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Sobre Cigarros Eletrônicos

Para se falar de cigarro eletrônico(CE) no Brasil, é essencial que se tenha conhecimento das leis que regem este tema em nosso meio. A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009.  Em nível estadual é proibido fumar CE em ambiente público, Lei 17.760 nov 202/Ceará.

Trata-se de um dispositivo eletrônico para fumar que possui alguns componentes básicos, como: bateria, atomizador e o e-liquido. Este, por sua vez, contém basicamente água, nicotina e solvente (propilenoglicol, glicerol), além de cerca de 80 substâncias já identificadas, entre elas, nitrosaminas, metais pesados, acetaldeído, formaldeído. Mais recentemente, os fabricantes passaram a usar o sal de nicotina, que além de acelerar o trânsito de chegada ao cérebro possibilita elevar a concentração dela, e, portanto, potencializando a dependência. Foi fabricado para o comercio em 2003, com explosões de venda para os mercados globais entre 2006-2007

O uso do CE ao redor do mundo ocorre principalmente em faixa etária mais jovem, entre 8 aos 19 anos, variando de 2% no Camboja a 52% na França. No Brasil, o estudo COVITEL, inquérito telefônico com 9000 participantes acima de 18 anos durante a pandemia da COVID-19, mostrou experimentação em 7,3%.

 

Tipos e evolução dos CEs:

Estes dispositivos fabricados pela indústria do tabaco sofreram um tremendo avanço tecnológico para repor rapidamente o cliente perdido cessação tabágica e atualmente vivemos a era da quarta geração.

Primeira geração procurou imitar o cigarro convencional, possui bateria de baixa voltagem e a liberação da nicotina para o cérebro é baixa.

Segunda geração: se assemelha a um pen drive, com bateria e atomizador mais potentes, pode ser manipulado ou não.

Terceira geração: MOD ou tanque, contém mais volume de e-liquido e concentração de nicotina, desenhado para criar grandes nuvens de aerossol

Quarta geração, principalmente Julls: contém os PODs com elevada concentração de sal de nicotina, para acelerar trânsito da nicotina ao SNC.

Substâncias tóxicas e riscos para a saúde

Os dispositivos eletrônicos para fumar liberam e possuem inúmeras substâncias tóxicas em sua composição. Entre elas:

  • Nicotina: substância que constitui o princípio ativo do tabaco. É uma droga psicoativa e causa dependência. Quando utilizada durante a gravidez, traz riscos para a mãe e o bebê (parto prematuro, natimorto, danos ao cérebro durante o desenvolvimento fetal).
  • Formaldeído: substância carcinógena (que causa câncer).
  • Acetaldeído: substância possivelmente carcinógena (que possivelmente causa câncer).
  • Acroleína: elemento que pode causar irritação na cavidade nasal e danos no revestimento dos pulmões.
  • Nitrosaminas específicas do tabaco (carcinógenas).
  • Metais pesados, como níquel, cromo, manganês e chumbo (associados a alguns tipos de câncer, danos em órgãos e danos aos sistemas imunológico e cardiovascular).
  • Flavorizantes, como o dyacetil, associado a danos pulmonares.
  • Compostos orgânicos voláteis que causam irritação nos olhos, nariz e garganta; dores de cabeça frequentes; náuseas. Também podem danificar o fígado, os rins e o sistema nervoso central

 

Combinações desconhecidas

Fatores de Risco para experimentação e uso de CE:

A curiosidade pelo novo, cores vivas, sabor e cheiro mais agradáveis, forte atração por modelos com tecnologia mais avançada que permite a manipulação dos componentes e a percepção de menor perigo, são alguns fatores que estimulam as pessoas à utilização e dependência.

