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Depressão e transtornos de ansiedade durante a pandemia de COVID-19: conhecidos e desconhecidos

Aproveitando os melhores dados disponíveis de pesquisas em todo o mundo, com medições de ansiedade e depressão antes e durante a pandemia, e analisando esses dados usando o modelo Global Burden of Disease Study (GBD), a COVID-19 Mental Disorders Collaborators, fornecem uma visão global sobre o peso da depressão e dos transtornos de ansiedade durante a pandemia, até o momento.

Os autores estimaram um aumento significativo na prevalência de ambos os transtornos depressivos maiores, com um adicional estimado de 53,2 milhões casos em todo o mundo, ou seja, um aumento de 27,6%, e transtornos de ansiedade com 76,2 milhões de casos adicionais, ou seja, um aumento de 25,6%, desde antes da pandemia. O aumento da prevalência foi observado para homens e mulheres ao longo da vida. Essas descobertas são ainda mais preocupantes, porque os transtornos depressivos e de ansiedade já eram as principais causas de incapacidade em todo o mundo.

O estudo tem pontos fortes únicos. Primeiro, usando o modelo GBD, ele traduz estimativas brutas de pesquisas heterogêneas em números de casos adicionais, e anos de vida ajustados por incapacidade. Isso torna as descobertas mais tangíveis para os formuladores de políticas, acadêmicos, instituições de caridade e o público em geral. Em segundo lugar, o estudo aproveita os dados sobre os indicadores de impacto da COVID-19, ou seja, mobilidade humana, taxas de infecção de SARS-CoV-2 e excesso de mortalidade.

Os colaboradores de transtornos mentais da COVID-19, estimaram esses indicadores para todos os países e territórios, e os usaram para informar a extrapolação das mudanças na prevalência para países, sem dados de pesquisa disponíveis. Além disso, os autores avaliaram a generalização de suas estimativas para países sem pesquisas disponíveis, usando uma abordagem de validação cruzada “leave-one-country-out”, na qual as mudanças na prevalência foram estimadas usando o modelo GBD, como se os dados da pesquisa para um país não fossem disponíveis, e a previsão foi então comparada com os dados reais da pesquisa.

O estudo também tem algumas limitações importantes, em grande parte resultantes dos dados disponíveis, e não da abordagem usada para analisá-los. Primeiro, medições diretas sobre mudanças na prevalência de transtornos depressivos e de ansiedade, não estão disponíveis em grandes regiões do mundo, por exemplo, na América do Sul e na África. Para essas regiões, o modelo GBD deve extrapolar as estimativas de outras regiões, por exemplo, os EUA ou a Europa, que são muito diferentes em muitos níveis, econômica, demográfica, política e culturalmente. Essa extrapolação pode não ser confiável, conforme mostrado nos resultados da validação cruzada. Por exemplo, o modelo GBD prevê um aumento substancial na prevalência de transtorno depressivo maior na Dinamarca, e quase nenhuma mudança na China, enquanto o oposto é observado em pesquisas.

Em segundo lugar, a maioria dos dados disponíveis é baseada em escalas de autorrelato, por exemplo, Patient Health Questionnaire-9 ou General Anxiety Disorder-7 [GAD-7], que medem sintomas em vez de diagnósticos reais. Embora tanto os sintomas quanto os diagnósticos sejam importantes, a diferença entre eles é relevante no contexto de pandemia. Um diagnóstico de transtorno de ansiedade, de acordo com a décima Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, exige que os indivíduos reconheçam seu sofrimento emocional como excessivo ou irracional. O GAD-7 não captura esse aspecto. Para um indivíduo com alto risco de complicações da COVID-19, sentir-se constantemente nervoso e com medo não seria irracional, e portanto, não atende aos requisitos para um transtorno de ansiedade, ainda assim resultaria em uma pontuação GAD-7 alta.

Finalmente, o estudo não foi capaz de identificar o que está causando o aumento da carga do transtorno depressivo maior e da ansiedade. Em particular, as contribuições relativas para a prevalência de depressão e transtornos de ansiedade de consequências diretas da doença COVID-19, algumas medidas usadas para conter a propagação do vírus, como por exemplo, os bloqueios), e outros correlatos da pandemia, por exemplo, austeridade econômica, ainda permanecem indefinidos. Ao sintetizar os melhores dados disponíveis, este estudo não apenas revela o que sabemos, mas também, crucialmente, expõe o que ainda não sabemos. Essas incógnitas conhecidas têm implicações para a interpretação dos resultados. A escassez de medições diretas na maioria dos países, implica que os resultados são incapazes de informar sobre países específicos, que foram mais afetados do que outros.

Os programas de ajuda voltados para a melhoria da saúde mental da população são claramente necessários, e este estudo é incapaz de sugerir países específicos, a serem almejados primeiro. A medição dos diagnósticos clínicos, será necessária para planejar a prestação de serviços, determinar o peso da pandemia em termos de transtornos mentais, e prever as consequências sociais e econômicas. Crucialmente, identificar mecanismos causais, e mecanismos modificáveis ​​em particular, será importante para projetar e entregar as intervenções certas para as pessoas certas.

Os resultados deste estudo devem incentivar urgentemente mais pesquisas, para determinar a distribuição geográfica mais completa dos transtornos de depressão e ansiedade, a prevalência de transtornos depressivos e de ansiedade e os mecanismos subjacentes, para melhorar a saúde mental no contexto da pandemia COVID-19 em todo o mundo.

 

Referente ao comentário publicado na The Lancet

 

 

 

Autor: 
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

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