Espinho de Spinoza e cânon de Camões

A definição de amor e a capacidade de alimentar sua condição de ser a principal energia modificadora da vida, em nosso meio, e até a morte, associado ao regado da sorte, da feliz relação, escolha, decisão, da influência pessoal, paciência, e até mesmo da ilusão e boa ação, além de outros fatores menos adjuvantes, ajudam a descrevê-lo e entendê-lo. E sobre o espinho e o cânon? Cinquenta e dois anos separam a morte do português (1580), do nascimento do holandês (1632). Nesse texto, porém, eu os uno, para tentar entender aquilo que mais une as pessoas em toda sua trajetória: o verdadeiro amor transformador.

Um dos espinhos filosóficos mais profundos e rasgantes sobre a definição de amor, e que talvez seja considerado por alguns, a revelação mais perfeita desse valor, veio da brilhante mente cortante de Spinoza: “o amor nada mais é do que a alegria, acompanhada da ideia de uma causa exterior; e o ódio nada mais é do que a tristeza acompanhada da ideia de uma causa exterior”. Ele complementa seu entendimento sobre o amor com a seguinte expressão: “vemos, além disso, que aquele que ama esforça-se, necessariamente, por ter presente e conservar a coisa que ama. E, contrariamente, aquele que odeia esforça-se por afastar e destruir a coisa que odeia”. Muitos definem que o contrário de amor não é o ódio; e sim, o desprezo.

Luis Vaz de Camões disse: “amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer”… essa definição transmuta ao meu pensar a sensação de aceitação do aceite ainda que não se aceite; a resignação para dobrar-se mesmo sem a necessária razão; a presença de uma invisível energia radiante que existe para mudar quem a sente; e também, decerto, um pouco de dor que cura, misturada com algo de loucura, da procura que autocura. O amor é um legado a copiar; saudade reticente; passagem que se repete; certeza presente e recente; renovação que remodela; é um ápice para meditar. vidAMORte.

A coluna Momento de Reflexão é publicada

aos sábados

Com a assinatura do Dr. Russen Moreira Conrado

Cirurgião Plástico e psicoterapeuta CRM: 5255-CE

RQE Nº: 1777 – RQE Nº: 1811

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