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A fadiga é um monstro para pacientes com doença pulmonar

Se você estiver procurando, encontrará fadiga em quase todos os lugares. É tão comum que se esconde à vista, e quase nunca é tratado porque está presente por um bom motivo. A consequência inevitável da idade, qualquer doença que você esteja tratando, más escolhas de estilo de vida, e a rotina diária da vida do século XXI. Seu impacto é tão onipresente e pernicioso, que a fadiga é considerada aceitável.

E isso é verdade? Afinal, a fadiga pode ser também debilitante. Nem todo sintoma é digno de uma síndrome crônica que leva seu nome. Além disso, e se a relação com a doença que você estiver tratando, for bidirecional? E se realmente prestássemos atenção, perguntássemos sobre isso, e se gastássemos energia tentando aliviá-la? Poderíamos melhorar a qualidade de vida e outros parâmetros também?

Fora da medicina do sono, se vê pouco foco na fadiga entre os pneumologistas. Isso apesar dos dados existentes sobre fadiga relacionada à sarcoidose, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doença intersticial pulmonar. Mesmo quando se fala da boca para fora, em “abordar” a fadiga ou o sono, é essencialmente um eufemismo, para solicitar um estudo do sono.

Tal como acontece com a fadiga, se você procurar por apneia obstrutiva do sono (AOS), ela estará lá, embora com a AOS esteja relacionada ao limiar incrivelmente baixo, e não baseado em evidências, que a Academia Americana de Medicina do Sono (AAMS) estabeleceu para fazer o diagnóstico. Com a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) em mãos, o paciente tem uma nova doença com que se preocupar, e uma mudança comportamental difícil de cumprir (usar, limpar e reabastecer o seu equipamento de CPAP). Muitas vezes, o CPAP não é usado, ou quando é, a fadiga persiste. Mas está tudo bem porque seguiu-se a orientação de alguém.

A American Thoracic Society (ATS) acaba de publicar uma declaração de pesquisa, sobre fadiga relacionada ao câncer. É abrangente e destaca a alta prevalência e o fraco reconhecimento da fadiga relacionada ao câncer. Os autores observam que, entre os cânceres, os de pulmão estão associados a uma maior carga de doenças comórbidas, idade avançada e tabagismo. Todos esses fatores tornam os pacientes com câncer de pulmão particularmente propensos à fadiga. As interações entre esses fatores, a histologia do câncer de pulmão e os regimes quimioterápicos específicos, são pouco compreendidas. Fiel ao seu título, a “declaração de pesquisa” serve mais como um apelo à ação, do que um plano baseado em evidências, para diagnóstico e tratamento.

Os dados de fadiga relacionados ao câncer que existem sugerem, que o tratamento começa com o reconhecimento seguido de um foco no sono, no exercício e na nutrição. Isso não deve surpreender ninguém. Os dados sobre fadiga em geral (não específicos para fadiga relacionada ao câncer) mostram que, embora a fadiga não seja sinônimo de má qualidade ou de sono insuficiente, o sono geralmente é um fator importante. As condições relacionadas ao câncer que afetam o sono incluem ansiedade, depressão, sono insuficiente, insônia, efeitos colaterais de medicamentos e AOS. A teia de interseção é complexa, mas em condições subjacentes (câncer ou não), o método mais rápido e eficiente para mitigar a fadiga, é otimizar o sono.

Exercício e nutrição também são importantes. Novamente, em processos de doença (doença intersticial pulmonar, DPOC, câncer de pulmão e assim por diante), nenhuma droga se aproxima do exercício aeróbico para reduzir os sintomas, incluindo a fadiga. Se uma prescrição de exercícios pudesse ser entregue em forma de pílula, seria um sucesso de público. Mas não pode ser, e a declaração de pesquisa sobre fadiga relacionada ao câncer de pulmão da ATS, descreve muito bem as evidências para o aumento dos níveis de atividade e as barreiras para a obtenção de apoio e adesão. Como no caso do exercício, o suporte para melhorar a nutrição é limitado pelo custo, pelo acesso e pela educação do paciente.

Talvez o mais importante seja que sono, exercícios e nutrição, requerem tempo para aconselhamento e mudança de comportamento do médico e do paciente. Ambos são escassos e o compromisso é sempre efêmero. O incentivo talvez possa ser reestruturado, mas o documento ATS observa que isso será um desafio.
Com relação à reabilitação pulmonar (cerca de 50% dos pacientes com câncer de pulmão têm DPOC comórbida), por exemplo, o reembolso é baixo, o que serve como um desestímulo. Quais sugestões? Integração precoce e introdução repetida aos conceitos de reabilitação e exercício. Parece bom.
Em resumo, na opinião de um especialista, a fadiga não recebe o nível de atenção compatível com o seu impacto na vida do paciente. É fácil entender o porquê, mas já é gratificante que o ATS esteja destacando o problema. De conhecimento geral, há várias diretrizes de câncer que já recomendam a triagem de fadiga. A recente diretriz de tratamento da sarcoidose publicada pela European Respiratory Society dedicou um PICO (Pacientes, Intervenção, Comparação, Resultados) ao tópico e exercício recomendado (reabilitação pulmonar).

Dito isso, as declarações de consenso sobre a DPOC, a mencionam apenas de passagem em relação a doenças graves e cuidados de fim de vida; e as diretrizes de fibrose pulmonar idiopática, a ignoram completamente. Portanto, o reconhecimento está melhorando, mas ainda se temo um longo caminho a percorrer.

Referente ao artigo publicado em Medscape Pulmonary Medicine

 

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