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Por que os cientistas temem que a varíola dos macacos se espalhe em animais selvagens

Um surto da varíola dos macacos desenfreado na vida selvagem, tornaria o vírus impossível de controlar.

Stephanie Seifert sentiu uma onda de ansiedade, quando soube do primeiro cachorro conhecido de contrair a varíola de um humano. “Eu tenho cachorros. Então eu fiquei tipo, ‘Bem, isso é horrível’”, diz ela.

Mas Seifert, ecologista viral da Washington State University em Pullman, que estuda como os vírus pulam entre as espécies, também entendeu o significado potencial do caso. Nos meses desde o aumento dos casos globais de varíola, que começou em maio, ela e seus colegas esperaram para ouvir relatos de animais contraindo o vírus de pessoas. O primeiro caso de transmissão de humano para cão foi relatado em agosto. O galgo italiano na França, havia dormido na mesma cama com um casal que apresentava sintomas; O DNA viral do cachorro combinava com o de um dos donos. No mesmo mês, o Ministério da Saúde do Brasil, anunciou o caso de um filhote que pegou o vírus de uma pessoa.

O problema não é o caso estranho de transmissão de humano para cão, diz Malachy Okeke, virologista da Universidade Americana da Nigéria em Yola. Animais de estimação doentes podem ser isolados em casa. Os cientistas estão mais preocupados com um cenário em que o vírus da varíola dos macacos se estabeleça em animais selvagens, como roedores, fora de seu alcance habitual na África Ocidental e Central. Esses reservatórios animais poderiam transmitir o vírus de volta às pessoas. “Então estaríamos com problemas”, diz Okeke. Controlar a propagação em populações de animais selvagens seria extremamente difícil, explica ele, tornando o vírus “impossível de eliminar”.

Portadores de animais

A varíola dos macacos é conhecida por infectar mais de 50 espécies de mamíferos, de acordo com dados compilados por pesquisadores da Universidade de Liverpool, Reino Unido. Mas os cientistas não conhecem o reservatório exato do vírus, o animal ou animais que carregam e espalham continuamente o vírus sem adoecer. As evidências até agora indicam que roedores e outros pequenos mamíferos na África, incluindo ratos gambianos, esquilos de árvore, esquilos de corda e ratos-alvo, são responsáveis ​​por manter o vírus circulando na natureza. Surtos de varíola em pessoas vêm surgindo em partes da África há décadas.

Muito mais pessoas foram infectadas nos últimos meses do que em surtos anteriores, aumentando assim as chances de o vírus interagir com os animais. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que o número de casos notificados semanalmente, atingiu um pico de quase 7.500 em agosto; mais de 3.400 novos casos foram confirmados na semana passada.

Se o vírus se estabelecer em uma população de roedores fora da África, isso pode significar problemas, de acordo com um estudo de modelagem publicado em 11 de setembro. O modelo, que imita como a varíola se espalha, prevê um surto em uma hipotética área metropolitana. Quando o modelo considerou a existência de um reservatório de camundongo, ele previu que a transmissão animal levaria a picos muito mais precoces e ondas múltiplas.

Quando a disseminação de humano para animal e de animal para humano é um fator no processo de transmissão, as coisas se tornam muito mais complicadas, diz o modelador de doenças Huaiping Zhu, diretor do Centro Canadense de Modelagem de Doenças da Universidade de York em Toronto, e líder do estudo. Sem uma compreensão de como os animais mudam a dinâmica de transmissão, os cientistas terão dificuldades para controlar a propagação do vírus e evitar futuros surtos, diz ele.

Vigilância de vírus

Parte do motivo pelo qual os cientistas não conhecem o reservatório do vírus é a falta de vigilância ativa e de longo prazo da varíola dos macacos na natureza, diz Okeke. Mas há também a falta de interesse. “Como esse vírus é endêmico nos chamados países com poucos recursos, as pessoas não o levaram a sério”, acrescenta. “Tenho vergonha de dizer isso, mas essa é a realidade.”

Com poucos dados de campo para indicar como os animais podem afetar o curso do surto atual, alguns cientistas estão adotando outras abordagens. Por exemplo, prever quais espécies podem ser mais suscetíveis à infecção do que outras ajudaria as autoridades a saber onde aumentar a vigilância, diz o virologista Marcus Blagrove, da Universidade de Liverpool.

Blagrove e seus colegas reuniram grandes quantidades de dados, incluindo a estrutura genética da varíola dos macacos e de 62 outros poxvírus, e características de cerca de 1.500 mamíferos, incluindo sua dieta, habitat e atividades diárias. Eles então treinaram algoritmos de aprendizado de máquina para analisar as informações e localizar possíveis hospedeiros de varíola.

Seus resultados, que foram publicados no servidor de pré-impressão bioRxiv em 15 de agosto e que ainda não foram revisados ​​por pares, sugerem que duas a quatro vezes mais espécies de animais podem ser suscetíveis à infecção pelo vírus do que se sabe atualmente, principalmente roedores e primatas. “Há muitos anfitriões em potencial em todo o mundo”, inclusive na África, mas também em regiões como Europa, China e América do Norte, diz Blagrove.

É difícil prever se essas criaturas podem se tornar reservatórios e liberar o vírus. Os cientistas carecem de dados importantes, como informações sobre a possível resposta imune dos hospedeiros, e evidências diretas da passagem do vírus desses animais para outra espécie, o que sugeriria que o hospedeiro é um reservatório, diz Seifert.

A melhor maneira de evitar que o vírus da varíola se espalhe para mais animais e possivelmente estabelecer um reservatório fora da África, acrescenta Seifert, é impedir a propagação entre humanos. E a melhor maneira de fazer isso é aumentar a distribuição de vacinas. “É assim que reduzimos a probabilidade de esses eventos raros acontecerem, protegemos as pessoas”, diz ela.

Referente ao comentário publicado na Nature.

 

Autor:
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

 

 

 

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