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Inovação e humanização nos cuidados da criança

Muitos profissionais de saúde se destacam em fazer a diferença para as crianças que estão apavoradas quando serão submetidas a algum procedimento. Não importa o tamanho do procedimento, durante o estresse daquilo que o é desconhecido, as crianças, principalmente abaixo de 6 anos, fazem em fenômenos de catastrofização. Para as crianças com comportamento ansioso, com familiares inseguros, aliados a falta de informação, terão um grande percalço para procedimento médicos simples e indolores ou para procedimentos invasivos e dolorosos. Para os procedimentos diagnósticos que necessitem de imobilidade da criança ou procedimentos cirúrgicos tem-se a figura do anestesiologista.

No interior do Estado de Minas Gerais nasceu e na cidade de Campinas no estado de São Paulo se fixou um talentoso filósofo e escritor que possui um filho anestesiologista. Estes protagonistas são Rubem Alves e seu filho, o médico anestesiologista Sergio Nopper Alves. No seu conto O Anestesista, Rubens Alves cita:

Ele me contou de uma jovem que estava apavorada. O medo era enorme. Não conseguia se tranquilizar. Esgotados todos os recursos maternais, veio-lhe uma iluminação mística. “Você acredita em anjo da guarda?”, ele perguntou para a menina. A menina respondeu: “Acredito.” E ele concluiu: “Pois amanhã eu serei o anjo da guarda tomando conta do seu sono”. Ela ficou tranquila.

 

E esta é a função do anestesiologista pediátrico, dar conforto, atenção e tranquilidade a todos. Além de possibilitar que algo bom aconteça com alguém, sendo uma cirurgia, um exame, algum procedimento que dele necessite seus cuidados.

Retornando ao assunto de conforto à criança, a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), que auxilia todo o Brasil no combate ao câncer infantil, possui um grande aliado para doações financeiras e de material de direitos intelectuais. Os profissionais envolvidos no designe da Turma da Mônica realizaram um belo trabalho nas campanhas de doações envolvendo os personagens da Turma da Mônica e nas figuras de avaliação da dor e outros sintomas relacionados para o público infantil. Estas e outras informações podem ser acessadas no protejo Dodói.

Figura da escala de dor da Turma da Mônica.

Figura Cartões de diagnóstico: A criança escolhe uma ilustração que simboliza o seu estado. São ilustrações com a Turma da Mônica, representando sentimentos e sensações como formigamento, temperatura alta, falta de ar, etc., que buscam subsidiar o médico e a equipe cuidadora de informações.

No nosso meio os profissionais cearenses também tornam-se protagonistas para o cuidado infantil.

Em entrevista cito alguns nomes e suas experiências.

– Dr Magno Erick Peixoto, médico otorrinolaringologista da Clínica Otos.

Em sua entrevista ele disse que: “sempre tive muito interesse pelo desejo, coisa de lápis, papel e a imaginação. Vez por outra, estava rabiscando. Ao mesmo tempo tinha que dedicar muito tempo ao estudos, daí esta prática foi ficando de lado. Como se sabe otorrino e pediatria andam lado a lado, aqui nesta unidade e nas outras unidade da Clínica Otos, temos sempre as duas especialidades juntas. Entre um coisa e outra, os amigos sempre pediam para fazer alguma gravura, coisas do tipo. Algumas anos atrás, fiz esta para um hospital infantil:

 

Figura de incentivo para os profissionais e os acompanhantes sempre lavarem as mãos, campanha contra a infecção hospitalar.

 

Aqui, na clínica Otos, a humanização da criança é prioridade. A administração sempre faz reciclagem para todos que trabalham com crianças e existe um espaço especial como a brinquedoteca. Nas reuniões com meus sócios e administrativo, ficou para mim o tema infantil de nossas clínicas. Daí pensei, qual o momento que as crianças reclamam mais? Não tive dúvida! é na hora o exame; Mesmo com todo jeitinho, é um choro danado. Imaginei um kit completo: antes da consulta, realizar um teatrinho com eles, mostrar no boneco, exemplificar e tirar o medo. Não era muito diferente das brincadeiras com meu primeiro filho, Mateus, na época. Foram se juntando tudo, os bonecos que eram o médico, a menina e o menino, a cadeira de exames. E a inspiração do Dr. Otos foi meu primeiro filho Mateus.

