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O desastre da COVID-19 no Brasil influenciará sua eleição presidencial?

O presidente Jair Bolsonaro está concorrendo à reeleição, mas suas políticas não conseguiram retardar a propagação do coronavírus.

De acordo com estatísticas oficiais do governo, mais de 685.000 pessoas morreram de COVID-19 no Brasil, colocando-o entre as nações com mais mortes. À medida que as infecções dispararam no Brasil entre 2020 e 2021, o país espalhou o coronavírus SARS-CoV-2 além de suas fronteiras, exportando o vírus dez vezes mais do que importava, de acordo com um estudo publicado na Nature Microbiology no mês passado. Os resultados sugerem que o Brasil, o maior da América Latina, foi um epicentro da COVID-19, e que as políticas implementadas por seu governo e por seu líder Jair Bolsonaro, não conseguiram conter o vírus.

O relatório surge no momento em que o Brasil se prepara para eleger seu próximo presidente em outubro. Bolsonaro é candidato à reeleição e enfrenta 11 adversários, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderou a nação de 2003 a 2010. Resta saber se a questionável resposta à pandemia de Bolsonaro funcionará contra ele durante a eleição. Pesquisadores de saúde pública criticaram sua recusa em implementar medidas de bloqueio, sua disseminação de desinformação sobre vacinas, e seu apoio a medicamentos ineficazes como a hidroxicloroquina, para combater a COVID-19.

“Na maior parte da pandemia, o governo não ofereceu uma resposta coordenada, dando espaço a uma onda de desinformação, às vezes estimulada por lideranças do governo federal”, diz Otávio Ranzani, epidemiologista da Universidade de São Paulo e da Instituto de Saúde Global de Barcelona na Espanha.

Muitos dos candidatos presidenciais, incluindo Bolsonaro, prometem fortalecer o sistema de saúde do Brasil, conhecido como SUS. Mas o país também está enfrentando outras questões, incluindo segurança alimentar e inflação econômica, que podem superar as preocupações com a pandemia, quando os brasileiros forem às urnas. De acordo com um estudo recente da Fundação Getulio Vargas, um instituto de ensino superior com sede no Rio de Janeiro, um em cada três brasileiros não poderia se alimentar adequadamente em 2021, a maior proporção em mais de uma década.

Ainda assim, é emocionante que a saúde esteja sendo discutida nesta eleição presidencial, diz Rosana Onocko Campos, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva em Campinas, São Paulo. “É a primeira vez que vejo a grande maioria dos candidatos dizer que concorda que é preciso aumentar o financiamento federal para o SUS”, diz ela.

Exportador de vírus

De acordo com o estudo da Nature Microbiology, o SARS-CoV-2 foi introduzido no Brasil principalmente da Europa no início de 2020, antes que o país implementasse qualquer medida de resposta. Mas entre então e setembro de 2021, a nação espalhou o vírus para muitos países; o maior número de exportações de vírus foi para outras nações sul-americanas, dez das quais fazem fronteira com o Brasil.

Para tirar essas conclusões, a equipe sequenciou 3.800 genomas de SARS-CoV-2 de pessoas infectadas em 8 estados brasileiros e um país vizinho, o Paraguai. Os pesquisadores também analisaram sequências genômicas no popular repositório de dados GISAID, mais de 13.000 do Brasil e cerca de 100 do Paraguai, para entender quais variantes de coronavírus eram predominantes e em que épocas, entre 2020 e 2021. E compararam suas sequências com mais de 25.000 sequências globais, para tirar conclusões sobre a disseminação viral. Eles descobriram que o Brasil havia exportado com mais frequência a variante Gamma, que surgiu pela primeira vez dentro de suas fronteiras.

O ponto principal do estudo, diz a autora principal Marta Giovanetti, virologista visitante do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, “é discutir o papel da mobilidade populacional e o surgimento das primeiras variantes de preocupação” no Brasil.

Para Marcelo Gomes, especialista em saúde pública e cientista computacional, as descobertas fazem sentido, porque as infecções por COVID-19 no Brasil permaneceram em um nível consistentemente alto, de 2020 a setembro de 2021, possibilitando a transmissão para outros países. Gomes está sediado na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, da qual o instituto faz parte.

O SUS foi sobrecarregado pela COVID-19, revelando déficit de recursos, diz Onocko. “Precisamos requalificar serviços e pessoal, para aumentar a capacidade técnica para um atendimento mais rápido, e ter uma melhor articulação entre os governos federal, estadual e municipal. Será necessário um esforço extraordinário”, diz ela.

Promessas, promessas

Reconhecendo que o SUS estava sobrecarregado durante a pandemia, Bolsonaro prometeu um aumento de 250% no financiamento para profissionais de saúde se for reeleito. Ele e Lula, que lideram as pesquisas, prometeram reforçar a resposta pós-pandemia do Brasil, e Lula quer melhorar o acesso das mulheres aos serviços públicos de prevenção e tratamento de doenças.

Como essas promessas seriam implementadas e pagas não está claro para muitos pesquisadores, no entanto. “As propostas são superficiais e não dão passos concretos sobre como enfrentarão os desafios que temos”, diz o médico Gonzalo Vecina Neto, que dirigiu a Agência Nacional de Vigilância Sanitária entre 1999 e 2003.

Vecina teme que, embora os candidatos tenham reconhecido o impacto da pandemia e tenham feito várias promessas em resposta, as preocupações com a saúde pública estão sendo ofuscadas pela economia e outras questões, durante o período que antecedeu as eleições. “A sensação que tenho é que estamos esquecendo o que aconteceu”, diz ele, “e agora estamos enfrentando novos surtos como a varíola, sem ter aprendido o suficiente com a pandemia”.

Outros concordam. Ranzani diz que quer ver mais ênfase no fortalecimento do SUS e da pesquisa brasileira nas discussões eleitorais. “É fundamental para nós enfrentar o que a pandemia causou e ainda causa.”

A eleição presidencial brasileira acontece no dia 2 de outubro. Se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos, os dois primeiros colocados avançam para um segundo turno, que acontecerá no dia 30 de outubro.

Referente ao comentário publicado na Nature.

 

Autor:
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

 

 

 

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