fbpx

Imunidade e infectividade na Covid-19

Compreender como avaliar, e saber como comunicar aos seus pacientes, o risco de transmissão e o grau de imunidade contra o SARS-CoV-2, é importante para todos os profissionais de saúde.

A base de evidências ainda em evolução sobre infectividade (quando ainda se transmite a infecção para outra pessoa), risco de transmissão, risco de reinfecção (que é dependente das novas variantes circulantes) e imunidade (que é influenciada pelo declínio da imunidade pós-infecção e pós-vacinação), pode tornar isso muito desafiador. Existem várias razões pelas quais os indivíduos com Covid-19, e os profissionais de saúde que cuidam deles, estão interessados ​​em entender, se eles ainda são infecciosos:

Pela preocupação individual em transmitir a infecção a outras pessoas.
Sobre como os profissionais de saúde devem fazer uma avaliação de risco antes da alta do paciente ou mesmo de intervenções invasivas.
Sobre como os formuladores de políticas públicas de saúde devem fornecer recomendações de redução de risco.

Este artigo, revisa os princípios básicos inerentes à infecção pela Covid-19, e explica como a interpretação de dados laboratoriais, incluindo o teste de reação em cadeia da polimerase (PCR), o teste rápido de fluxo lateral baseado em antígeno (TRA), e a sorologia de anticorpos, pode apoiar as discussões. Aqui está tudo o que você precisa saber.

– O risco de transmissão do SARS-CoV-2 é maior imediatamente antes do início dos sintomas, e no início do período sintomático.
– Não há marcador substituto para determinar a infectividade: a positividade da PCR superestima a duração da infectividade e pode levar a consequências negativas, como atraso na cirurgia, atraso no acesso aos cuidados de saúde, e um congestionamento dos sistemas de saúde; a cultura do vírus não é prática comum; e os testes de fluxo lateral negativos, não equivalem exatamente a não infectividade.
– As decisões relacionadas ao risco de transmissão devem levar em consideração todos os fatores individuais relevantes, incluindo o risco geral de infecção na comunidade, a capacidade do indivíduo de cumprir as medidas de prevenção, seu ambiente doméstico e de trabalho, e o perfil de risco de seus prováveis futuros contactantes próximos.

Quando um indivíduo não é mais infeccioso?

Não há dados suficientes para delinear com precisão, quando um indivíduo não é mais infeccioso, e o risco é um continuum com considerável variabilidade interpessoal. As avaliações de risco individuais provavelmente sempre serão necessárias (caixa 1) e precisarão levar em consideração o risco geral de infecção na comunidade, incluindo os riscos apresentados por novas variantes (caixa 2).

Caixa 1: O que considerar quando um paciente pergunta se ainda é infeccioso
Entenda o motivo da pergunta. Explore as preocupações do paciente e a natureza específica da pergunta.
Veja as consequências de rotular o indivíduo como “infeccioso” (psicológicas, níveis de pessoal, alta atrasada, cirurgia atrasada, etc.).
Avalie as consequências de não considerar o indivíduo como potencialmente infeccioso.
Avalie o risco deste indivíduo em relação ao risco da comunidade mais ampla.
Entenda os resultados de testes como PCR, antígeno e anticorpo, somente marcadores substitutos.
Discuta a infectividade em termos de níveis de risco.
Aconselhe sobre medidas para reduzir esse risco (como toilette da tosse, distanciamento social, uso de máscara/cobertura facial (diferentes graus de máscara oferecem diferentes níveis de proteção), proteção para os olhos, higiene das mãos).
Aconselhe que, embora os pacientes possam ter sintomas persistentes após a infecção, que são problemáticos, eles não são indicativos de infecção em andamento, e nem de infectividade em andamento.

