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Vencer o preconceito é desafio para tratamento de doenças mentais

 

Homem não chora! A frase até hoje muito ouvida pelos meninos reflete a busca por um ideal de masculinidade infalível, invulnerável, em que só a força importa e as questões emocionais são consideradas menos importantes. Já há um bom tempo essa cultura social de que aos homens não é permitido “fraquejar” tem se mostrado equivocada e até mesmo prejudicial a saúde masculina. Entre os homens, apesar de um aumento no nível de conscientização, ainda hoje é grande a resistência em reconhecer problemas e buscar auxílio médico. Uma pesquisa realizada em 2016, pelo Centro de Referência da Saúde do Homem de São Paulo, a mais recente sobre o tema, aponta que 70% dos homens brasileiros procuram o médico por forte influência da esposa ou dos filhos.

 

Essa tendência é ainda mais acentuada quando o assunto é saúde mental. Por isso, quebrar esse tabu masculino é um dos objetivos da campanha Janeiro Branco no Brasil que busca sensibilizar a sociedade sobre a importância de se prevenir e tratar transtornos mentais. A psicóloga Heloísa da Silva Pinto, coordenadora do projeto “Saúde Mental na Construção” do Seconci Goiás – Serviço Social da Indústria da Construção, alerta para a necessidade de se combater o preconceito, que ainda existe em todas as classes sociais quanto à realização de um tratamento psicológico.

 

Segundo Heloísa, os homens apresentam grande dificuldade para expressar seus sentimentos. A especialista do Seconci Goiás afirma que há um imaginário coletivo, construído em torno do gênero masculino, de que homens devem sempre se mostrar fortes física e psicologicamente. Ela diz que nos últimos anos essa cultura tem melhorado, mas percebe que ainda hoje muitos homens sofrem com sérios problemas psicológicos, mas são incapazes de buscar ajuda, por medo de que isso afete sua masculinidade. “Muitos homens com doenças mentais, como ansiedade e depressão, têm sofrido sozinhos sem nenhuma ajuda ou tratamento. Muitos qualificam o problema como uma ‘frescura’, ou atribuem à falta de Deus, falta de uma religião, falta do que fazer, entre outros, mas o fato é que o preconceito é um dos principais desafios a ser enfrentado na promoção da saúde mental”, enfatiza.

 

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%. Atualmente, 4,4% da população da mundial sofre com a doença, o que representa cerca de a 322 milhões de indivíduos. No Brasil, 5,8% dos habitantes sofrem com esse problema, a maior taxa do continente latino-americano. A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, contribui de forma importante para a carga global de doenças e pode levar, nos casos mais graves, ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano.

 

Projeto

A psicóloga ressalta que o projeto “Saúde Mental na Construção” tem representado a quebra de muitos tabus sobre o assunto, especialmente nos canteiros de obras, um ambiente predominantemente masculino. Segundo ela, só no ano de 2018, foram realizados 4.234 atendimentos por meio do projeto “Saúde Mental na Construção”, distribuídos em 28 palestras e 136 encontros promovidos em seis obras das três empresas associadas ao Seconci Goiás e que implementaram o projeto.

 

A técnica em segurança do trabalho Zilair Dutra da Silva Reis acredita na importância do combate ao preconceito e promoção da saúde mental, dentro do ambiente de trabalho inclusive. Ela lembra que na empresa em que trabalha já ocorreram casos de profissionais que tiveram depressão e outros problemas de saúde mental por conta de diversos fatores e isso despertou seu interesse e o da empresa em oferecer apoio ao tratamento. Ela explica que, apesar da organização prover contínuas ações de prevenção à saúde física dos colaboradores nas obras, não havia, na época, uma ação específica para promoção da saúde mental. Assim, em comum acordo, gestores de segurança do trabalho e a direção da empresa buscaram apoio do Seconci  Goiás, dando origem ao  projeto “Saúde Mental na Construção”.

 

O projeto foi idealizado pela Pontal Engenharia, tendo como responsável o diretor executivo da empresa, Ivo Corrêa Faria, que destaca a relevância da iniciativa pioneira no segmento em Goiânia, com foco na promoção do bem-estar e qualidade de vida para os colaboradores. Alinhado à visão da organização, o projeto hoje conta o slogan “Mentes saudáveis constroem felicidade” nos canteiros de obras da Pontal. O presidente do Seconci Goiás, Célio Eustáquio de Moura, reforça a importância da iniciativa. Para ele, “promover o bem-estar do trabalhador da construção é considerar sua saúde física e também mental, já que o emocional influencia muito sua rotina, comportamento e escolhas”, pontuou.

 

A psicóloga Heloísa da Silva Pinto relata que o projeto “Saúde Mental na Construção” foi iniciado em 2017 com palestras informativas, depois começou a aumentar o número de pessoas que procuravam o Seconci ou os técnicos de segurança para pedir orientação. Os colaboradores que buscam ajuda são encaminhados para uma avaliação pela equipe de psicologia do Seconci Goiás, que faz uma avaliação inicial e encaminha para o tratamento multidisciplinar, dependendo de cada caso. O profissional que participa não paga nada, e caso seja necessário realizar alguma consulta externa, conta com convênio entre as construtoras e o Seconci, o que ajuda a minimizar os custos.



“Como técnica em segurança, escuto muito os trabalhadores, mas por não ser especialista não sabemos ao certo quando sugerir o tratamento. Com o apoio do Seconci isso ficou muito mais assertivo e produziu resultados maravilhosos. Até a questão do preconceito e das brincadeiras menosprezando pessoas que tenham problemas psicológicos diminuíram. Hoje os colaboradores estão mais conscientes”, conta Zilair.



Quebrando tabu

O servente João (nome fictício), de 24 anos, resolveu deixar o preconceito de lado e, por meio do projeto “Saúde Mental na Construção”, conseguiu tratar um sério quadro de depressão, gerado por uma série de problemas familiares. “Eu tinha medo de cair no escárnio, no ridículo, pois antes do projeto tinham muitas brincadeiras que não me agradavam na obra”, relembra o operário ao falar do tabu que ainda existe nos dias de hoje para se tratar de assuntos psicológicos e emocionais, em especial entre os homens.

 

Ele conta que decidiu procurar ajuda porque percebeu que a situação já estava afetando, não só sua vida pessoal, mas profissional também. “Um certo dia tive uma crise no meio do canteiro de obra, comecei a chorar, com muita angústia e tristeza profunda. Mas fui surpreendido pela compreensão e apoio do meu encarregado e outros colegas. Eles conversaram comigo e me acompanharam até a técnica de segurança, que me orientou e encaminhou à psicóloga do Seconci. Comecei meu tratamento e também fui ao psiquiatra que me ajudou com remédios contra a depressão e ansiedade.  Já venci o período dos remédios e continuo tendo o apoio da psicóloga do projeto, que vem na obra de 15 em 15 dias” conta o colaborador, que diz já sentir uma melhora 95% com 18 meses de tratamento. “Me sinto mais feliz, com mais ânimo, com mais vontade de trabalhar”, revela.


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