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As pessoas tiram a própria vida, texto por Dr. Régis Barros.

Sempre que alguém famoso comete um suicídio, reportagens e reflexões surgem com o seguinte questionamento: como foi possível? A verdade é dura e não permite negações por mais que machuque. Precisamos entender que as pessoas, escolhem não mais viver e se matam.
Se isso é um fato, precisamos, mais do que nunca, conversar sobre isso. Assim, teremos as melhores formas de ajudar as pessoas que, em sofrimento, pensarão e executarão um suicídio. Por uma grave carência desse entendimento, muitos morrem precocemente. A sociedade e o Estado não sabem o que fazer. Com isso, a melhor alternativa – a prevenção do suicídio – não é adotada. O resultado é triste e as estatísticas também. Todos, que me leem até aqui, já tiveram alguém próximo que cometeu suicídio. Ficamos espantados e atônitos. De fato, queremos não crer, sobretudo, se o suicida tiver algum vínculo conosco. Seguimos a vida e não paramos para pensar no que aconteceu.
Viver é uma tarefa complexa. Somos tocados recorrentemente pela vida. Choramos e sangramos. Às vezes, damos conta. Outras vezes não e, por isso, sucumbimos. Nessa dança de resiliência, deprimimos. Brota e cresce um sofrimento emocional que é capaz de nos contaminar por completo. O que era colorido fica preto. O prazer vira angústia. Quem vive isso não pode, em hipótese alguma, ser alcunhado ou rotulado como um fraco. Nesse momento, o que mantém ainda a vida é a ambivalência da certeza/incerteza entre o viver e o se matar. Se a resultante for para um lado, a vida continua, porém, se for para o outro, a morte prevalecerá. É preciso agir nessa ambivalência, criando instrumentos de proteção. Criando uma sociedade preparada para escutar e acolher os que padecem de um sofrimento mental. Criando uma vida de relações onde as pessoas percebam mais as outras e troquem mais afetos. Criando um olhar mais humano à doença mental. Mais redes eficientes de tratamento em saúde mental de modo que o potencial suicida seja percebido e tratado.
Ou melhoramos a nossa escuta individual, coletiva e social ou muitos, que poderiam ser salvos, ainda cometerão suicídio. Os números espantam e vão muito além dos famosos dos noticiários. Morre-se muito! Morre-se cedo! O suicídio é assim: a morte escolhida por não se ter escolha diante do terror de uma grave dor emocional e mental.
 

Dr. Régis Barros é Médico Psiquiatra, Psicoterapeuta e Perito do TJDFT. Também é Professor de ética do curso de medicina (UniCeub/DF) e Mestre e doutor em saúde mental pela FMRP/USP.

 
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