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Até 90% das mulheres com Síndrome do Ovário Policístico têm resistência insulínica

“Desregulação do funcionamento ovariano, alteração no eixo neuroendócrino e resistência à insulina são as três principais alterações envolvidas na síndrome dos ovários policísticos (SOP), uma condição clínica complexa e heterogênea, cuja prevalência mundial varia de 6% a 15% das mulheres em idade reprodutiva”, revela Dra. Larissa Garcia Gomes, endocrinologista palestrante do 15º Congresso Paulista de Endocrinologia e Metabologia – COPEM 2023, organizado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP). O evento acontece de 4 a 6 de maio, no Centro de Convenções Frei Caneca.

Dra. Larissa explica melhor sobre tais alterações. A primeira delas diz respeito às células dos ovários das mulheres com a SOP: eles apresentam uma maior capacidade intrínseca de produzir andrógenos, ou seja, testosterona e precursores da testosterona. Esse excesso hormonal vai levar aos sintomas típicos de excesso de pelos e acne. Além disso, o desenvolvimento dos folículos ovarianos fica anormal: a mulher não ovula mensalmente e o ciclo menstrual se torna irregular.

A segunda alteração é no eixo neuroendócrino hipotálamo-hipófisário. “A hipófise produz os hormônios LH e FSH, responsáveis pela regulação da produção dos hormônios ovarianos, o desenvolvimento dos folículos e a ovulação. O eixo neuroendócrino das mulheres com SOP apresenta um típico padrão alterado de secreção dos hormônios LH e FSH, predominando o efeito do LH – que estimula a produção de testosterona – associado à diminuição da ação do FSH, interrompendo o desenvolvimento dos folículos e consequentemente da ovulação”, explica a endocrinologista especialista em endocrinologia feminina.

A terceira alteração decorre da resistência insulínica presente em 80-90% das mulheres com SOP, mesmo nas mulheres magras. O excesso de insulina tem uma ação direta nos ovários estimulando a produção de testosterona, além de agir nos tecidos periféricos como tecido adiposo e músculo promovendo uma inflamação crônica de baixo grau e aumento de risco de doenças metabólicas. “Portanto, a SOP é uma doença reprodutiva e metabólica”, destaca a médica, que será conferencista no COPEM 2023 com a pauta “Desconstruindo a síndrome: os múltiplos mecanismos envolvidos na síndrome dos ovários policísticos”.

Segundo a endocrinologista, os estudos genéticos mais recentes trouxeram muitas descobertas sobre os múltiplos mecanismos envolvidos na síndrome, e indicam que o Critério de Rotterdam utilizado atualmente para diagnóstico não discrimina as diferentes formas de apresentação da síndrome e as diversas vias envolvidas na patogênese.

“Nosso trabalho realizado no Hospital das Clínicas de São Paulo (link aqui) estudou um subgrupo 53 mulheres com SOP e apresentação clínica de SOP não usual, como ausência de menstruação espontânea, aumento de hormônios da suprarrenal e diabetes muito precoce, através de sequenciamento genético de nova geração. Nesse estudo fomos capazes de identificar genes potenciais associados ao quadro em 18,8% dessa população”, conta a palestrante do COPEM 2023.

Para ela, o futuro do diagnóstico está nas análises genéticas que permitam desvendar as diversas etiologias da SOP e, dessa forma, possibilitar uma abordagem de Medicina de precisão, ou seja, uma abordagem diagnóstica e de tratamento que alia os dados clínicos convencionais com os dados genéticos.

O tratamento da SOP – ainda se baseia na resolução dos sintomas. Os contraceptivos hormonais combinados continuam como primeira linha para tratamento dos sintomas de acne, excesso de pelos e irregularidade menstrual. A metformina segue como a medicação de primeira linha para tratamento da síndrome metabólica associada à SOP. Os medicamentos atuais que ainda não entraram nos Consensus de tratamento, mas que demonstram eficiência, são os agonistas dos receptores de GLP1 como liraglutida e semaglutida. “Essas medicações são bem estabelecidas para tratamento das comorbidades típicas da SOP como obesidade e diabetes, mas alguns estudos também têm demonstrado uma melhora da parte hormonal e reprodutiva da SOP com essas medicações”, detalha a endocrinologista que também é membro da SBEM-SP.

A SOP é uma doença complexa em que os fatores ambientais, especialmente a dieta hipercalórica levando ao ganho de peso e o sedentarismo são componentes que favorecem com que a doença se agrave. Em contrapartida, a perda de 10% do peso corporal pode melhorar, além do quadro metabólico, o hiperandrogenismo e a taxa de ovulação. Portanto, um estilo de vida saudável com dieta rica em fibras e pobre em açúcares e gorduras saturadas associada à atividade física regular tem impacto muito positivo nos sintomas

Fonte – SBEM-SP

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