Caixa 2: Exemplo de uma avaliação de risco individual de infectividade
Um indivíduo imunocompetente, que teve uma doença leve e se recuperou após sete dias, pergunta quando não será mais infeccioso. Ele trabalha no comércio, canta em um coral e é o principal cuidador de um parente idoso, para quem não têm um cuidador alternativo confiável. Ele está preocupado em passar a infecção para seus colegas de trabalho, amigos do coral e a seu parente idoso.
Conselho para esse paciente
Não existe um ponto de corte exato, para quando alguém não é mais infeccioso. No entanto, em um estudo de pessoas com doença leve, nenhuma transmissão ocorreu cinco dias após o início dos sintomas. A análise de outros dados levou os cientistas a concluírem que, a transmissão após 10 dias é extremamente improvável.
Se pode definitivamente retornar ao seu trabalho após 10 dias, conforme a recomendação do governo. É extremamente improvável que se seja infeccioso depois desse tempo. Na verdade, se corre muito menos risco do que outras pessoas que ainda não tiveram o vírus. Pessoas que foram infectadas, podem não saber, mas estarão no estágio mais infeccioso, que é o que acontece logo no início da Covid-19.
Mesmo que seja muito improvável que ainda se seja infeccioso, recomenda-se adiar o retorno ao coral, talvez até depois de três semanas. Isso ocorre simplesmente porque se pode evitar o retorno ao coral, sem nenhum prejuízo significativo para ninguém, e porque sabe-se que cantar aumenta o risco de transmissão e, embora a transmissão após o dia 10 seja extremamente improvável, quanto maior o intervalo desde o momento da infecção, menor o risco. Sabe-se que o vírus foi cultivado em um indivíduo imunocompetente 18 dias após o início dos sintomas, razão pela qual se sugere três semanas de intervalo. Da mesma forma, deve-se decidir o adiamento de visita a familiares idosos ou vulneráveis, ​​que não precisam visitar, devido ao risco potencial muito pequeno.
No entanto, caso se seja o principal cuidador de um parente idoso, é importante visitá-lo, pois haveria risco de danos, se não se pudesse cuidar dele. Nesse caso, pode voltar a cuidar deles, pois é extremamente improvável que você seja infeccioso nesta fase. Mas sugere-se que se preste muita atenção às várias medidas preventivas, como o distanciamento social, o uso de máscara e a higiene das mãos, como uma precaução adicional.

Os indivíduos são mais infecciosos nos estágios iniciais da doença, imediatamente antes e logo após o início dos sintomas. As intervenções que visam esse período de maior risco, como identificação e modificação comportamental de indivíduos com a doença inicial, provavelmente terão maior impacto no controle geral da transmissão. A infectividade e a carga viral diminuem desde o início dos sintomas.

Em um estudo, nenhuma transmissão ocorreu após o quinto dia de sintomas, mesmo em contatos domiciliares. Em casos leves a moderados, os indivíduos são considerados altamente improváveis ​​de serem infecciosos além de 10 dias. Por outro lado, a ênfase nos últimos estágios da recuperação (por exemplo, demonstrar a negatividade da PCR em pacientes em recuperação), provavelmente não terá um impacto significativo na transmissão, e pode levar a consequências negativas não intencionais, como atraso na cirurgia, atraso no acesso aos cuidados de saúde, e bloqueio de sistemas de saúde. E ainda pode ter um papel negativo em certas circunstâncias (por exemplo, entre pacientes imunocomprometidos).

As diretrizes em todo o mundo fornecem recomendações sobre quando é seguro retornar ao trabalho, amplamente baseadas no provável período infeccioso. Essas diretrizes continuam a evoluir e podem ser consultadas para obter informações atualizadas. Não há mais uma exigência legal no Reino Unido para que alguém que tenha Covid-19 se auto-isolar, embora ainda seja recomendado.

