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A Maldição de Dona Veridiana da Silva Prado

Nos idos anos 90 do século XX, eu morava com o Rose, em São Paulo, na Rua Sabará com Avenida Higienópolis. Havia, na esquina da Av. Higienópolis com a Rua Dona Veridiana, pertinho da Mackenzie e da histórica Rua Maria Antônia, um belo palacete, que ficava a 100 metros de nosso apartamento.

Veridiana Valéria da Silva Prado ((1825-1910)

Aquele palacete, com seu estilo renascentista francês, me atraia.  Sempre que por lá passava com o Rose, em nossos passeios domingueiros, esgueirava o meu olhar pelas frestas do artístico portão de ferro para apreciar sua arquitetura e descobrir sua história.

Aqui funciona o “Iate Clube de Santos”, mas foi residência de Dona Veridiana, dizia o Rose. Descobri, em minhas pesquisas históricas, que o referido palacete, rodeado por um jardim de mais de 3 mil m², foi concebido por uma dama da sociedade paulistana, que viveu no século XIX e início do XX, a mítica Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910), considerada a primeira mulher empresária do Brasil.

Filha de Antônio da Silva Prado (1778-1875), Barão de Iguape, um dos homens mais ricos e influentes de São Paulo, e de Maria Cândida de Moura Vaz, Veridiana casou-se com 13 anos, por exigência de seu pai, com Martinho da Silva Prado (seu meio-tio) e teve seis filhos, 36 netos e 96 bisnetos.

Dona de forte personalidade, Veridiana educou os filhos para exercerem papeis de destaque no país. Seu primogênito, Antônio da Silva Prado (1840-1929), foi ministro de Estado, senador, deputado e primeiro prefeito de São Paulo; Eduardo Paulo da Silva Prado (1860-1901), advogado, jornalista, escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras, inspirou a figura de Jacinto de Tormes, em “A cidade e as Serras”, de Eça de Queiroz; Antônio Caio da Silva Prado (1853-1889) foi presidente das províncias de Alagoas e do Ceará; faleceu jovem vítima de febre amarela; é citado pelo escritor Adolfo Caminha, no romance “A Normalista”.

Para muitos, Dona Veridiana foi a nossa primeira feminista. Ao divorciar-se, com 55 anos de idade, causou um escândalo na sociedade conservadora da época. Após a separação, viajou para Paris, encantou-se com os salões culturais da cidade-luz e trouxe um projeto para fazer um palacete, nos moldes franceses, que foi concluído, em 1884.

Batizado por ela de “Chácara Vila Maria”, para homenagear sua dama de companhia, uma jovem negra, Maria das Dores, Veridiana, de sua chácara, comandou um dos mais importantes salões culturais de São Paulo, na segunda metade do século XIX. Todos os sábados, ela patrocinava encontros literários, musicais, culturais e políticos. Recebeu artistas, intelectuais, cientistas, estadistas, além de D. Pedro II e da Princesa Isabel. Pode-se dizer que Dona Veridiana foi uma “Patrona da Cultura”.

Seus empregados eram de origens étnicas diversas. Sua dama de companhia, Maria das Dores, recebeu de Dona Veridiana uma educação refinada.  Só se dirigia à patroa na língua francesa, tocava piano e conhecia literatura. O seu mordomo era um índio botocudo. Os jardineiros do seu palacete eram todos europeus e ela abria o jardim do Palacete às crianças do bairro. Veridiana doou uma parte do terreno para a construção do “Instituto Geológico de São Paulo” e outra parte para a “Santa Casa de Misericórdia”.

Dona Veridiana deixou uma fabulosa herança para sua dama de companhia negra, com um recado: você vai se casar, vai ter filhos, mas esse dinheiro é só seu, pois a sua liberdade depende desse dinheiro.

Ela tinha um cocheiro suíço que a levava a passear de caleça, nos fins de tarde, pela Avenida Higienópolis. Isso criou um mal-estar entre as damas paulistanas, deixando Dona Veridiana injuriada.

Segundo o sociólogo José de Souza Martins, da USP, Dona Veridiana deixou a casa para o neto, Paulo Prado, que foi patrono da “Semana de 22”, na condição que fosse para um clube masculino, com uma cláusula de que mulher não entraria, pois, as mulheres que falavam mal da vida dela, na casa dela não podiam entrar.

Há alguns anos, o dono da Editora Paz e Terra, organizou um coquetel dos autores de um livro sobre São Paulo, na casa de Dona Veridiana, frisa Souza Martins, que estava no evento; ao ver muitas mulheres ele perguntou: caiu a “Maldição de Dona Veridiana”? Logo lhe responderam que não, pois ali não era a casa e sim a cocheira.

 

REFERÊNCIAS

https://www.youtube.com/watch?v=gDoldURkN4c

https://www.youtube.com/watch?v=zcGODHqjcqo

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/dona-veridiana-mulher-que-escandalizou-o-conservadorismo-da-elite-cafeeira-paulista.phtml

https://www.saopauloinfoco.com.br/veridiana-silva-prado/

https://www.sescsp.org.br/online/artigo/compartilhar/14094_DONA+VERIDIANA

https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_Prado

https://jornal.usp.br/cultura/a-cidade-e-as-serras-questiona-os-valores-da-sociedade-urbana/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Veridiana_da_Silva_Prado

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115830/000810078_20151201.pdf?sequence=1

 

dra. ana

 

 

Autora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica CRM 1782-CE, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e Conselheira do Jornal do Médico.

 

 

 

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