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O que acontece com menstruação após a vacinação contra a Covid-19?

Evidências mais recentes sobre alterações no ciclo menstrual feminino após a vacinação são limitadas, mas tranquilizadoras.

A vacinação contra a Covid-19 fornece proteção contra as consequências potencialmente graves da infecção por SARS-CoV2, mas à medida que as vacinas foram lançadas em faixas etárias mais jovens, os médicos foram cada vez mais abordados por pacientes preocupadas, com o fato de a vacina ter causado uma mudança em seus períodos menstruais.

Mais de 36.000 notificações de alterações menstruais ou sangramento vaginal inesperado, após a vacinação contra a Covid-19, foram feitas até agora, ao esquema de vigilância administrado pela Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA). A MHRA não coleta dados de comparação de pessoas não vacinadas, e esses dados não podem ser usados ​​para estabelecer se as alterações menstruais aumentam após a vacinação. Um sinal semelhante apareceu no sistema de notificação de eventos adversos de vacinas dos EUA (VAERS) e, como resultado, os Institutos Nacionais de Saúde alocaram US$ 1,67 milhão (£ 1,2 milhão; € 1,4 milhão) para a pesquisa de uma possível conexão.

O primeiro desses estudos já foi divulgado. Os autores aproveitaram um conjunto de dados existente, de um aplicativo de rastreamento de ciclo menstrual: 3.959 norte-americanas registraram pelo menos seis ciclos consecutivos; 2.403 delas foram vacinadas e o restante atuou como grupo controle. Nos modelos ajustados, a primeira dose da vacina não teve efeito no momento do período subsequente, enquanto a segunda dose foi associada a um atraso de 0,45 dias.

As mais afetadas foram as 358 mulheres que receberam as duas doses da vacina no mesmo ciclo, apresentando um atraso de 2,32 dias para a próxima menstruação. Entre esse grupo, 10,6% experimentaram uma mudança na duração do ciclo de mais de 8 dias, o que é considerado clinicamente significativo, em comparação com 4,3% na coorte não vacinada. Em todos os grupos, a duração dos ciclos voltou ao normal, em dois ciclos após a vacinação.

Um estudo do Instituto Norueguês de Saúde Pública perguntou a uma coorte pré-existente de 5.688 norueguesas, se elas haviam experimentado alterações menstruais específicas, como sangramento inesperado ou dor menstrual pior do que o normal, nos ciclos antes e depois de cada dose de vacina. O alto nível de variação nos ciclos normais é sublinhado, pela constatação de que 37,8% das participantes relataram pelo menos uma alteração do normal mesmo em ciclos pré-vacinais.

O estudo identificou sangramento mais intenso do que o normal como a alteração mais associada à vacinação, sendo na primeira dose um risco relativo de 1,9; e na segunda dose: um risco relativo de 1,84. Mas os resultados de ambos os estudos são tranquilizadores: as alterações no ciclo menstrual ocorrem após a vacinação, mas são pequenas em comparação com a variação natural, e revertem rapidamente.

Mas até que ponto esses resultados são aplicáveis ​​ao Reino Unido e no resto do mundo? Ao contrário dos EUA e da Noruega, onde o intervalo entre as duas primeiras doses da vacina é de 3 a 4 semanas, o intervalo no Reino Unido é de 8 semanas. De acordo com o calendário de vacinação do Reino Unido, portanto, é impossível receber as duas doses da vacina no mesmo ciclo, e isso pode significar que as mudanças observadas nos EUA e na Noruega, não ocorram aqui.

Espera-se que um estudo usando dados de usuários do Reino Unido, do mesmo aplicativo de rastreamento de ciclo menstrual que no estudo dos EUA, esclareça esse ponto em breve. Nesse ínterim, o MHRA diz que as evidências atuais não suportam uma ligação entre as alterações nos períodos menstruais e a vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido, e continua a aconselhar que qualquer pessoa que perceba uma alteração em seus ciclos, e que persista por vários ciclos seguintes, ou que tenha qualquer novo sangramento vaginal após a menopausa, devem ser tratados de acordo com as vias clínicas usuais.

Perguntas não respondidas

Aproveitar conjuntos de dados e coortes pré-existentes, significa que conseguimos progredir nessas questões em pouco tempo, mas ainda há muito a aprender. Cientificamente, será importante caracterizar o mecanismo pelo qual ocorrem as alterações menstruais pós-vacinais. Do ponto de vista médico, também devemos determinar se algum grupo de mulheres é particularmente vulnerável, por exemplo, aquelas com condições ginecológicas pré-existentes, para que possam ser aconselhadas adequadamente.

Já existem evidências de que a infecção por Covid-19 pode alterar os períodos menstruais, mas definir melhor a extensão e a persistência dessas alterações, também será importante no aconselhamento das mulheres sobre os riscos e benefícios da vacinação.

Grande parte da preocupação pública em torno dessa questão, surge da desinformação de que as vacinas contra a Covid-19, causam infertilidade feminina. Embora já tenhamos evidências de que esse não é o caso, isso vem dos ensaios clínicos, nos quais as taxas de gravidez foram extremamente baixas, porque as participantes estavam usando contracepção e clínicas de fertilidade, onde as usuárias não refletem necessariamente a população mais ampla.

Estudos das taxas de gravidez, em casais que tentam conceber através da relação sexual, são necessários, e eles também devem incluir análises dos efeitos de ter Covid-19, porque as evidências sugerem que a infecção pode reduzir a contagem e a qualidade do esperma. Uma compreensão mais profunda dos efeitos da infecção e da vacinação sobre a fertilidade, permitirá um melhor aconselhamento de pacientes para os quais isso é de particular preocupação.

O trabalho realizado representa um passo na direção certa, mas o fato de termos demorado tanto para chegar aqui reflete a baixa prioridade com que a saúde menstrual e reprodutiva, é frequentemente tratada na pesquisa médica. O interesse generalizado neste tópico destaca o quão premente é esta uma preocupação para o público feminino. É hora de começarmos a ouvi-las.

 

 

Autor: 
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com  

 

 

 

 

 

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