“Calma. É só aos poucos que o escuro fica claro” – com essa reflexiva consideração de Guimarães Rosa, instigo o pensar de todos nós, e sobretudo e principalmente, o meditar de quem está vivenciando momentos de sofrer, e não consegue entender a avalanche de emoções descontroladas e de inquietações arremessadas no fogo da sua incompreensão. Quando somos fulminados por uma dor lancinante e desejamos minorar ou contornar a maledicência dum conflito desgastante, que a mente sofre ocasionalmente, precisamos primeiramente entender que, há a necessidade de esperar algum tempo para que apareça o claro, do escuro e da penúria do sofrer. Apoiemos e acendamos luzes, na hora obscura de quem sofre; dessa maneira simples, singela e sincera, já estaremos fazendo a vida valer a pena (a nossa e a de quem ajudamos). Na hora da inquietação mais severa do pensar, quando a turbulência psíquica liquidifica nossa habilidade de bem-ponderar, a mente mente pra gente; e frequentemente, nos induz a fazer, o que de repente, não é o mais conveniente.
Somos, no instante agudo da dor tão desgastante, um ensopado de desejos descontrolados e de ânsia de compreender. Nesse processo de triturar o que não entendemos, definiremos e encontraremos pessoas que nos ajudam a superar e aceitar o que carece ser considerado. Não existe nem nunca existirá o dorômetro que seja factível de atestar a dimensão do que sentimos; pois cada dor, cada circunstância, cada acontecer, e cada ser, representa uma individual singularidade e um específico sentir e padecer. Mergulhados nor mar da vontade de entender, nos deixamos banhar pelas gotas da nossa ignorância, dos limites e de nossa fragilidade e desesperança; algumas vezes, da nossa própria arrogância de não frear o que merece e precisa ser parado, de travar a língua que carece ser calada, e de ponderar ações que necessitam ser apreciadas. A calma chama para perto de nós, a razão, a serenidade e a virtude; essas que voam, quando se acentua e de exaspera a lama da alma sofrida.
No tormento e sofrimento que inquieta a mente, a calma que ilumina a alma, não aparece de repente. Ela passa por um processo, um aperto, uma questão, um conserto, um desassossego, uma dúvida, uma imprevisão, uma incerteza, um reparo, e uma indecisão. Um amigo ausente, na hora da precisão, traz muito penar e aflição. Na dor severa, que não se espera, somos tomados por um punhado de emoções, e um enxame de pensamentos descontrolados que, muitas vezes, não conseguimos resolver, ou contornar. Como numa equação que não tem solução, assim pensa a mente que se esparrama no medo da solidão e da imprecisão, quando está tomada pelo pavor da dor que não compreende. Levados pela correnteza de um moderado desvalor, um “caos”tigante desamor, e um equivocado desamparo, vamos caminhando a tempestade da dor, até chegar o claro do céu da alegria, da paz e da mansidão que se conjectura. Paciência, ciência e consciência – louvemos esse precioso trio que clareia a mente, irradia a alma e acalma. Cicatrizes existem e são corrigidas, pela bondade, generosidade, humildade e caridade – Eis a calma do claro.
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