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A ciência é clara: o desenvolvimento sustentável e a ação climática são inseparáveis

Quando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram adoptados em setembro de 2015, o resultado da próxima reunião das Nações Unidas sobre o clima, que teria lugar em Paris três meses depois, estava tudo, menos garantido. Os líderes globais, diplomatas, ambientalistas e cientistas estavam todos perfeitamente conscientes do fracasso do mundo, em garantir um acordo sobre um novo pacto climático em Copenhague, seis anos antes, e as negociações ainda estavam em fluxo. Esta é uma das razões pelas quais o 13.º dos 17 ODS, “tomar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos”, não inclui nenhuma meta numérica para limitar o aumento da temperatura global.

 

Contudo, a magnitude e a urgência da tarefa nunca estiveram em dúvida. Várias décadas de ciência chegaram a uma conclusão consistente e incontestável: as temperaturas globais continuarão a subir até que as pessoas parem de lançar gases com efeito de estufa na atmosfera.

 

A questão agora é saber qual a melhor forma de reduzir as emissões, dado que o desafio envolve mais de 8 bilhões de pessoas e muitas peças móveis. O ODS 13 fornece um esboço básico para o sucesso: adoptar políticas climáticas nacionais, fazer a transição para as energias renováveis, aumentar a resiliência aos riscos e desastres climáticos e levar ajuda e investimento internacionais aos países que mais necessitam.

 

 

Promessas, promessas

O mundo está a avaliar o progresso alcançado em cada um dos ODS antes da reunião da ONU em Nova Iorque, no próximo mês. Com 2030 definido como prazo original para alcançar os ODS, a reunião servirá como ponto médio dos objetivos. A história na frente climática é tristemente familiar: não faltam promessas, mas nem de longe ações suficientes. As consequências do aquecimento contínuo estão agora a tornar-se muito claras, à medida que as pessoas em todo o mundo são afetadas por tempestades, inundações, ondas de calor, secas e incêndios. Este ano poderá muito bem ser o mais quente já registado e os cientistas esperam que o próximo ano seja pior.

 

O problema não é falta de clareza. O acordo climático negociado em Paris em dezembro de 2015, criou um objetivo simples de limitar o aquecimento global a 2 °C, e idealmente 1,5 °C, acima dos níveis pré-industriais, e os cientistas do clima definiram o que precisa ser feito para atingir esse objetivo.

 

Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas estimou que, para manter uma probabilidade de 50% de limitar o aquecimento a 1,5 °C, as emissões globais de carbono teriam de cair quase a metade até 2030, e atingir zero emissões líquidas no início da década de 2050; quaisquer emissões residuais teriam de ser compensadas através da sucção dos gases com efeito de estufa da atmosfera.

 

Em algumas medidas, houve progresso. Todos os 193 países que ratificaram o Acordo de Paris, apresentaram compromissos climáticos nacionais, e mais de 100 reforçaram os seus compromissos climáticos, durante os últimos dois anos. A disponibilidade de energia renovável está a acelerar, com 107 gigawatts de capacidade, mais do que a capacidade energética total combinada da Alemanha e Espanha, prevista para ser colocada em funcionamento este ano, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). E mais de 30 países, principalmente nações ricas, demonstraram que é possível reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e, ao mesmo tempo, aumentar o tamanho das suas economias, de acordo com o Breakthrough Institute.

 

 

Altos e baixos

No entanto, após uma breve queda durante a pandemia, as emissões de carbono relacionadas com a energia, atingiram um recorde de quase 37 mil milhões de toneladas em 2022, segundo a AIE. As emissões têm diminuído há décadas em muitos países ricos, mas não com rapidez suficiente para compensar os aumentos na China, na Índia e em outros países de baixo e médio rendimento.

 

A mais recente avaliação da ONU sobre o progresso ao abrigo do Acordo de Paris prevê que, até 2030, as emissões globais deverão cair apenas 0,3%, em relação aos níveis de 2019. Supondo que os países cumpram todos os seus compromissos e metas, o aquecimento global poderá ser limitado a cerca de 2 °C, de acordo com o Climate Action Tracker, um consórcio de investigadores que monitoriza as políticas climáticas governamentais. No entanto, com base nas políticas atuais, o consórcio afirma que o mundo está no caminho certo para algo mais próximo dos 2,7 °C.

 

O que o acordo de Paris não faz, é determinar quem deve fazer o quê, e até quando, para dobrar a curva. A implementação real está nas mãos de cada nação e região. A orientação existe sob o princípio de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, que remonta à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 1992. Segundo este princípio, os países ricos, que há muito beneficiavam dos combustíveis fósseis, concordaram em ser os primeiros a agir para reduzir as emissões. Em 1997, muitas destas nações tinham aceitado as primeiras metas de redução de emissões juridicamente vinculativas, ao abrigo do Protocolo de Kioto, a serem alcançadas, além de fornecerem apoio contínuo aos países mais pobres para o desenvolvimento sustentável.

 

 

Balanço global

Neste contexto, o acordo de Paris foi concebido como uma espécie de exercício de construção de confiança. Os países de baixo e médio rendimento concordaram que eles também reduziriam as emissões e prosseguiriam com as estratégias de desenvolvimento mais limpas. O primeiro balanço global dos progressos rumo ao acordo de Paris está previsto para ser concluído este ano. Todas as partes são instadas a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para atingir os seus objetivos e, à medida que a confiança e a cooperação aumentem ao longo do tempo, o mesmo acontecerá com a ambição climática.

 

No entanto, essa confiança é escassa. O ODS 13 também repete um compromisso específico que foi feito pela primeira vez na reunião falha de Copenhague em 2009: que os países ricos aumentariam o financiamento climático para 100 mil milhões de dólares anuais até 2020. Isto é apenas uma fração do que é necessário, e, 14 anos mais tarde, mesmo essa meta ainda não foi alcançada. Em contraste, entre o grupo de potências econômicas do G20, o apoio financeiro público aos combustíveis fósseis, mais do que duplicou entre 2019 e 2022, para 1,4 biliões de dólares, à medida que os preços da energia dispararam na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com o consórcio de investigação Energy Policy Tracker. Esse total inclui 440 mil milhões de dólares para apoiar o desenvolvimento de novos combustíveis fósseis.

 

O tempo não está do nosso lado. O mundo já está perto de 1,5°C de aquecimento. À medida que os impactos climáticos aumentam, propagar-se-ão em cascata pelas sociedades, tornando mais difícil alcançar outros ODS em áreas que vão do saneamento e da saúde pública à desigualdade, à pobreza e à fome.

 

Limitar o aquecimento tornará mais fácil alcançar outros objetivos, mas, como observamos no nosso editorial sobre o objetivo energético, ODS 7, pesquisas recentes mostraram que o inverso também é verdadeiro: quanto mais progressos os governos fizerem no desenvolvimento de soluções holísticas, que abordem os objetivos como um todo, mais fácil será alcançar os objetivos energéticos e climáticos.

 

O que o mundo precisa é de líderes que possam construir coligações políticas viáveis para promover um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e mais equitativo. Alguns chamam a isto a “transição justa”, de uma economia global baseada em combustíveis fósseis para uma economia impulsionada por energias limpas. O trabalho dos cientistas e acadêmicos é estar preparado para opções políticas quando esse dia chegar. Não é apenas a coisa certa a fazer; é também a nossa melhor esperança para o futuro.

 

 

Referente ao artigo publicado em Nature.

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