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A Peste Negra deixou cicatrizes persistentes no genoma humano

Os genes que podem ter ajudado a humanidade na sobrevivência durante a Peste Negra, agora estão ligados a distúrbios autoimunes.

Quando a Peste Negra varreu o norte da África e a Eurásia em meados do século XIV, matou até metade das populações humanas de lá, reformulou a história, e potencialmente mudou o curso da evolução humana.

Um estudo publicado em 19 de outubro na Nature sugere, que cicatrizes remanescentes da peste bubônica, causada pela bactéria Yersinia pestis, podem ser encontradas em genes envolvidos no sistema imunológico humano moderno. Quatro variantes de DNA em particular, parecem ter se tornado mais comuns após a Peste Negra, e podem ter contribuído para a sobrevivência humana.

Mas a proteção oferecida por essas variantes pode ter um custo: hoje, duas delas estão associadas a um risco aumentado de doenças autoimunes, como doença de Crohn e artrite reumatoide.

“É um trabalho muito inovador”, diz Ziyue Gao, geneticista populacional da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia. “Sempre nos perguntamos quais são as forças que impulsionam a evolução da população.”

Impactos duradouros

A Peste Negra foi a pandemia mais letal da história da humanidade, e os geneticistas há muito estão curiosos sobre suas origens e seu impacto nas migrações e imunidade humanas. “É simplesmente inimaginável”, diz Luis Barreiro, geneticista de populações humanas da Universidade de Chicago, em Illinois.

Barreiro e seus colegas levantaram a hipótese, de que um evento tão dramático poderia ter deixado sua marca na evolução do sistema imunológico. Para descobrir, eles analisaram a variação genética em mais de 200 amostras de DNA isoladas de ossos ou dentes de indivíduos que viveram antes da praga, morreram dela ou viveram uma ou duas gerações depois.

A equipe se concentrou em genes relacionados à imunidade, e encontrou quatro variantes de DNA que pareciam ter sido selecionadas durante a Peste Negra, em amostras do Reino Unido e da Dinamarca. Uma variante afetou a expressão de um gene chamado ERAP2. Pessoas com essa variante, produzem uma versão completa de uma molécula de RNA que codifica a proteína ERAP2; aqueles que não têm fazem uma versão mais curta do RNA.

A proteína ERAP2 é produzida por células imunes especializadas, chamadas de macrófagos, que engolfam e digerem bactérias. Está envolvido no corte de proteínas bacterianas em pedaços, alguns dos quais são exibidos na superfície do macrófago, como um sinal para outras células imunes. “É uma espécie de sistema de alerta de que há uma infecção acontecendo e eles precisam atacar”, diz Barreiro.

Barreiro e seus colaboradores especularam, que ter uma proteína ERAP2 completa e totalmente funcional, poderia ter melhorado a proteção imunológica durante a Peste Negra. Estudos de laboratório apoiaram essa ideia: os macrófagos que expressam a versão mais longa do ERAP2, foram mais capazes de impedir a replicação de Yersinia pestis, do que os macrófagos que expressam a versão truncada.

Mas a variante protetora do gene ERAP2, também é um fator de risco conhecido para a doença de Crohn, e outra das variantes que Barreiro e seus colegas encontraram, está associada à artrite reumatóide. Isso, diz Barreiro, destaca a relevância de estudar as pressões evolutivas que podem selecionar essas variantes: “Essas variantes também podem afetar hoje a sensibilidade a distúrbios relacionados ao sistema imunológico”.

Ponta do iceberg?

A abordagem da equipe foi poderosa, diz Johannes Krause, paleogeneticista do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, que estudou as ligações entre a peste bubônica e os genes do sistema imunológico. Ele observa que outros patógenos que circulavam no século XIV, também poderiam ter levado a uma melhor sobrevivência para pessoas com a variante ERAP2.

Barreiro e seus colegas esperam estender seu trabalho para incluir mais amostras e sequenciamento de DNA mais extenso. Isso, diz Gao, pode revelar ainda mais variantes genéticas associadas à Peste Negra. “Estou me perguntando quantas variantes foram perdidas”, diz ela. “Isso significa que eles estão apenas detectando a ponta do iceberg?”.

Referente ao comentário publicado na Nature.

 

Autor:
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

 

 

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