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Vacinação contra Covid-19 em pessoas com doenças alérgicas

O uso da vacina Covid-19 da Pfizer-BioNTech em pessoas com histórico de alergias graves, foi temporariamente interrompido no Reino Unido, depois que dois profissionais de saúde experimentaram reações anafiláticas no início de dezembro. A Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) havia declarado que “qualquer pessoa com histórico de anafilaxia a uma vacina, medicamento ou alimento, não deve receber a vacina Pfizer/BioNTech”.

No entanto, a MHRA revisou sua posição em 30 de dezembro, após cuidadosa consideração com base na vigilância aprimorada de mais de um milhão de doses da vacina no Reino Unido e na América do Norte, incluindo os locais onde pessoas com alergias graves nunca foram impedidas de receber a vacina. O órgão regulador não encontrou nenhuma evidência de um risco aumentado de anafilaxia à vacina Pfizer-BioNTech, entre pessoas com histórias de alergia graves, mas não relacionadas às vacinas, e alertou que apenas as pessoas que tiveram uma reação alérgica à primeira dose desta vacina, ou que anteriormente tiveram reações a qualquer um dos seus componentes, não deveriam recebê-la.

Esta é uma boa notícia para pessoas com alergias graves, mas os riscos para o lançamento das vacinas Covid-19 no Reino Unido, permanecem por causa da ampla disseminação da contraindicação para alergia na mídia. Todas as manchetes de primeira página do New York Times, da CNN e da BBC, delineavam os riscos da vacina para pessoas com alergias. No entanto, a orientação revisada da MHRA, recebeu pouca cobertura da mídia. O relato de alergia como sinônimo de anafilaxia é preocupante, uma vez que no Reino Unido e nos EUA, 20-40% da população tem pelo menos uma doença alérgica, um termo abrangente para síndromes clínicas múltiplas como rinite alérgica, anafilaxia, asma alérgica, conjuntivite, eczema, dermatite de contato, alergia alimentar e urticária, que são causadas por alimentos, aeroalérgenos (incluindo poeira doméstica, mofo e pólens), além de efeitos adversos de medicamentos mediados imunologicamente.

Antes de a contraindicação da vacina Pfizer-BioNTech ser anunciada, pesquisas relataram que a disposição do público em ser vacinado com uma das novas vacinas Covid-19, variou de 67% a 90%. Essa estimativa tem flutuado, no entanto. Em um estudo conduzido de abril a maio de 2020, 90% dos pais e responsáveis ​​por crianças pequenas, disseram que aceitariam uma nova vacina Covid-19; enquanto em junho, um questionário semelhante, relatou potencial de absorção de somente de cerca de 70%. Em julho de 2020, outro estudo no Reino Unido descobriu que 64% dos participantes eram “muito propensos” a aceitar a vacina Covid-19, com outros 27% inseguros. A hesitação vacinal parece ser maior em populações de minorias étnicas.

Dado que as alergias são comumente relatadas, e a aceitação pública da vacina Covid-19 parece estar diminuindo, a aceitação da vacina Pfizer-BioNTech pode ser menor do que o esperado, particularmente entre pacientes com alergias. Isso pode levar a novos surtos de Covid-19, necessitando de bloqueios locais e dificultando as respostas à pandemia. Os profissionais de saúde também podem relutar em vacinar pessoas com qualquer histórico de alergia. Portanto, é essencial que aqueles que planejam e administram programas de vacina Covid-19, entendam as evidências com maiores detalhes.

 

 

Fatos importantes

É importante ressaltar que a história de alergia grave não impede a vacinação, a menos que a alergia seja à própria vacina ou a um de seus componentes. Apenas um dos excipientes da vacina Pfizer-BioNTech é um alérgeno potencial conhecido, o polietilenoglicol (PEG 2000), e este é um ingrediente inativo em mais de 1000 medicamentos. A vacina Oxford-AstraZeneca não contém PEG 2000, portanto, continua sendo uma alternativa para pessoas com histórico de alergia a esse ingrediente.

No entanto, existe alguma reatividade cruzada entre o PEG e o polissorbato 80, um ingrediente da vacina Oxford-AstraZeneca, e desta forma, a avaliação por um especialista em alergia pode ser aconselhável, antes da vacinação em qualquer pessoa com suspeita de história de alergia a PEG. A alergia é específica para o antígeno, embora as pessoas com alergia a um medicamento, possam ser mais suscetíveis a outras alergias a outros medicamentos do que a população em geral.

E, finalmente, as melhores abordagens para esclarecimento da vacina incluem “ciência, educação, acesso, discurso civil e debate”, e  não a coerção ou a censura. Os vacinadores devem estar preparados para fornecer informações, explicar a diferença entre alergias graves, moderadas e leves; e esclarecer a tomada de decisão da MHRA. As opiniões das pessoas sobre vacinas Covid-19 podem ser transferidas para outras vacinas, como na imunização regular de vacinas conhecidas para si mesmas e suas famílias, e também para as vacinas futuras. Portanto, deve-se manter as linhas de comunicação abertas e, se a vacinação em um momento for recusada, tranquilizar as pessoas de que elas podem retornar em um outro momento.

 

Ainda pode ser possível vacinar com segurança pessoas com alergia aos componentes da vacina. Os alergistas devem avaliar cuidadosamente os pacientes que relatarem alergia a uma vacina, medicamento injetável ou PEG, e fazerem uma triagem entre aqueles capazes de prosseguir com a vacinação, com uma rotina de 15 minutos de observação. Outros que requeiram um tempo maior de 30 minutos de observação, e outros poucos que exijam um teste cutâneo para PEG e polissorbato antes da vacinação, deverão ser monitorados. Os hospitais no Reino Unido já lançaram esses serviços e essa avaliação já está em andamento.

P.S. IMPORTANTE: No que diz respeito às duas vacinas atualmente aprovadas no Brasil, a do vírus inativado da Coronavac, e a de RNA-mensageiro da Astrazeneca, o único aviso de recomendação da agência FDA americana para pacientes imunocomprometidos, incluindo aqueles submetidos à terapia imunossupressora, é o potencial de resposta diminuída à vacina. O CDC observa que os pacientes imunocomprometidos podem receber as vacinas, desde que não tenham contra-indicações específicas à vacinação, mas que ainda asim, devem ser aconselhados sobre os perfis de segurança desconhecidos das vacinas em populações imunocomprometidas. Mas esse já é outro tema que eu só abordarei amanhã com maiores detalhes.

 

Referente ao artigo British Medical Journal

 

Dylvardo Costa

 

 

Autor: 
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

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