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Ciência necessária agora, para ação

No início da 77.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU 77), em setembro de 2022, os membros da ONU concordaram em conceber e implementar soluções para garantir alimentos, água e educação para todos; melhorar o desenvolvimento humano; reformar o sistema financeiro global; garantir um ambiente saudável; e embarcar num caminho em direção a uma sociedade global menos injusta. São necessárias soluções transformadoras para responder às múltiplas crises relacionadas do Antropoceno, e para ajudar a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

 

No momento em que se inicia a 78.ª sessão da AGNU, a importância da ciência para ajudar a ONU a progredir nestas questões é tão clara e crítica, como sempre. No entanto, a participação da comunidade científica não é o que poderia e precisa ser.

 

Na ONU, o papel da ciência como plataforma unificadora de negociação política para enfrentar desafios globais e sistêmicos, é bem reconhecido, através de entidades como o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas e a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Os relatórios desses organismos fornecem os conhecimentos mais recentes à comunidade internacional, para ajudar a resolver questões sistêmicas, e a identificar soluções transformadoras para uma ação coordenada a nível local, nacional e global.

 

No entanto, os mecanismos científicos existentes, que apoiam o trabalho da ONU, reconheceram deficiências. Por exemplo, a maior parte dos dados e das informações não são apresentados em tempo real, o que significa que o apoio científico, muitas vezes não está atualizado e não é relevante.

 

Além disso, os dados são frequentemente fornecidos e analisados por instituições, que representam apenas parcialmente os membros da ONU. Os dados refletem muitas vezes avaliações instantâneas, em vez de uma monitorização e análise conjunta e consistente das tendências, ao longo do tempo e do espaço. Além disso, as externalidades positivas e negativas do desenvolvimento muitas vezes não são compreendidas; portanto, muitos investimentos aparentemente bons, saem pela culatra noutros setores.

 

Na tentativa de enfrentar tais desafios, está a ser convocada uma “reunião científica” na AGNU 78. O objetivo é desenvolver e lançar colaborações, que demonstrem mecanismos e atividades científicas globais, que apoiem e validem o desenvolvimento sustentável. Os líderes da ONU estão empenhados em trabalhar com cientistas para identificar soluções transformadoras, e apresentá-las aos Estados membros. Outros esforços incluem o Fórum Multilateral sobre Ciência, Tecnologia e Inovação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o recentemente anunciado conselho consultivo científico do secretário-geral da ONU e o Grupo de Amigos sobre Ciência para Ação, lançado durante a AGNU 77.

 

Para apoiar a transformação dentro da ONU e a nível nacional, a investigação precisa ser intersetorial, incentivando a colaboração entre domínios, setores e ministérios, centrada em missões para promover um futuro equitativo e sustentável. No centro das discussões na AGNU nos próximos anos, está a forma como as nações podem garantir alimentos e água para todos, aumentar a absorção de carbono nos ecossistemas naturais, e dissociar o consumo de recursos do desenvolvimento.

 

Outras questões incluem como os países podem garantir saúde e educação sustentáveis e acessíveis para todos, e como podem restaurar e proteger o ciclo da água, para melhorar a saúde humana e dos ecossistemas, mitigar e adaptar-se às alterações climáticas, e tornar a nossa economia mais resiliente aos choques. Também será importante perguntar como as nações podem conceber e implementar um futuro sistema de fornecimento de energia inteligente, acessível, inclusivo e em termos de recursos naturais, e como podem gerir a urbanização; construir e modernizar cidades e comunidades seguras, resilientes e sustentáveis para acabar com a pobreza; e priorizar a equidade, o bem-estar humano e a saúde ecológica.

 

As formas como os países se afastam dos perigosos modelos de negócio extrativos, alteram o conceito de produto interno bruto para incluir a sustentabilidade social e ambiental, e ajustam o sistema financeiro internacional em conformidade, também serão questões fundamentais.

 

Um passo em direção a um sistema em tempo real, para descrever tendências que são relevantes para a formulação de políticas na AGNU, ocorreu durante o 3º Fórum Internacional sobre Big Data para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em Pequim. A Organização Meteorológica Mundial e o Grupo de Observação da Terra convocaram um painel de líderes de instituições mundiais, para discutir a melhor forma de apoiar o desenvolvimento de políticas através de descritores-chave de sustentabilidade. Estes descritores integram indicadores dos 17 ODS; para fornecer produtos de informação em tempo real sobre economia, meio ambiente e desenvolvimento social; e destacar tendências que podem ser usadas para corrigir políticas e financiamento para o desenvolvimento sustentável.

 

A desconfiança, o conflito e a insegurança, estão a minar a cooperação global e a abrandar o nosso progresso rumo a um futuro comum e sustentável. Mas 2024 apresenta uma nova oportunidade e, com fortes bases científicas e ampla participação, ainda poderemos construir caminhos para um futuro unificado e sustentável.

 

 

Referente ao artigo publicado em Science.

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