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Apreciação Crítica da obra de Jacques-Louis David (1748 – 1825) – A Morte de Marat (1793)

Descrição Técnica

Autor – Jacques-Louis David

Título – A morte de Marat

Data – 1793

Técnica – óleo sobre tela

Dimensões – 165cm x 128cm

Movimento – Naturalismo, Neoclassicismo

Localização – Museus Reais de Belas Artes da Bélgica-Bruxelas.

 

Jacques-Louis David, pintor francês, considerado o líder do movimento neoclássico, nasceu em Paris, em 1748, e morreu em Bruxelas, em 1825, com 77 anos. Rompeu com o estilo galante e libertino da pintura rococó do século XVIII e reivindicou a herança do classicismo de Nicolas Poussin e dos ideais estéticos gregos e romanos, após uma  estadia, de 1774 a 1780, em Roma. Em 1784, com sua tela “O juramento dos Horácios”, David ficou famoso. Durante a Revolução Francesa (1789-1799), engajou-se na política, tornou-se membro da Convenção, apoiou Robespierre e organizou vários festivais revolucionários. Quando Napoleão Bonaparte (1769-1821) chegou ao poder, David tornou-se seu pintor oficial e produziu sua maior composição, «Le Sacre de Napoléon Ier »  (A Coroação de Napoleão).  Sob a Restauração, David foi exilado por seu passado como um revolucionário regicida e um artista imperial. Refugiou-se em Bruxelas e continuou a sua atividade artística até à sua morte, em 1825.

Em 13 de julho de 1793, o revolucionário Jean-Paul Marat (1743 – 1793) foi assassinado. À pedido da Convenção, David pintou uma de suas telas mais famosas e emblemáticas, expondo Marat agonizando na banheira. Ele também cuidou do funeral, precedido de um cotejo fúnebre, no dia 16 de julho, na igreja dos Cordeliers. Em outubro de 1793, David anunciou a conclusão de sua pintura, aqui retratada.

Marat, apelidado de “amigo do povo” (l’ami du peuple), médico, filósofo, cientista e revolucionário radical, era portador de uma doença de pele, provavelmente uma dermatite seborreica, que o obrigava a ficar horas a fio dentro de uma banheira de cobre, tomando banhos curativos de enxofre. Desta banheira, equipada com uma escrivaninha, Marat, com a cabeça envolvida em um lenço embebido em vinagre para aliviar as enxaquecas,  enviava cartas à Convenção. No calor da Revolução Francesa, Marat representava os Montgnards, grupo político contrário aos girondinos. Charlotte Corday (1768-1793), simpatizante do grupo dos girondinos, adentrou os aposentos de Marat, com o pretexto de entregar-lhe uma lista de supostos traidores da Revolução, e cravou-lhe uma faca no peito, assassinando-o, quando ele estava em sua banheira. Sem mostrar arrependimento, Corday foi julgada e guilhotinada quatro dias depois.

A tela, ora apreciada, mostra o corpo de Marat agonizando em sua banheira, ressaltada em um fundo marrom-esverdeado. A cabeça, inclinada para o lado, está envolta em um turbante branco. Sua mão direita pendurada para baixo segura uma pena. O braço esquerdo repousa na borda de uma prancha coberta com um pano verde e a mão segura uma folha manuscrita com o texto: « Du 13 juillet 1793. Marie anne Charlotte Corday au citoyen Marat. Il suffit que je sois bien malheureuse pour avoir droit à votre bienveillance. » (13 de julho de 1793. Marie Anne Charlotte Corday para o cidadão Marat. É o suficiente que estou muito infeliz por ter direito à sua benevolência).

O corpo está coberto por um lençol branco manchado de sangue. Há sangue na banheira. Abandonada no chão, uma faca com cabo branco manchada de sangue. À direita há um bloco de madeira com um tinteiro, uma pena  e outra folha de papel manuscrita com o texto: « Vous donnerez cet assignat à cette mère de 5 enfants et dont le mari est mort pour la défense de la patrie » (Você dará este assignat a esta mãe de 5 filhos, cujo marido morreu pela defesa da pátria). Na parte inferior do bloco, a obra está assinada: « À Marat, David. — L’an deux. » (À Marat, David. – Ano dois).

Há quatro cópias desta tela nos museus: Louvre-Paris, Museu de Belas Artes de Dijon, Museu de Belas Artes de Reims e Palácio de Versalhes. Para David, esta pintura idealizada, guardando semelhança com a imagem de Cristo morto na “Pietà” de Michelangelo e no “Sepultamento de Cristo” de Caravaggio, foi concebida como um monumento para o amigo Marat, que foi herói e mártir da revolução.

 

Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg

Fortaleza, 27/08/2020

 

dra. ana

 

 

Coluna Medicina, Cultura e Arte
Autora e Coordenadora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.

 

 

 

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