Coloquei o Dr. Otos como personagem principal para o material didático e de ludoterapia. Temos confeccionado a maquete com os bonecos, cadeira de exames e material do otorrino. No final dos exames, tipo rinoscopia ou nasofibrocopia, a criança receber seu certificado de coragem.”

 

Figura: Dr Otos e certificado de coragem.

 

– Dr Filipe Lino Bastos Vasconcelos, médico anestesiologista do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC).

Segundo Dr Filipe Lino a ideia de utilizar o óculos 3D veio dos filhos dele, os meninos amam estas novas tecnologias, como um bom pai, teve que se atualizar também. Ele pesquisou nos artigos científicos esta ferramenta que vem sendo utilizada na anestesia para a realização de exames de imagem como tomografia computadorizada de tórax e abdómen, e ultrassonografia. A realidade 3D, que consiste em uso de óculos de realidade virtual conectado ao celular dos próprios pacientes, seus responsáveis, ou do médico que acompanha a criança. Dr Filipe esta tecnologia no setor de imagens do HUWC. Ele afirma observar melhores resultados quando a técnica é utilizada em procedimentos com crianças da faixa etária entre 6 a 10 anos. Na grande maioria dos pacientes nesta faixa etária, a ferramenta torna-se tão interessante que nem necessita utilizar sedação nestas crianças. O mesmo ainda relata a utilização de vídeos em realidade 3D que estimulam o cérebro a liberação de adrenalina motivada pelas sensações radicais como numa volta de montanha-russa, neste momento é possível a diminuição da percepção dolorosa durante a punção venosa.

Ele cita com muito orgulho que utiliza o equipamento dos próprios filhos, “é como brincar como nossas crianças… Infelizmente, nós, os profissionais de saúde, trabalhamos muito, mal temos tempo para ficar com nossos próprios filhos. Tomara que as pessoas que cuidam dos nossos tenham tanto carinho como que temos pelos filhos dos outros…”

Figura de óculos 3D de realidade virtual.

 

– Senhor Tarcílio Alcântara, funcionário do Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO). O famoso Foguinho, o nome como ele é conhecido.

O CRIO vem se tornando um centro de referência para radioterapia pediátrica no Ceará. Dr Igor Veras é o médico especialista em radioterapia responsável, ele e sua equipe vêm realizando um trabalho primoroso junto as crianças com câncer. As crianças menores necessitaram de sedação realizadas pelos anestesistas do serviço, e as crianças maiores na maioria das vezes não necessitam de qualquer sedação. Para todas as crianças, a equipe de enfermagem e de psicologia fazem de acolhimento e de humanização, explicando para as crianças e os familiares o passo a passo de seu tratamento.  Um grande destaque da equipe é um funcionário Foguinho, um artista nato. Ele confecciona capacetes com imagens de super-heróis e outros personagens infantis, e as maquetes da sala de radioterapia. O protótipo é apresentado às crianças e elas podem escolher seus personagens favoritos. Com todo o processo realizado pela equipe, as crianças perdem o medo do procedimento que realizarão e sentem-se motivadas, pois sabem que ao término do tratamento poderão levar seus capacetes para casa. O Foguinho fala: “Faço isso há dez anos; ver o sorriso, a felicidade e de certa forma poder impactar na vida das crianças não tem preço”.

Figuras dos capacetes dos personagens favoritos das crianças e maquete com boneco realizando radioterapia.

 

– Dr Rosa Maria Benjamim de Oliveira, médica anestesiologista do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS)

Esta médica é apaixonada pelo universo infantil, sempre buscou estratégias para transformar o centro cirúrgico em um ambiente lúdico e agradável para as crianças e é também uma profissional que tem desenvolvido seu trabalho de forma exemplar. Ao se deparar em uma situação com seu neto João Lucas, que precisou passar por um pequeno procedimento cirúrgico, sentiu-se motivada a criar uma história infantil e escrevê-la em um livro intitulado As Aventuras Do Pequeno Super Feijão Num Hospital, tratando de forma lúdica o momento perioperatório. Dessa forma, as crianças podem encarar o momento de doença como um conto de fadas, sem medo e com uma linguagem facilmente compreendida por elas. Gentilmente, a Dra rosa disponibilizou algumas páginas de seu livro para acesso do público clicando aqui.

