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Qual a gravidade das infecções pela Omicron?

Passaram-se menos de quatro semanas, desde o anúncio de que uma variante do coronavírus carregada de mutação, foi descoberta no sul da África. Desde então, dezenas de países ao redor do mundo relataram casos da Omicron, incluindo um número preocupante de infecções, em pessoas que foram vacinadas ou tiveram infecções anteriores de SARS-CoV-2.

Mas, conforme os líderes políticos e funcionários de saúde pública, tentam traçar um curso através dos surtos da Omicron que se aproximam, eles devem fazê-lo sem uma resposta firme a uma pergunta-chave: quão graves serão as infecções pela Omicron?

Até agora, os dados são escassos e incompletos. “Há inevitavelmente um lapso entre a infecção e a hospitalização”, diz o epidemiologista de doenças infecciosas Mark Woolhouse da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. “Nesse ínterim, as decisões políticas devem ser feitas e isso não é simples.”

Taxa de hospitalização

Os primeiros resultados sugerem um vislumbre de esperança. Relatórios da África do Sul notaram consistentemente uma taxa mais baixa de hospitalização, como resultado de infecções por Omicron, em comparação com infecções causadas pela variante Delta, que é atualmente a responsável pela maioria das infecções por SARS-CoV-2 em todo o mundo. Em 14 de dezembro, a seguradora de saúde privada sul-africana Discovery Health em Joanesburgo anunciou, que o risco de hospitalização foi 29% menor, entre as pessoas infectadas com a Omicron, em comparação com pessoas infectadas com uma variante anterior.

Isso alimentou sugestões de que a Omicron, causa doenças mais brandas do que as variantes anteriores. Mas os pesquisadores dizem que é muito cedo para ter essa certeza, e os principais detalhes metodológicos desse estudo ainda não foram publicados. Esses detalhes são cruciais, na interpretação dos dados sobre a gravidade da doença, que pode ser confundida por fatores como capacidade hospitalar, idade e saúde geral das pessoas inicialmente infectadas, e a extensão da exposição anterior ao coronavírus.

Mas os resultados do Discovery Health estão de acordo com outros estudos no país, diz Waasila Jassat, uma clínica e especialista em saúde pública do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis em Joanesburgo. “Existem muitas advertências e isenções de responsabilidade em relação aos dados iniciais de gravidade”, diz ela. “Mas a imagem é muito consistente.”

Levará algum tempo, para que surja uma imagem consistente de países que atualmente têm menos infecções por Omicron. Em 13 de dezembro, a Dinamarca divulgou dados, mostrando que as taxas de hospitalização de pessoas infectadas com Omicron pareciam estar no mesmo nível das de pessoas infectadas com outras variantes. Mas essa comparação foi baseada em apenas cerca de 3.400 casos de infecção pela Omicron e 37 hospitalizações.

Da mesma forma, um relatório de 16 de dezembro do Imperial College London, não encontrou nenhuma evidência de diminuição das hospitalizações por infecções por Omicron, em comparação com a Delta na Inglaterra, embora isso tenha sido novamente baseado, em relativamente poucos casos. No geral, os números ainda são muito pequenos para tirar conclusões firmes sobre a gravidade da doença causada pelo Omicron, diz Troels Lillebæk, um especialista em doenças infecciosas da Universidade de Copenhagen.

E uma variante de rápida disseminação, pode prejudicar perigosamente os sistemas de saúde, mesmo que o risco de doenças graves ou morte seja relativamente baixo para qualquer indivíduo. “Uma pequena fração de um número muito grande ainda é um número grande”, diz Woolhouse. “Portanto, a ameaça ao nível da população é muito real.”

Os dados otimistas da África do Sul, podem não ser um sinal de que a Omicron em si é mais benigna do que as variantes anteriores. Mais de 70% da população em regiões fortemente infectadas com a Omicron teve exposição anterior ao SARS-CoV-2, e cerca de 40% receberam pelo menos uma dose da vacina COVID-19, diz Jassat. Isso torna difícil separar os efeitos da imunidade pré-existente, das propriedades inerentes da própria variante.

Proteção vacinal

Estudos laboratoriais sugeriram que a Omicron pode ser capaz de escapar de alguma imunidade induzida pela vacina COVID-19, e os primeiros dados da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido sugerem, que as vacinas não são tão protetoras contra infecções pela Omicron, quanto o foram contra outras variantes, embora o número de casos estudados seja muito pequeno, para certificar-se de quanto a proteção diminuiu.

Mesmo assim, as vacinas podem continuar a proteger muitos receptores de doenças graves e morte por COVID-19. Além de anticorpos, o sistema imunológico em pessoas previamente infectadas e vacinadas, implanta as chamadas células T, que podem reconhecer fragmentos de proteínas virais, e destruir células infectadas por vírus, potencialmente limitando o escopo de uma infecção.

Os pesquisadores mapearam o genoma de mutações da Omicron, no menu de fragmentos de proteína SARS-CoV-2 reconhecidos por células T, após infecção natural e vacinação, e não encontraram mutações na maioria desses fragmentos. No caso da vacinação, mais de 70% dos fragmentos estão totalmente intactos, de acordo com o imunologista Alessandro Sette, do Instituto La Jolla de Imunologia, na Califórnia.

Há mais trabalho a ser feito, e os cientistas já estão realizando testes de laboratório, para determinar quão bem as células T geradas em resposta a vacinas e infecção com outras variantes reagem à variante Omicron, com resultados esperados nas próximas semanas. “Estou otimista de que a reatividade será preservada, pelo menos em parte”, diz Sette. “Quanto será preservado ainda está para ser visto.”

No momento, não há como traçar uma linha direta, entre o grau de reatividade das células T e a proteção contra doenças graves. Estudos anteriores descobriram, que reações robustas de células T ao SARS-CoV-2, estão correlacionadas com cargas virais mais baixas e doenças menos graves, mas não estabelecem um limite no qual essa proteção pode começar a diminuir, diz Sette. No final das contas, tudo se resumirá novamente à espera de dados sobre hospitalizações e mortes causadas pela Omicron.

Infecções em crianças

À medida que esses dados forem surgindo, os pesquisadores observarão particularmente os efeitos do Omicron em crianças. Os resultados da África do Sul sugeriram, que as taxas de hospitalização de crianças infectadas com a Omicron são mais altas, do que as observadas nas ondas anteriores. Mas os pesquisadores alertam novamente que isso não significa necessariamente, que as crianças são mais vulneráveis ​​à Omicron, do que eram ao Delta ou outras variantes. Jassat observa que as crianças têm taxas mais baixas de infecção prévia por coronavírus e vacinação do que os adultos, o que significa que seus níveis de imunidade pré-existente não são tão altos.

Taxas mais altas de hospitalização em crianças, durante os estágios iniciais de um surto, também podem refletir mais capacidade do hospital, proporcionando o luxo de manter uma criança para observação que, de outra forma, poderia ser enviada para casa, acrescenta ela.

E o ambiente no qual as crianças são expostas, também pode desempenhar um papel: exposições prolongadas em casa de um pai infectado, podem significar uma exposição inicial maior ao vírus do que uma exposição transitória na escola, diz David Dowdy, epidemiologista de doenças infecciosas da Johns Hopkins Escola Bloomberg de Saúde Pública em Baltimore, Maryland. “Todo mundo está focado no patógeno aqui”, diz ele. “Mas não se trata apenas da variante, mas também do hospedeiro e do ambiente.”

Referente ao comentário publicado na Nature

 

 

 

Autor: 
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

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