fbpx

Poema – Hemoptise

HEMOPTISE

 

Fui atender uma doente na Granja Portugal

e… chocante amostra do real

o que lá vi

sem qualquer dubiedade

iluminadamente bem visível

com toda a crueza

foi a face terrível

da pobreza

e da desigualdade!

 

Choro,

tosse,

hemoptise da doente

e crianças a rolar

adultos a pisar e repisar

naquele sangue, quente também

de dor…

de desesperança…

de morte!

 

Dez pessoas num cubículo,

pálidas,

esquálidas,

a dividir o ar fétido

e a dessincronizar as vozes

das suas tosses.

 

Ruas de cubículos iguais

separadas por pervasiva lama estagnada

chegando-lhes aos parcos quintais

impondo um toque de podre

a tudo e a todos

naquele odre

de decomposição.

 

O que lá vi

foi a face terrível

da abusiva desigualdade,

a que nos acostumamos

para a qual somos

com cumplicidade

isolados, anestesiados

cegados.

 

O que lá vi

foi a face terrível

da legião presença

de mortos vivos

excluídos

despossuídos

invisibilizados

aos olhos mortos

da generosidade

dos vivos.

 

 

Autor:
José Henrique Leal Cardoso, MD, Ph D.
Professor Emeritus, Senior Investigator of CNPq
Membro da Academia Cearense de Medicina

 

 

 

Assine a nossa NewsLetter para receber conteúdos e a RD do Jornal do Médico https://bit.ly/3araYaa

Este post já foi lido648 times!

Compartilhe esse conteúdo:

WhatsApp
Telegram
Facebook

You must be logged in to post a comment Login

Acesse GRATUITO nossas revistas

Send this to a friend