Descrição Técnica
Autor – Sandro Botticelli (1445-1510)
Título – O Nascimento de Vênus
Data – 1483/85
Técnica – têmpera sobre tela
Dimensões – 172,5 cm x 278,5 cm
Localização – Galleria degli Uffizi – Florença-Itália
Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, conhecido como Sandro Botticelli, pintor renascentista italiano, nasceu em 01/03/1445, em Florença-Itália, e morreu na mesma cidade, em 17/05/1510, com 66 anos.
Botticelli, um dos gênios da pintura, teve o proteção dos Medici, em Florença, e foi por encomenda de Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, que Botticelli pintou duas de suas obras mais famosas: “A Primavera”, em 1482, e “O Nascimento de Vênus”, em 1483/85.
O poeta grego Hesíodo (século VIII a.C.), em sua obra “Teogonia”, o mais antigo tratado de mitologia grega, nos conta como o mundo surgiu a partir desses deuses: Caos (o vazio); Gaia (a terra); Tártaro (a profundeza); Urano (o céu); Eros (a atração amorosa); Hemera (o dia); Nix (a noite); Ponto, (a água primordial).
No princípio, Urano cobria Gaia, deixando-a completamente sufocada, e fazia muitos filhos que permaneciam dentro dela: 12 titãs (seis machos e seis fêmeas), três ciclopes e três hecatônquiros. Chonos, o mais jovem dos Titãs, para libertar a mãe e os irmãos da crueldade do pai, fabricou uma espada curva, cortou os órgãos genitais de Urano e arremessou-os no mar. Urano com uma dor descomunal saiu de cima de Gaia e foi parar no céu. Da espuma surgida do encontro do esperma de Urano com a água do mar, ergueu-se Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da beleza.
A tela em pauta, uma das mais importantes obras de Botticelli, retrata essa passagem da mitologia greco-romana, quando Afrodite (Vênus) surge das águas do mar.
No centro da tela, saindo de uma enorme concha, com longos cabelos ruivos que se enrolam em seu corpo, a deusa Vênus. Botticelli escolheu a pose da “Vênus Pudica” em que a deusa tenta esconder o corpo com as mãos. Outros pintores retrataram a “Vênus Anadyomene” em que ela surge do mar, completamente nua, secando seus longos cabelos encharcados.
A esquerda da tela, Zéfiro, o deus do vento, abraçado a ninfa Clores, sua esposa, conduz, com o sopro suave da primavera, a deusa Vênus em direção da terra, sob uma chuva de rosas. São as rosas sagradas de Vênus, que foram criadas juntos com a deusa, segundo a mitologia. A rosa com sua beleza e perfume simboliza o amor, mas os seus espinhos nos lembram que o amor, às vezes, pode nos ferir.
À direita, representando a primavera, a Hora, uma das quatro ninfas que personificam as estações do ano, está coberta com um manto branco flutuante, bordado com delicadas flores, traz um ramo de rosas em torno da cintura e uma bela guirlanda em torno dos ombros. A ninfa Hora avança com um manto vermelho de motivos florais para esconder a nudez de Vênus. Em segundo plano, atrás da Hora, vemos árvores, laranjeiras carregadas de flores brancas com pontas douradas.
A cena tem algo de leveza, pois as personagens flutuam, voam e dançam. O vento soprado por Zéfiro movimenta suavemente as flores, os cabelos, os mantos e as ondas do mar. A composição nos transmite um sentimento de calma e a Vênus parece despertar de um sonho.
Esta foi a primeira pintura renascentista com um tema leigo e mitológico. Trata-se de uma monumental obra, do começo do renascimento, que mostra a influência da cultura greco-romana sobre os artistas do período antropocêntrico.
A modelo da Vênus, Simonetta Vespucci, considerada a mulher mais linda da época, imortalizada em várias telas de Botticelli, esposa de Marco Vespucci e amante de Giuliano de Medici, foi consumida pelo bacilo da tuberculose aos 23 anos de idade.
Fortaleza, 12/11/2020
Coluna Medicina, Cultura e Arte
Autora e Coordenadora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.
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