 

Diferença chave entre CE e CC

Os cigarros eletrônicos promovem a Vaporização dos seus produtos em vez de combustão, que teoricamente provocaria menos danos, porém já foram identificadas cerca de 80 substâncias toxicas relacionadas aos riscos à saúde em curto e longo prazo. são

 

 

Impacto na saúde em curto e longo prazo: Evidências

  • Evidência conclusiva de risco após exposição aguda: intoxicação; lesões de pele, queimaduras, inalação aguda com consequente irritação da garganta, náuseas e tontura.
  • Relato de caso de Bronquiolite aguda grave (Canadá, 2019)
  • EVALI: surto de Insuficiência respiratória aguda com cerca de 3000 casos registrados e 64 óbitos até março de 2020; em grande parte ligada a presença de acetato de vitamina E e Tetrahidrocanabinol. Há registro de casos com somente nicotina.
  • Impacto negativo na concentração, aprendizado e memória, especialmente de crianças e adolescentes
  • Sem evidência conclusiva de risco em longo prazo para Doenças Crônicas Não Transmissíveis ( DPOC, DAC, CA). Há registro de elevação da frequência cardíaca, pressão arterial e rigidez arterial aguda.
  • Risco elevado de tabagismo dual em longo prazo, uso dos dois produtos com maior potencial tóxico ao organismo
  • Sem evidência conclusiva para a cessação tabágica

 

Impacto no meio ambiente

  • Produção de lixo não biodegradável
  • Incêndio
  • Poluição tabágica ambiental: principal causa de poluição intradomiciliar

 

Impacto na Cessação Tabágica

Sobre a cessação tabágica com uso de CE, alguns estudos, equivocadamente, consideram como cessação a migração do cigarro tradicional para o eletrônico, ou seja, quando o indivíduo apenas troca de produto (mas permanece dependente de nicotina).

  • Em vez de aumentar a cessação tabágica, na realidade, representa Ponte para tabagismo dual ou uso de múltiplas drogas. Registro dos EUA mostrou que 53% dos fumantes de CE, fumam cigarro convencional também e 15,5% eram nunca fumantes. (RS Australia).
  • Estudos com amostras pequenas e muito vieses de seleção, uma vez que há muita diferença entre os dispositivos, seus componentes, concentração e tipo de nicotina, entre outras substâncias, uma vez que o próprio usuário pode manusea-los.

 

Impacto à saúde pública:

  • A concentração e a forma de entrega dessa substância psicoativa interferem na rapidez com que a dependência se instala
  • Pode impactar negativamente no aprendizado de crianças e adolescentes, e consequente comprometimento do futuro desta geração
  • Adição de saborizantes estimula a experimentação e iniciação
  • A manipulação pelo usuário propicia a adição e dependência a outras drogas
  • Estudo COVITEL mostrou aumento da experimentação de CE no Brasil no primeiro trimestre de 2022, 7,3%; destes, quase 20% eram da faixa etária de 18-24 anos.
  • Retrocesso para saúde pública com a tentativa de normalização do tabagismo em meio a tantas conquistas realizadas em prol do controle do tabagismo como doença caracterizada por dependência, que provoca cerca de 50 outras doenças e que é a principal causa de mortalidade prevenível.

De conclusão, se faz necessários mais estudos com desenhos adequados para se avaliar os riscos à saúde do tabagismo do cigarro eletrônico, isolado ou em associado com o cigarro convencional, bem como os efeitos sobre o comportamento de fumar e a cessação tabágica.

 

Referencias:

Global frequency and epidemiological profile of electronic cigarette users: a systematic review Henderson, E. E-cigarettes: an evidence update. Pathol Oral Radiol (2022), doi: https://doi.org/10.1016/j.oooo.2022.07.019

 Hartmann-Boyce J, McRobbie H, Lindson N, et al. Electronic cigarettes for smoking cessation. Cochrane Database Syst Rev 2022

Andrea Jonas. Impact of vaping on respiratory health. BMJ 2022;378:e065997 | doi: 10.1136/bmj-2021-065997

Hajek P, Phillips-Waller A, Przulj D, et al. A Randomized Trial of E-Cigarettes versus Nicotine-Replacement Therapy. N Engl J Med 380;7.2019.

 

 

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