No País de Gales, os profissionais de saúde são aconselhados a se auto isolarem, e a retornarem ao trabalho quando tiverem dois resultados negativos do teste de fluxo lateral, obtidos com 24 horas de intervalo, começando cinco dias após a data do teste inicial positivo. Aqueles que continuam com teste positivo são aconselhados a continuar testando até o dia 10. Se ainda forem positivos nesse momento, é considerado improvável que ainda sejam infecciosos, e podem retornar ao trabalho desde que estejam clinicamente aptos.

Os pacientes hospitalizados são normalmente mantidos em isolamento por 10 dias, a partir do início dos sintomas, e 14 dias para aqueles que estão gravemente imunocomprometidos; eles podem então parar de se isolar, desde que estejam afebril por 48 horas, e todos os seus sintomas (exceto tosse e anosmia), tenham sido resolvidos. Isso pode ser reduzido, se eles atenderem a esses critérios clínicos e tiverem dois resultados negativos do teste de fluxo lateral, obtidos com 24 horas de intervalo, começando seis dias após a data do teste inicial.

Viagens internacionais e escolas são outras áreas, onde o risco de transmissão foi examinado. No caso de viagens internacionais, a preocupação está principalmente relacionada à disseminação de variantes infecciosas, com graus variados de capacidade de infectar indivíduos vacinados. Ainda há um potencial para disseminação global de uma variante mais virulenta do SARS-CoV-2. No entanto, a onda Omicron atenuou amplamente esses medos por enquanto. Além disso, as tentativas de impedir a infiltração de variantes por meio de restrições de viagem, até o momento foram amplamente malsucedidas, exceto em países onde restrições de viagem muito rígidas são implementadas, antes de qualquer ameaça de introdução da nova variante (por exemplo, Nova Zelândia).

Os riscos de transmissão nas escolas precisam ser equilibrados com o impacto negativo no bem-estar mental e na educação das crianças, principalmente porque a maioria das crianças tem baixo risco de complicações por Covid-19.

Todos os indivíduos são igualmente infecciosos?

Os indivíduos não são igualmente infecciosos. A transmissão posterior, varia de acordo com o hospedeiro específico, e com fatores de contato e a natureza da exposição (caixa 3). A transmissão está relacionada principalmente ao contato direto com um indivíduo infectado. Em um estudo, as taxas de transmissão em trens foram mais altas naqueles em assentos adjacentes (taxa de ataque de 3,5%) e aumentaram com o tempo de exposição (0,15% por hora), e com a maior proximidade.

A transmissão em passageiros que ocuparam imediatamente o assento vago de um indivíduo positivo, ocorreu em apenas um dos 1.342 casos (0,075%). Os contatos domiciliares (11,8%) são mais propensos do que os contatos não domiciliares (1,2%) a desenvolver a doença.

Caixa 3: Fatores associados ao aumento do risco de transmissão
Meio Ambiente
Dentro de casa
Ventilação deficiente
Aglomeração
Proximidade (aproximadamente < 2 metros, mas com transmissão contínua, quanto mais longe melhor)
Instalações compartilhadas
Temperatura ambiente fria
Baixa umidade
Fatores do hospedeiro
Recentemente infectado (maior risco no momento do início dos sintomas)
Cargas virais mais altas
Doença grave (razões de risco 3,76 e 3,99 para pneumonia grave e síndrome do desconforto respiratório agudo)
Idade avançada
Comorbidades presentes
Portador de doença com imunocomprometimento
Comportamental de risco
Cantar, gritar, cantarolar
Presença de tosse e má etiqueta da tosse
Presença de espirros
Abraçar, beijar
Falta do uso da máscara facial
Falta de higiene das mãos
Realização de procedimento com geração de aerossol
Maior duração do contato
Fatores virais
Alterações no genoma viral têm sido associadas ao aumento da transmissibilidade (por exemplo, D614G e variante de preocupação VOC-202012/01, ambas com alterações na proteína spike)
Investigações de surtos demonstraram taxas de ataque muito altas em alguns cenários específicos. Esses eventos de grande escala, ou “super disseminadores”, são caracterizados por crescimento precoce explosivo e transmissão sustentada em estágios posteriores, com 20% dos indivíduos infectados desencadeando 80% dos todas as infecções. Como a transmissão é de natureza imprevisível e aleatória (estocástica), deve-se ter o cuidado para não interpretar demais os dados de pequenos grupos.

