O nome deriva do livro Pollyanna ,de 1913, de Eleanor H. Porter que descreve uma garota que faz o “jogo da felicidade” (“gladness game”) – procurando encontrar algo de que se alegrar em todas as situações. O romance foi adaptado várias vezes no cinema e na televisão. Um uso anterior do nome “Pollyanna” na literatura sobre psicologia foi em 1969 por Boucher e Osgood, que descreveram uma hipótese de Pollyanna como uma tendência humana universal para usar palavras positivas com mais frequência e de forma diversa do que palavras negativas na comunicação.
Evidências empíricas para essa tendência foram fornecidas por análises computacionais de grandes corpos de texto. A “Síndrome de Pollyanna” foi descrito por Margaret Matlin e David Stang em 1978 usando o arquétipo de Pollyanna, mais especificamente como uma síndrome psicológica que retrata a tendência positiva de que as pessoas têm quando pensam no passado. De acordo com a Síndrome de Pollyanna, o cérebro processa informações que são agradáveis e confortantes de uma maneira mais precisa e exata em comparação com informações desagradáveis. Na verdade, tendemos a lembrar de experiências passadas de maneira mais positiva do que realmente ocorreram.
Eles descobriram que as pessoas se expõem a estímulos positivos e evitam estímulos negativos, levam mais tempo para reconhecer o que é desagradável ou ameaçador do que o que é agradável e seguro, e relatam que encontram estímulos positivos com mais frequência do que realmente fazem. Matlin e Stang também determinaram que a recordação seletiva era uma ocorrência mais provável quando a recordação era atrasada: quanto maior o atraso, mais recordação seletiva ocorreu. A síndrome de Pollyanna também foi observada nas redes sociais online. Por exemplo, usuários têm preferência por compartilhar informações positivas e são mais frequentemente afetados de maneira emocional por elas. No entanto, a Síndrome de Pollyanna nem sempre se aplica a indivíduos que sofrem de depressão ou ansiedade, que tendem a ter um realismo depressivo ou um viés negativo. O melhor é procurar ajuda de psicoterapia online e dividir suas emoções com um profissional que poderá ser acolhedor em suas angústias e ansiedade.
A personagem Pollyanna é uma mocinha que se guia pelo empenho gentil e crédulo de sempre procurar o “lado bom” em tudo. No Brasil o livro popularizou o termo “Pollyanna ”, que se transformou em adjetivo. Ainda que a maior parte dos dicionários mais populares não registrem o verbete, ele pode ser encontrado no Wikdicionário, que o descreve como relativo à “pessoa que é excessiva e idealistamente positiva, otimista e inocente, pura, ingênua”. Pois, se procurar com boa vontade, dá mesmo para encontrar um lado “bom” em qualquer coisa. Até no nazismo. Os nazistas resgataram, no período 1933-45, o orgulho nacional de um país derrotado na Primeira Guerra Mundial, que havia sido colocado de joelhos pelos vencedores. O nazismo foi o primeiro regime do mundo a alcançar o pleno emprego, sua economia saiu da depressão e passou a produzir com frenesi.
Suas estradas e conjuntos habitacionais foram os melhores do seu tempo. A ciência alemã saltou para o primeiro plano mundial, e o automóvel Volkswagen, produzido especialmente para uso dos trabalhadores alemães, foi um sucesso internacional por 50 anos. Dá até calafrios imaginar como poderia ter sido o desfecho da guerra, se Hitler não houvesse cometido a burrada militar de invadir a União Soviética, escolhendo lutar em duas frentes militares.
A esmagadora maioria do povo alemão gostou do nazismo, beneficiou-se dele, apoiou aquele regime violento e anti-humano – até mesmo depois do seu fim. Mas nada disso caracterizou o nazismo, não foram esses os traços predominantes daquele regime horroroso. Conforme Hegel, descobrimos o que uma coisa é, não pelo seu “lado” bom – ou ruim, tanto faz – mas pelo rumo principal, pelo rumo determinante do seu movimento.
Rossana Kopf – psicanalista
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