A mesma aconselha os pais e profissionais de saúdes responsáveis pelas crianças adentrar no universo lúdico. Segundo ela, as crianças estão no mundo para brincar, é melhor deixar as preocupações dos adultos para o futuro. Ela cita do muita satisfação que este livro ajudou muitos colegas de especialidade a explicar para os próprios filhos o que é a profissão deles. Alguns exemplares estão na sala de pré-operatório do HIAS, lá existem livros, maquetes, brinquedos educativos. No seu livro especificamente, ela dá uma dica de o que irá acontecer durante a anestesia, relata a figura da máscara que levará a crianças a terra dos sonhos. Nada mais é do a técnica de anestesia inalatória, uma vez a crença preparada mais fácil será a aceitação da técnica anestésica. Esta técnica é considerada padrão para as cirurgias pediátricas eletivas.

Figura de capa do livro de autoria da Dr Rosa Benjamin, ou Dr rosinha, como ela gosta de ser chamada.

 

– Dr Washington Aspilicueta Pinto Filho, médico anestesiologista, clínico de dor e paliativista do HIAS e Centro Pediátrico do Câncer.

A anestesiologia vem assumindo uma importância cada vez maior entre as especialidades médicas, e o que mais chama atenção na sua rotina é a polivalência. O anestesiologista é um médico que cuida de problemas de saúde na unidade cirúrgica de crianças recém-nascidas a idosos centenários. No entanto existem anestesiologistas que se dedicam quase que exclusivamente a pediatria. Em 2006 Dr Washington iniciou seus trabalhos na anestesia pediátrica, ele cita que é necessário melhorar a rotina hospitalar para que as crianças atendidas tivessem maior segurança. Durante um atendimento com uma criança autista, ele sentiu a necessidade de se estabelecer melhor conduta específica para aqueles pacientes, todos necessitariam trabalhar em conjunto. Naquele momento a criança estava extremamente agitada, impossível de alguém estranho se aproximar, era necessário de uma programação prévia. Era algo para ser organizado em ambulatório, ação conjunta entre cirurgia, anestesia e especialidade pediátrica. Como Dr Washington relata “as nossas motivações são baseadas no problema que lhe incomoda, é como uma pedrinha no nosso sapato, só para de lhe incomodar quando você retira”.

Baseado nisso e na necessidade do HIAS, de todos falar a mesma língua, realizar rotinas assertivas, o Dr Washington elaborou juntamente com toda equipe do HIAS, o livro Rotinas Pré-operatórias em Pediatria. E, segundo ele, após a criação do livro houve uma melhora significativa no atendimento multiprofissional. Como visto nos enunciados dos capítulos, praticamente todas as especialidades da pediatria contribuíram para estabelecer metas de cuidados peri-operatórios. De condutas de crianças com infecção de vias aéreas a crianças com distúrbios de agitação psicomotoras como no autismo. A informação é uma arma valiosa para progredir nos cuidados das nossas crianças.

 

Capa do livro Rotinas Pré-operatórias em Pediatria. Link para acesso.

Com a evolução da medicina, as práticas médicas precisam ser constantemente modificadas e readequadas a fim de promover resultados satisfatórios de acordo com cada área de atuação. Nos pacientes pediátricos a humanização do cuidado se torna um desafio ainda maior devido as peculiaridades desse público. Ferramentas lúdicas, literárias e tecnológicas têm sido utilizadas como técnicas potencialmente capazes de tornar a prática da anestesia nesses pacientes mais humanizada, diminuindo o estresse e reduzindo a possibilidade de traumas futuros. Nesse contexto, o anestesiologista juntamente com toda a equipe compõe o time para promover o melhor cuidado e conforto para as crianças e seus familiares.

 

Sobre o autor:

Dr Lucas Giannini – Médico Residente de anestesiologia do Hospital Universitário Walter Cantídio

 

 

 

 

 

 

 

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