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O Historiador é DETETIVE e a História é DINÂMICA

O campo de trabalho para o historiador, muito ampliado nas últimas décadas, é maior do que se imagina. Análises de lugares com impactos ambientais, tombamentos de edifícios, restaurações patrimoniais têm sempre o parecer de um historiador.

A história ensinada com apenas as datas e descrições de fatos pontuais não mais atrai. Entretanto, ensinada de outra maneira, encanta e dá prazer.

O historiador italiano Carlo Ginzburg, pioneiro da “micro-história”, compara o ofício do historiador ao de um detetive. O historiador é um “Sherlock Holmes”, pois trabalha com processo indiciário, indo procurar as pistas.

O processo da feitura da história é fascinante, pois o historiador vai descobrindo os fatos, peças de um grande quebra cabeças, e os juntas para dar um sentido. O historiador descobre e revela fatos acontecidos no passado, mas com muita suspeita.

O que estava escrito nos documentos, que era a perspectiva do historiador do século XIX e início do século XX, já caiu por terra. Segundo a historiadora Maria Helena Capeleto, o historiador tem que analisar o documento na perspectiva de desconstruí-lo, para ver o que está por trás dele, como ele foi construído e por que ele foi construído.

O historiador, ao analisar um documento, deve ter as seguintes questões:

  1. O que aconteceu?
  2. Por que aconteceu?
  3. Como aconteceu?
  4. Em que lugar?
  5. Em que tempo?

O tempo é importante porque é matéria prima da história. O historiador, ao analisar documentos históricos, tem sempre em mente que eles foram construídos. É um trabalho difícil e sutil, pois o historiador tem que ler nas entrelinhas do documento e ficar atento as lacunas, aos silêncios. É instigante esse trabalho.

Nos primórdios da profissionalização do historiador, era ensinado que ele tinha que ser objetivo e imparcial diante de um documento histórico. Com as revisões historiográficas que aconteceram na segunda metade do século XX, tudo caiu por terra. Michel Foucault (1926-1984) disse que o documento é um monumento que precisa ser desconstruído. Atualmente, o historiador suspeita do documento e, com métodos e técnicas, o desconstrói.

O historiador tem compromisso com a verdade, com a objetividade e com a imparcialidade. Como ele é parte da história, é preciso saber trabalhar com a subjetividade e a imparcialidade. É preciso desconfiar de si próprio. É preciso ter um distanciamento que, muitas vezes, só os pares do historiador, percebem se existe. Por isso, os trabalhos de pesquisas são analisados por outros historiadores.

O historiador, ao ler um texto, deve se perguntar: quem escreveu, quando escreveu e por que escreveu. Atualmente, trabalho do historiador é muito fascinante, pois a história factual, positivista, de grandes personagens, que existia e não era neutra, caiu por terra. Para os historiadores antigos, o que estava nos documentos era verdade, mas os documentos eram institucionais e retratavam uma história oficial, compromissada com os interesses políticos dos vencedores.

A primeira crítica dessa forma de fazer história se deu em 1929, com a “Escola dos Annales”, na França. A partir dos anos 70 e 80 do século XX, houve a grande revisão. Surgiu a história problema. Foucault contribuiu mostrando o que é um documento e como desconstrui-lo, mas, para muitos historiadores, Foucault peca por não levar em conta a História com os sujeitos históricos.

Ginzburg contribuiu quando revolucionou a “História Cultural”, pegando um sujeito anônimo e reconstituindo a sociedade nos seus vários aspectos. Ele acabou com a ideia de duas culturas separadas: a do povo e a da elite, pois demonstrou que tudo circula e se mescla.

A partir dos anos 70 do século XX, os historiadores franceses e ingleses abriram o leque da história com novas abordagens e novos objetos, surgindo a história da beleza, da leitura, da alimentação, da sexualidade etc. Acompanhando as questões da sociedade, o historiador já começa a pensar na “História do Meio Ambiente”.

 

 

dra. ana

 

 

Autora: Dra. Ana Margarida Arruda Rosemberg, médica CRM 1782-CE, historiadora, imortal da Academia Cearense de Medicina e conselheira do Jornal do Médico.

 

 

 

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