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Régis: sete dias

Há momentos que se eternizam para sempre em nossas mentes; outros, se evaporam na poeira do tempo. Aqui, nessa mensagem e redação, pelo silêncio momentâneo da transformação do meu iluminado irmão, deixo um registro de gratidão. E a certeza ensinada por Ele, de uma grande lição: “faça a vida valer a pena”; enobrecendo o grande valor da vida, que vale a pena ser vivida.

Como estudioso da mente e das perdas, sinto um algo que não se explica, e que não se precisa entender.

Eu disse na última comunicação postada no meu celular, para meu “anjêmeo protetor” – aos 30 minutos do dia 23 de janeiro – Tudo se resolverá na bênção do bom Deus; durma tranquilo, encha o peito de ar com delicadeza, serenidade, paz no coração e certo de que todos ficaremos muito felizes com sua melhora progressiva; Deus te proteja e ilumine sua noite e sua recuperação. Em poucas palavras, depois de 17 minutos, Ele assim me respondeu… “viver e viver bem”. Essa foi sua derradeira postagem.

Dia 14 de janeiro fiz a última cirurgia com a presença física do meu irmão. Pela manhã, Ele curou um paciente e Eu o auxiliei; à tarde, Eu operei uma jovem senhora e Ele me ajudou, com seu carinho e entusiasmo de sempre. No dia seguinte, Ele já estava com sintomas da doença.

Numa de suas últimas comunicações nas redes sociais, já internado, o Mano assim expressou sua grandeza espiritual: “conhecemos pouco da vida e devemos ser humildes diante do próximo e durante todo tempo que ainda possamos ter aqui”.

Sempre refutou nossa ida para visitá-lo. Decerto, temendo o risco da proximidade. No dia da entubação cheguei perto Dele; e, perplexo, de imediato, um pouco assustado e surpreso, Ele pediu uma máscara. No pequeno e rápido diálogo, entre poucas palavras de emoção, Ele disse: “meu irmão fique tranquilo, eu vou voltar”. “Eu gostaria que ninguém de nossa família me visitasse enquanto Eu estiver entubado”. Sempre querendo nos proteger. Transmitiu mensagens para os filhos e para todos, e terminou dizendo – “grande abraço para o papai e para a mamãe”. Hoje, digo – enquanto Eu existir, farei cumprir sua promessa.

Você voltará em todo gesto de amor que vivermos, em cada boa essência humana espalhada, no bem servir, no semeio da paz, na luz da solidária e silenciosa ação, na paixão ao bem viver, na razão dos seus filhos, na emoção trilhada na mente, nos instantes de alegria, na doação aos pacientes, na lembrança diária e onde existir Deus.

Quase 25 dias depois de entubado chegou a ter algum nível de interação e comunicação, abrindo os olhos ou fechando a boca, após ser solicitado. Foi vencido, porém, pela intempestiva agressão das recidivantes infecções, que atingiram seu combalido corpo.

A partida do meu irmão mexeu no nosso ser, no sentir e no querer; precisamos porém, continuar avantes semeando paz, amor e alegria; e fazendo uma boa mudança no Mundo.

Régis suscitou ao terceiro dia da sua morte, uma extrema sensação de impotência, de incompletude, de uma falta angustiante, de um vazio cheio de bons valores, vindos da grandeza Dele e de sua ausência. Ele estava agora na casa do Pai celestial; e, intensamente, nas nossas mentes. Há dias em que somos e seremos mais serenos; noutros momentos, mais saudosos e pensativos. Insistentemente, louvando o existir e agradecendo.

Na hora da morte foi guerreiro, assim como se comportou em toda sua luta contra os efeitos do Covid. A pressão baixava em níveis inaceitáveis mesmo com altas doses de droga para mantê-la normal. O pulso diminuiu; ficou mais lento; subiu novamente; reduziu de novo; a saturação caia; a frequência cardíaca chegou próximo de 46; subiu mais uma vez; no fim, o monitor apagou todos os registros. Parou? A pressão, mesmo baixíssima, reapareceu no monitor. Estávamos ali, Eu, um outro irmão e uma amiga enfermeira. Essa alternância me fez lembrar a relutância de morrer; o valorizar a vida, o fazer valer a pena o viver…

Nossa gratidão também a todos que lutaram para vê-lo curado. Meu abençoado irmão Régis. Interceda por todos nós. Hoje, Você é uma energia diferente num lugar iluminado; eu escolhi estar com você todos os dias, enquanto eu existir. Seja feliz na sua morada eterna.

 

Autor:

Russen Moreira Conrado
Cirurgião plástico e psicoterapeuta

 

 

 

 

 

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