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Discurso do silêncio

Certa vez, ouvi uma apresentação que falava do poder cortante e lancinante do silêncio calado, no meio de uma conversação, ou discussão, ou numa palestra, ou onde quer que ele venha; engatinhando, correndo ou de mansinho. O silêncio, de fato, representa profícuas pausas, e é cheio de causas para que tenhamos a condição de meditar o que foi falado, e o que gerou um profundo diálogo nos pensamentos. “O silêncio define, delimita, exubera ou realça, tudo aquilo que dizemos”. Quando permitimos que ele passeie vagarosa e faceiramente, nas veredas e contentamentos de nossas comunicações, oferecemos sim, uma condição de intervalo e trégua, de crescimento, aprendizado e ensinamento. E nessas situações, nos permitimos relaxar a nossa caixa do pensar, para captar valores importantes, que haverão de ser tatuados na mente que bem decide, define, ou sabe falar, e calar. Para ouvir atenta”mente”, não basta ter ouvidos; é preciso parar de ter boca. O silêncio é uma grande arma contra a inveja, contra o falador contumaz, e contra a inquietação mental; ele é um aliado da saúde, da boa decisão, e da paz.

 

Na minha biblioteca, de livros publicados, ou encaixotados nos arquivos dos meus escritos, louvo e exalto a corrida histórica no tempo, do livro “Belchior, O Silêncio do Amor”. Hoje, também tenho ciência, que da minha consciência, neste calhamaço de páginas publicadas, falo mais sobre o valor e exuberância do amor, do que mesmo sobre o efeito do silêncio e do sumiço ou rebuliço psíquico, desse valor propriamente dito. O silêncio inspira e transpira para que encontremos o arco dos desejos; ele ilumina e mira o centro do alvo, da ação e dos ensejos. Algumas vezes, o silenciar evita a existência de acontecimentos que são factíveis de causar mais estragos do que soluções. Aí, gangorreia o efeito agressivo e devastador do descontrole egoico, que nos delimita e aprisiona, ocasionalmente, para fazer ou oferecer, no agir e nas palavras, erros e enganos. E acabamos por guilhotinar (ou silenciar) coisas que gerariam melodias de paz, alegrias, amor e o real prazer transformador. Isso tudo faz parte da vida. O discurso do silêncio fala da humildade que ele grita e manifesta, ou que aflora da sua instrução; a mercê da vontade incontida de muitos, de ser ouvido e considerado. Ele deixa um legado a reverenciar.

 

Imagine aqui, uma acirrada polêmica ou discussão e a fictícia situação, dos discursivos egos ficarem calados, e silenciarem como mudos, que não conseguem expressar qualquer verbete ou vocábulo – o abrir a boca não permitir, porém, sair uma palavra única que seja..!! Nessa circunstância (que flutua na licença literária do escritor), devaneio ou fantasio a situação real que os autores desse “diálogo interrompido” tratariam de usar outros artifícios para fazerem vencer seus argumentos; ou mesmo ficariam maravilhados, surpresos e extasiados, pelo efeito transformador, do amor que brota do silêncio de silenciar dores, horrores, brigas e rancores. Sartre disse assim: “cada palavra tem a sua consequência; cada silêncio, também”. Que o amor jamais seja emudecido; que exista, porém, o silêncio para ele ser louvado; não desprezado, rechaçado, ou subvalorizado. É isso meus amigos. O silêncio tem um poder gigante, muito maior do que imaginamos; ele faz o silenciador ser o vencedor, e transforma o momento, para nos instruir a vencer dores. O silêncio também “cria dúvidas”, esconde medos, grita para o ser inteligente, é um amigo que nunca trai; ele mexe na memória, no sono, nos desejos, na ânsia descontrolada, nos sentimentos, na escolha acertada. Meditemos, demoradamente e em silêncio, sobre isso – a mágica e sublime magia que ele nos traz, nos ensina, e faz…

 

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