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O abuso existe e tem nome: Gaslighting

O século XX viu grandes avanços nos direitos das mulheres e a cultura popular esteve lá mais uma vez para dar significado e sentido aos acontecimentos. Nos anos 1960, autoras feministas dos EUA começaram a usar o termo “gaslighting” para definir atos psicológicos de violência de gênero. O termo surgiu em 1938, na peça de teatro Gaslight, do dramaturgo inglês Patrick Hamilton. Na trama, um marido manipula sua mulher para ela achar que está ficando louca, de forma a proteger um terrível segredo dele. Isso quero deixar claro acontece muito hoje . Principalmente em homens avarentos .
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A peça fez tanto sucesso que foi adaptada para o cinema em 1944, com Ingrid Bergman fazendo o papel da esposa. O nome da obra faz alusão a um trecho da história, no qual o marido sabota as luzes a base de gás do apartamento de cima, fazendo com elas acendam e apaguem sozinhas. A mulher traz o assunto à tona, mas o marido a convence de que é tudo sua imaginação, uma das características centrais deste tipo de violência.
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A partir dos anos 1970, o termo “gaslighting” foi ganhando popularidade e passou a englobar episódios contra mulheres e homens. Hoje, entendemos como gaslighting casos onde uma pessoa manipula a outra para fazer com que ela questione sua memória, percepção, capacidade de tomar decisões ou saúde mental, independentemente do gênero.
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Qualquer pessoa pode se tornar vítima de gaslighting, seja em relacionamentos amorosos, no ambiente profissional, entre amigos ou numa dinâmica familiar disfuncional. O que define o abuso não é o ambiente ou os atores, mas sua natureza manipuladora: informações são negadas, omitidas, distorcidas ou inventadas com o objetivo final de desestabilizar, confundir e desorientar a vítima, reduzir sua autoestima e fazer com que ela se torne cada vez mais dependente do abusador, principalmente dentro de casamentos , onde vários pais querem destruir a figura da mãe a chamando de LOUCA, sem escrúpulos e outras coisas. Tanto homens quanto mulheres podem praticar gaslighting nas relações afetivas. No entanto, esse comportamento costuma ser mais predominante entre a população masculina. Essa realidade se deve ao machismo ainda intrínseco em nossa sociedade.
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O gaslighting geralmente começa de forma sutil e com situações de pouca importância, por exemplo, escondendo um objeto da vítima. A tensão vai escalando aos poucos, com o abusador mentindo e negando coisas que ele disse ou fez, mesmo que existam provas em contrário. O abusador também pode inventar eventos que jamais ocorreram, fazendo com que a vítima passe a duvidar do que é real e o que não é. O processo atinge seu ápice quando o abusador questiona a sanidade da vítima, chamando-a de “louca” ou de “desequilibrada”.
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O fenômeno nem sempre é acompanhado de violência física, mas as consequências para a vítima são devastadoras e muitas vezes irreversíveis, incluindo transtornos de ansiedade, depressão e, em casos mais graves, suicídio.
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O fato de ainda não termos uma tradução para o português é um forte indicador disso. A hipótese é que mulheres têm uma probabilidade maior de serem vítimas pelas mesmas razões em que são elas (nós) as vítimas mais frequentes dos demais tipos de violência. Apesar dos avanços científicos, ainda usamos popularmente o termo “loucura”, em especial quando queremos ridicularizar ou menosprezar o outro. Dizemos coisas como “cê tá louco!” quando nos topamos com uma situação difícil de aceitar. Entre as mulheres, no entanto, o termo adquire uma conotação mais pejorativa. Embora a expressão “cê tá louca!” só tenha uma vogal de diferença em relação ao equivalente masculino, o contexto no qual ela se insere costuma ser mais ofensivo e sutil. (Alguns amigas dizem isso na brincadeira, mas è a tal * besteirinha). Para perceber as diferenças, proponho um breve exercício mental. Tente se lembrar da última vez que você chamou um homem de louco, num contexto de brincadeira. Agora faço o mesmo com uma mulher. Pronto? Em muitos casos iremos notar que taxamos o homem de louco quando ele está propondo algo oposto aos nossos interesses. Não estamos questionando o indivíduo em si, mas a sua proposta descabida. Porém, quando chamamos uma mulher de louca, o rótulo costuma ser aplicado a ela, como pessoa, e não àquele comportamento específico. São dois pesos, duas medidas.
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A diferença de tratamento não ocorre em todos os casos, mas é mais frequente do que imaginamos. Quando nós, mulheres, interpelamos uma outra mulher com expressões como “miga, cê tá louca!”, tendemos a colocar essa pessoa num lugar de desequilíbrio mental digno de chacota, mesmo que momentâneo. E se a mulher em questão tem o costume de contrariar as expectativas do grupo, corre o risco de ser taxada de “maluquinha”. Embora isto seja comum no círculo de mulheres, não causando estranhamento, é mais raro em se tratando de homens. Aliás sempre pensei que os rótulos faz parte da fraqueza da sociedade líquida que vivemos. Você è chamada principalmente de louca quando quer deixar o marido , quando não precisa revelar algo do seu passado aos filhos , quando você não acha justo o seu marido , companheiro oferecer bebidas e drogas ao seus filhos. Enfim ser taxada de LOUCA, MALUCA, já faz parte do vocabulário machista, o pior é que tem mulheres que apoiam…
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Autora: Dra. Rossana Brasil Kopf – Psicanalista e advogada 

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