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Gravidez e infarto: uma relação preocupante

Engravidar com hábitos saudáveis ajuda a melhorar a qualidade de vida e a diminuir os riscos durante a gestação

A gestação é momento único de realização pessoal e familiar, traz consigo um apelo emocional sem igual para as mulheres e é nesse contexto de grande significado que o coração da gestante ganha relevância.

Existem algumas doenças cardíacas que são mais frequentes em gestantes quando comparadas a sua incidência na mulher de mesma idade não grávida. Isso significa que a própria gestação é um fator de risco para essas patologias. Dentre as doenças que podem ocorrer durante a gestação, o infarto agudo do miocárdio ocupa destaque, visto que pode ser um evento grave com repercussões importantes para mãe e para o feto.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a taxa de infartos durante a gestação e puerpério é de 3,34 eventos para cada 100 mil gestações, mas essa estatística pode ser ainda maior visto que países subdesenvolvidos e em desenvolvimento têm um sistema de notificação pouco eficiente e a falta de diagnóstico nos casos mais brandos da doença também contribui para esses eventos não serem registrados.

 

Por que ocorre o infarto na gestação?

A gestação acarreta profundas modificações adaptativas no organismo da mulher, dentre elas se destacam: o aumento progressivo de líquido circulante, o aumento da frequência cardíaca, a anemia fisiológica da gestação (hemodiluição), o aumento do metabolismo materno para suprir as necessidades do feto, alterações de coagulação que aumenta o risco de trombose no fim da gestação e início do puerpério e, principalmente, pela alteração na parede dos vasos sanguíneos maternos por ação dos hormônios de gestação que causa uma “fragilidade” dessas artérias. Todos esses fatores juntos elevam o risco de infarto na gestação.

Os fatores de risco tradicionais para o infarto são bem conhecidos: tabagismo, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, obesidade e sedentarismo. Junto a eles, além das já citadas modificações do organismo materno, há o fato das mulheres atualmente engravidarem cada vez mais tarde. O risco de infarto na gestação aumenta progressivamente com o avançar da idade materna. Assim, em mulheres que engravidam mais tarde há uma elevação do risco de 20% para cada ano acima de 40 anos de idade.

Também há diferenças no tipo de infarto, enquanto em não gestantes o principal mecanismo do infarto é o “entupimento” da artéria coronária causado por doença aterosclerótica (inflamação do vaso + placa de gordura + trombose), nas gestantes a principal causa é a dissecção espontânea de artérias coronárias (rompimento da parede interna das artérias) em 43% dos casos, sendo a doença aterosclerótica a segunda causa mais frequente (17%). Também ocorre um aumento de casos de trombose intracoronária, espasmo coronariano e “infarto de coronárias normais”, ou seja, quando não se acha o fator causal mesmo realizando exames específicos como o cateterismo.

A maioria dos eventos acontecem no terceiro trimestre ou nas primeiras semanas após o parto. O tratamento do infarto na gestação tem algumas peculiaridades que levam em conta a exposição do feto à radiação e contrastes dos exames diagnósticos de imagem, o uso de drogas que cruzam a barreira placentária e podem afetar o feto, e a necessidade de drogas como o ácido acetilsalicílico e clopidogrel que são utilizadas rotineiramente diminuindo o risco de novos infartos e ao mesmo tempo aumentando o risco de sangramento. Mas, se a gestante estiver em risco de vida, deve ser tratada da forma rotineira, inclusive com o cateterismo, angioplastia e cirurgia cardíaca, seguindo as mesmas indicações de não gestantes.

A proximidade do parto também é outro fator que deve ser levado em conta, já que o esforço do trabalho de parto pode ser deletério para gestantes que tiveram infarto recentemente com grande comprometimento do músculo cardíaco. Assim, uma equipe multidisciplinar composta por obstetra, cardiologista, intensivista, anestesista e neonatologista devem realizar uma programação conjunta para diminuir ao máximo o risco dessas gestantes durante o trabalho de parto e pós-parto imediato.

As complicações mais temidas do infarto na gestação incluem a insuficiência cardíaca, aparecimento de arritmias, angina e reinfarto. O risco de morte para a mãe e para o feto também é elevado, podendo chegar a 7% nos casos graves de infartos.

Uma nova gestação pode trazer risco e idealmente deve ser liberada após pelo menos um ano do parto e em mulheres que não ficaram com insuficiência cardíaca e nem apresentem persistência de isquemia (déficit de irrigação sanguínea do musculo cardíaco) avaliada nos exames cardiovasculares rotineiros. Mais uma vez a programação se impõe, e nova gestação carece de prévia liberação do cardiologista.

 

Mas tem como evitar um infarto na gestação?

Infelizmente não há medicação ou tratamento que garanta a ausência de risco. O que deve ser feito é engravidar com hábitos saudáveis, dieta balanceada, controle do peso, cessar o tabagismo, e atividade física nos ajudam a melhorar tanto a qualidade de vida como a diminuir os riscos durante a gestação.

 

 

Autor: Alexandre Jorge Gomes de Lucena, cardiologista e diretor científico do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (CRM/PE 12.401 – RQE 4.351).

www.portal.cardiol.br

Instagram: @sbc.cardiol

 

 

 

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