Que outros fatores afetam o risco de transmissão?

A transmissão também é influenciada por fatores externos, que devem ser considerados como parte de qualquer avaliação (caixa 3):

Medidas de prevenção 🡺 máscaras, distanciamento social, estado de vacinação, higiene das mãos, etc.
A atividade que está sendo realizada, como canto em coral, por exemplo
O ambiente (o risco é maior em instalações lotadas ou compartilhadas, e se a ventilação for ruim)
A suscetibilidade e risco de doença grave entre os contatos.

Os indivíduos são mais infecciosos antes e logo após o início dos sintomas. A infectividade diminui a partir de então, com transmissão após o dia 10 considerada extremamente improvável, após doença leve ou moderada. Pessoas imunocomprometidas e aquelas com doença grave, tendem a ser infecciosas por um período mais longo e indefinido.

A resolução dos sintomas é tranquilizadora, significando desenvolvimento de imunidade com provável redução do risco de transmissão. Outras medidas preventivas (higiene das mãos, uso de máscara, distanciamento social) reduzem ainda mais o risco residual.

Quais marcadores específicos são usados ​​para decidir sobre a infectividade?

Atualmente, não existe um marcador específico ideal para determinar a infectividade (caixa 4). A cultura viral não é um teste disponível rotineiramente na maioria dos ambientes. A PCR superestima a duração da infectividade, mas pode subestimar o risco, em virtude de resultados falsos negativos. Dispositivos de fluxo lateral (TRA) identificam os indivíduos mais infecciosos de forma confiável, mas não detectam todos os indivíduos infecciosos. Os TRAs não têm os mesmos problemas de positividade residual que o PCR.

Caixa 4: Quais são os Prós, Contras, que pode superestimar ou subestimar a infectividade, e os limites de detecção de cada método diagnóstico após o início dos sintomas?
Cultura do vírus 🡺 Confirma a presença de vírus intacto, viável e potencialmente infeccioso. Também seria um substituto para infectividade. Mas requer um laboratório de categoria 3 ou 4, e não está disponível rotineiramente, sendo difícil de executar. O vírus é depositado em um ambiente favorável, e se faz o uso de uma linhagem celular em vez de um hospedeiro natural. Há um atraso na inoculação (morte do vírus em trânsito), e o tempo máximo é de 119 dias (em um indivíduo imunocomprometido), para doença leve 8 dias e para doença grave 111 dias.
PCR 🡺 o vírus pode ser desativado antes do processamento. Requer laboratório de categoria 2. Está amplamente disponível e tem um tempo de resposta rápido, com o resultado confidencial. Fornece um resultado semiquantitativo. O PCR detecta fragmentos virais e/ou RNA morto e tem uma taxa de falsos positivos desconhecida, mas estimativa de 0,8 a 4,0%. A taxa de falsos negativos é aproximadamente de 10 a 30%. O tempo máximo é de 156 dias, mas o tempo médio para um teste negativo do trato respiratório superior é de 14 a 24 dias.
Teste de fluxo lateral ou Teste Rápido de Antígeno 🡺 Teste de pronto de atendimento: resultados em 20 minutos. Pode ser tomado regularmente. Há opções minimamente invasivas disponíveis. Não é necessário transporte, infraestrutura laboratorial, validação ou comunicação de resultados. É menos sensível que o PCR e menos propenso a superestimar a infectividade, mas há variabilidade entre os usuários. Pode haver resultados falsos positivos (persistentes em alguns indivíduos). A sensibilidade é mais baixa que a PCR, o que pode subestimar a infectividade. Detecta o antígeno viral (proteína que o vírus produz). A taxa de falsos positivos varia de acordo com o teste usado, com um intervalo de 0-7 a 6%, e a taxa de falsos negativos em relação ao PCR é de ~65 a 89%. O limite para detecção após o início dos sintomas é desconhecido.

