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Apreciação Crítica da obra de Jules Adler (1865-1952) – Transfusão de sangue de cabra (1892)

Descrição Técnica

Autor – Jules Adler (1865-1952)

Título – Transfusão de sangue de cabra (Transfusion de sang de chèvre)

Data – 1892

Técnica – óleo sobre tela

Dimensões – 129,5 cm x 195,6 cm

Movimento – Naturalismo

Localização – Museu de História e da Medicina (Paris) (Musée d’Histoire de la Médecine)

 

Jules Adler, judeu, pintor naturalista francês, apelidado de “o pintor dos humildes”, nasceu em Luxeuil-les-Bains (Haute-Saône), em 1865, e morreu, em 1952, com 87 anos, em Norgent-sur-Marne. Mudou-se com a família para Paris, quando tinha 17 anos. Em 1884, depois de uma tentativa sem sucesso, entrou para L’École Beaux-Arts de Paris (Escola de Belas Artes de Paris).

 Em 1888, estreou no Salon de peinture et de sculpture (Salão de pintura e escultura) com sua pintura Misère (Miséria). Adler participou de inúmeras exposições. Várias vezes medalhista, ele ganhou uma medalha de ouro com seu quadro “Joies populaires” (Alegrias Populares). No Salão de 1900, exibiu uma de suas pinturas mais famosas, La Grève au Creusot (A greve em Creusot), que foi um enorme sucesso.

Em 1899, Adler participou do segundo julgamento do Capitão Dreyfus, em Rennes. Sua casa se tornou um centro de Dreyfusards. Em 1903, foi membro fundador do Salon d’Automne do Petit Palais. Em 1928, foi nomeado professor de Beaux-Arts de Paris. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso, em março de 1944, por ter caminhado na praça des Batignolles, então proibida aos judeus, mas escapou da deportação. Ele morreu, em 1952, em relativa pobreza, no lar de idosos dos artistas em Nogent-sur-Marne.

Essa tela encontra-se na escadaria da Faculdade de Medicina de Paris Descartes, que dá acesso ao Museu de História da Medicina. A pintura foi encomendada pelo respeitado médico parisiense, Samuel Bernheim (1855–1915), um especialista em tuberculose, que acreditava no tratamento dos tuberculosos com transfusão de sangue de cabra.  O Dr. Bernheim contratou o pintor Jules Adler para plasmar, em um quadro, um procedimento da vida real, pois pretendia, com a pintura, consolidar e aumentar sua fama. No mesmo ano, Bernheim publicou o artigo “Transfusão de Sangue de Cabra e Tuberculose Pulmonar”.

Na tela, em primeiro plano, está uma jovem mulher deitada, envolta em um lençol branco, equilibrada entre a vida e morte. Seu rosto, extremamente pálido, contrasta com seus cabelos longos e pretos. Um tubo de borracha conecta seu braço ao pescoço de uma cabra, que está estendida em uma mesa. Sangue goteja de seu braço e sua mão direita segura a borda da cama. Seus olhos estão fechados e sua boca está semiaberta, lembrando a expressão facial de Santa Tereza de Ávila, na escultura “Êxtase de Santa Tereza” de Bernini.

O Dr. Bernheim está retratado como a figura central, acima da paciente. Ele está cercado por quatro outros senhores, que estão envolvidos no procedimento médico de transfusão de cerca de 200 ml de sangue da cabra. Ao fundo, uma mulher, vestida de enfermeira, reorganiza alguns vidros. Os móveis, equipamentos e os potes de vidro e garrafas dão à sala a aparência de um laboratório médico.

A Faculdade de Medicina de Paris relegou a pintura a uma escadaria, talvez, para não chamar a atenção para um procedimento desacreditado. Naquela época já havia muitas evidências de que o sangue humano e animal não eram compatíveis. Como alguns médicos estavam usando soro animal para tratar a difteria em crianças, outros se perguntavam se os fluidos animais poderiam curar várias doenças humanas. Em 1901, Karl Landsteiner (1868-1943) identificaria os tipos de sangue e seu papel nas transfusões de sangue seguro de humano para humano.

 

Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg

Fortaleza, 03/09/2020

 

dra. ana

 

 

Coluna Medicina, Cultura e Arte
Autora e Coordenadora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.

 

 

 

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