coronavírus, diz Malik Peiris, virologista da Universidade de Hong Kong, que fazia parte do grupo de pesquisa Coronaviridae. O desenvolvimento de vacinas para um membro da família trará confiança para a comunidade científica, de que está mais bem posicionada para lidar com uma grande emergência de saúde pública para esses vírus, diz ele. Isso também se aplica aos tratamentos, diz ele, porque “muitos antivirais funcionam em todo um grupo de vírus”.
Forrester-Soto diz que a lista de patógenos é razoável, dado o que os pesquisadores sabem sobre os vírus. Mas “alguns patógenos da lista podem nunca causar uma epidemia, e um que não pensamos pode ser importante no futuro”, diz ela. “Quase nunca previmos o próximo patógeno a emergir.”
Referente ao artigo publicado em Nature
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