Cultura

A maioria das recomendações é baseada em PCR viral e cultura. A cultura viral confirma a presença de vírus intacto, viável e potencialmente infeccioso. Embora as circunstâncias exigidas para a cultura viral não sejam as mesmas da transmissão, ela é considerada um substituto razoável. Em indivíduos imunocompetentes, cultura positiva além do dia 10 em pacientes com doença leve é ​​incomum. É mais comum naqueles com doença grave.
O vírus foi detectado até o dia 18 na doença leve, dia 111 na doença grave, e dia 119 em um indivíduo imunocomprometido. Os indivíduos podem não ser muito infecciosos mesmo quando o vírus cultivável está presente. Um indivíduo com infecção grave com cultura positiva no dia 111, não causou nenhuma infecção secundária, apesar do término da quarentena em três meses. Além disso, nenhuma infecção ocorreu em 852 contatos expostos a indivíduos com doença leve após o dia cinco.

Reação em cadeia da polimerase (PCR)

A PCR detecta a presença de RNA viral do SARS-CoV-2. Anteriormente, as diretrizes defendiam o uso da PCR como substituto para a não infectividade, mas estudos sobre a dinâmica viral mostraram que existem várias razões pelas quais isso não é mais apropriado.

A PCR pode detectar vírus não viáveis, ​​e assim superestima a duração da infectividade, com um estudo de vigilância relatando nenhum caso secundário entre 790 contatos de 285 pessoas “persistentemente positivas”. Confiar na PCR como medida de não infectividade pode prolongar a internação hospitalar e o isolamento, desnecessariamente.

Os resultados podem oscilar de positivo para negativo em todos os estágios da infecção, podem se tornar positivos novamente mesmo após dois testes negativos consecutivos, podem ser detectados por mais tempo naqueles com infecção grave, e podem flutuar no nível de detecção por várias semanas. Os resultados variam de acordo com o local da amostra, e as amostras do trato respiratório inferior permanecem positivas por mais tempo. Resultados falsos negativos podem fornecer falsas garantias.

Os resultados podem ser semiquantificados, pelo número de ciclos necessários para atingir o limiar positivo predeterminado, o chamado limiar do ciclo (CT). Valores baixos de CT indicam altas cargas virais (forte positivo <25); valores de CT elevados (>35) podem indicar cargas virais baixas (positivo fraco). Resultados positivos fracos são mais comuns nos estágios iniciais e tardios da infecção, mas também podem ser falsos positivos. O valor de CT provavelmente está relacionado à infectividade; suportado pela diminuição da capacidade de cultivar o vírus, à medida que o valor de CT aumenta e encontrado em outras doenças. O valor de CT é afetado por alguns fatores externos, como qualidade do swab e estágio da doença, sendo mais baixo no início da doença, mas que pode aumentar, e portanto, os resultados precisam ser interpretados com cautela.

Dispositivo de fluxo lateral ou Teste rápido de antígeno (TRA)

Os testes de antígeno TRA detectam um antígeno proteico que faz parte da parede viral. Quando presente, é indicativo de replicação contínua e, portanto, da presença de vírus infeccioso. Estudos comparativos mostraram que ela é menos sensível que a PCR, detectando cerca de 65 a 89% das amostras dos PCR-positivos. No entanto, a sensibilidade é maior naquelas com cargas virais mais altas (96% para >1 000 000 cópias por mL, 92 % para 10 000–1 000 000 cópias por mL e 43% para <10 000 cópias por mL), e aqueles com cultura positiva (>95%).

Estima-se que os testes TRA detectariam 83-89% dos casos com contatos PCR-positivos. O tempo de resposta rápido e a praticidade dos testes de fluxo lateral significam, que eles fornecem uma estratégia de teste razoável para reduzir o risco de infecção em determinadas circunstâncias, como quando o teste de PCR não é prático, quando as consequências de um resultado falso negativo são aceitáveis, e quando o equilíbrio de riscos (resultado de TRA imediato x resultado de PCR tardio) favorece seu uso.

Quando os indivíduos são considerados imunes?

Os indivíduos estão compreensivelmente interessados ​​em saber se são suscetíveis à reinfecção. A reinfecção com variantes filogeneticamente distintas do SARS-CoV-2, foi relatada após apenas 48 dias em um homem de 25 anos, previamente saudável. Reinfecção assintomática com positividade de PCR, infecção com doença mais leve e reinfecção doença mais grave, foram descritas. Ao longo do tempo, a infecção e a reinfecção resultaram em doenças mais leves em nível populacional, o que provavelmente está relacionado à melhora da imunidade, combinada com a redução da virulência de cepas emergentes. A reinfecção é mais provável de ser estabelecida em indivíduos com sintomas e com doença mais grave. O risco de reinfecção é uma função do nível de imunidade presente e da cepa viral infectante (por exemplo, variantes de escape da vacina), que por sua vez é dependente da(s) cepa(s) circulando na comunidade naquele momento. A imunidade diminui com o tempo de infecção ou vacinação.

A reinfecção é mais provável quando surge uma nova cepa, principalmente se essa cepa tiver propriedades que lhe permitam evitar a imunidade desenvolvida, a partir de uma infecção ou vacinação anterior. Um exemplo disso foi visto com a rápida disseminação da variante Omicron no final de 2021.

Que fatores você pode discutir quando perguntado por um paciente se ele é imune?
O que se sabe sobre a resposta ao SARS-CoV-2, ou seja, que a imunidade dura pelo menos 90 dias e provavelmente mais na maioria das pessoas.
Quais os diferentes tipos de imunidade (células T e anticorpos).
Que os testes atuais são apenas marcadores substitutos para a imunidade, e não levam em conta a memória imunológica.
Que podem ocorrer reinfecções.
Que as reinfecções costumam ser mais leves do que o primeiro episódio.
Que os indivíduos recuperados devem cumprir as medidas de prevenção para evitar a reinfecção.

A maioria das pessoas estará protegida da reinfecção sintomática por pelo menos cinco meses, e o risco imediato de reinfecção é baixo (0,02%, taxa de incidência de 0,36 por 10 000 pessoas por semana). Há evidências de proteção aumentada contra infecção em indivíduos que são vacinados após uma infecção primária, com um estudo de coorte prospectivo mostrando que a imunidade adquirida por infecção, diminuiu após um ano em participantes não vacinados, mas permaneceu consistentemente superior a 90%, naqueles que foram vacinados posteriormente, mesmo em pessoas infectadas há mais de 18 meses.

Imunidade em infecções por coronavírus

Evidências de infecções com outros coronavírus (coronavírus sazonais, MERS-CoV, SARS-CoV-1), e marcadores substitutos de imunidade (respostas de anticorpos e células T), podem ajudar a informar nossa compreensão da imunidade no SARS-CoV-2.

Coronavírus sazonal

Estudos sorológicos da década de 1960 sugerem ciclos de infecção, com diferentes cepas de coronavírus predominando a cada dois a quatro anos. Experimentos de re-desafio sugerem imunidade completa de reinfecção sintomática por pelo menos um ano, se “reinfectado” com a mesma cepa, mas apenas imunidade parcial quando exposto a uma cepa heteróloga. A excreção assintomática de curta duração é possível após re-exposição com a mesma cepa.

A imunidade ao coronavírus sazonal não é vitalícia. A maioria das crianças é soropositiva para o coronavírus sazonal aos 3,5 anos, mas as infecções sazonais por coronavírus representam ~ 25% das doenças respiratórias agudas na idade adulta.

SARS-CoV-2

Os dados sobre a resposta imune à infecção e vacinação continuam a evoluir. A presença de anticorpos não é prova de imunidade. Os testes de anticorpos neutralizantes são considerados mais preditivos de proteção, mas não estão disponíveis rotineiramente. Anticorpos neutralizantes se desenvolvem na maioria dos indivíduos infectados (> 90%), embora em alguns os níveis sejam muito baixos ou ausentes, sugerindo que outros elementos do sistema imunológico estão impulsionando a recuperação.

As respostas dos anticorpos são mais fortes e duram mais tempo, após uma infecção grave. Dada a natureza protetora dos anticorpos na infecção sazonal por coronavírus, podemos esperar que a proteção contra a mesma cepa dure para a maioria das pessoas, por pelo menos 12 meses. No entanto, a evolução viral pode ser mais frequente e comum nas fases iniciais da pandemia, e a imunidade semelhante à observada em estudos de coronavírus sazonal em adultos, pode levar mais tempo para se desenvolver.
Atualmente, existem quatro vacinas aprovadas no Reino Unido, e outras mais disponíveis em todo o mundo. Dados de estudos de vacinação mostram que a proteção diminui com o tempo, mas dura na maioria das pessoas por pelo menos quatro meses. A vacina da Pfizer foi eficaz contra a doença sintomática em 96% até dois meses, 90% por dois a quatro meses, e 84% por quatro a seis meses. A eficácia protetora da vacina contra a doença sintomática varia de acordo com a cepa viral e a idade do paciente, na faixa de 70% a 95%. A proteção contra infecções graves, hospitalização e morte é ainda maior.

Até o presente momento, a vacinação provou ser eficaz contra todas as cepas que circulam naturalmente. Evidências sobre a eficácia contra a última variante (Omicron) continuam a surgir, embora a proteção seja definitivamente reduzida. A imunidade derivada da vacinação diminui com o tempo. Em reconhecimento a isso, o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido, recomendou uma quinta dose de vacina (reforço de primavera aproximadamente seis meses após a dose anterior), para aqueles com maior risco de Covid-19. Isso provavelmente se repetirá no outono. As decisões sobre vacinas de reforço para a população em geral serão tomadas em resposta à evolução das evidências.

Em resumo, a infecção por coronavírus não resulta em imunidade vitalícia e a reinfecção é comum. O curso natural da infecção por coronavírus inclui exposição repetida e infecção repetida, ao longo de um período de tempo variável. Com o tempo, o SARS-CoV-2 provavelmente se transformará em uma infecção sazonal por coronavírus. Com o desenvolvimento de imunidade aumentada, o risco de reexposição e reinfecção diminuirá, e o período entre os episódios provavelmente aumentará.

Perguntas para pesquisas futuras

Por quanto tempo os indivíduos com Covid-19, particularmente os infectados com novas cepas, são infecciosos?
Existe um marcador substituto confiável para infectividade?
O valor do limiar de ciclo (CT) dos testes de PCR (ou PCR quantitativo) poderá ser usado para prever a não infectividade?
Como os testes de fluxo lateral e PCR serão mais bem utilizados para auxiliar na tomada de decisões de risco?
Existirá um marcador substituto confiável para imunidade, que preveja proteção contra reinfecção ou doença significativa?

Referente ao artigo publicado na British Medical Journal.

Autor:
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com 

 

 

 

 

 

 

Assine a nossa NewsLetter para receber conteúdos e informes sobre ações, eventos e parcerias da nossa marca: https://bit.ly/3araYaa

Este post já foi lido1749 times!

Compartilhe esse conteúdo:

WhatsApp
Telegram
Facebook

You must be logged in to post a comment Login

Acesse GRATUITO nossas revistas

Send this to a friend