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COVID-19 e os eventos esportivos de massa

À medida que os adiados Jogos Olímpicos de Verão de 2020 começam em Tóquio, um aspecto estará em forte contraste com outros eventos esportivos importantes, como a final do campeonato de futebol UEFA EURO 2020, em 11 de julho. Embora os atletas olímpicos se apresentem sem público ao vivo, a final do Euro no Estádio de Wembley, em Londres, viu 60.000 fãs cantando nas arquibancadas.

Os espectadores em Wembley estavam consentindo com os participantes de um experimento do governo do Reino Unido, para rastrear a disseminação da COVID-19, como parte do Programa de Pesquisa de Eventos, uma iniciativa que também incluiu certos shows, festivais de verão e outros eventos de massa. Alguns países iniciaram estudos semelhantes, embora em menor escala.

No início deste mês, o governo divulgou os resultados da primeira fase do programa do Reino Unido, envolvendo eventos entre abril e maio de 2021, mas não os eventos posteriores, incluindo a final da Euro 2020. Embora algumas informações úteis tenham sido divulgadas, os eventos de teste até agora, ainda não forneceram dados conclusivos sobre a disseminação do SARS-CoV-2 nesses eventos. Os pesquisadores também sinalizam que o governo não esperou por resultados mais conclusivos dos eventos posteriores para informar a sua política de liberação, e suspendeu a maioria das restrições à pandemia em toda a Inglaterra nesta semana.

Theresa Marteau, uma cientista comportamental da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e presidente do conselho científico, diz que trabalhar rapidamente com os organizadores de eventos, pode significar que as oportunidades sejam perdidas. “Às vezes, os ingressos estavam sendo vendidos, no mesmo momento em que os protocolos científicos estavam sendo finalizados”, diz ela.

Quando o Reino Unido lançou o Programa de Pesquisa de Eventos em fevereiro, o governo disse que permitiria aos espectadores, que apresentassem uma prova de um recente teste negativo da COVID-19, para comparecer a shows e eventos esportivos de massa com capacidade limitada. Estudos subsequentes produziriam dados cruciais, sobre como realizar esses eventos com segurança, e orientariam as decisões políticas sobre a reabertura de locais de entretenimento, de forma a reduzir os riscos de transmissão.

Mas as baixas taxas de infecção entre a população, quando os primeiros eventos começaram, e a fraca participação nos testes de PCR entre os participantes, antes e depois dos eventos, significou que os dados coletados não tinham escala e escopo para dar respostas, dizem os autores do relatório.

O número de casos, de quem compareceu aos nove eventos incluídos na primeira fase do Programa de Pesquisa de Eventos, entre abril e maio de 2021, foi pequeno. Apenas 28 das mais de 55.000 pessoas que participaram como espectadores em eventos, incluindo o World Snooker Championship em um teatro Sheffield, a final da Football Association Cup no Wembley Stadium, e os BRIT Awards na O2 Arena em Londres, testaram positivo para SARS- CoV-2. Destes, os pesquisadores identificaram 11, que podem ter sido infecciosos em um evento, e outros 17 como potencialmente infectados no momento ou próximo a um evento, de acordo com os resultados, publicados em 1º de julho.

Os autores do relatório recomendam, que esses números sejam interpretados com “extrema cautela”, porque o vírus não estava circulando amplamente na comunidade na época, e apenas 15% dos que deviam retornar aos testes de PCR pré e pós-evento o fizeram.

John Edmunds, epidemiologista da London School of Hygiene & Tropical Medicine, acrescenta que a variante delta altamente infecciosa ainda não era predominante no Reino Unido. “Sabíamos que não teríamos caixas suficientes para analisar a transmissão”, diz Edmunds. Os pesquisadores analisaram proxies para potencial transmissão do vírus nos eventos. Isso incluía fatores ambientais para a transmissão aérea, como os níveis de dióxido de carbono, que revelam ventilação insuficiente e densidade de multidões, e fatores comportamentais, como conformidade com as regras de cobertura facial e distanciamento social.

Os resultados sugerem, que diferentes locais em um mesmo evento, têm diferentes fatores de risco para transmissão. Espaços externos geralmente tinham menos fatores de risco do que os internos, por exemplo, e certas áreas de locais externos, como banheiros, corredores e barracas de comida e bebida, onde as pessoas se aglomeravam, apresentavam riscos maiores.

“Sentar em seu lugar em Wembley é provavelmente de baixo risco”, diz Edmunds. São os pontos de aperto no local, e as coisas que acontecem ao redor do evento, como usar o transporte público ou visitar um bar, que provavelmente representam um risco maior, diz ele.

Para Marteau, essas descobertas valeram a pena. O programa foi “extraordinário” tanto para a escala dos experimentos, quanto para a velocidade com que foram configurados. “Existem limitações, mas no geral é melhor que tenha acontecido do que não”, diz ela. Tanto Marteau quanto Edmunds sugerem, que a taxa de conformidade do PCR poderia ter sido melhorada, se houvesse incentivos e melhor comunicação para os participantes.

A Holanda também investiu em um programa de pesquisa para ajudar a entender como realizar eventos empresariais, culturais e esportivos com segurança. O programa de eventos FieldLab prometeu desenvolver a prova de uma abordagem confiável e segura, para a abertura dos entretenimentos. Porém, no início deste mês, o governo holandês, que em 26 de junho havia levantado a maioria das restrições da COVID-19, incluindo reuniões em massa, reverteu a decisão depois que as taxas de infecção aumentaram 500%.

De volta ao Reino Unido, com os eventos da segunda e terceira fases do programa, incluindo a final do EURO 2020, agora concluída, mas ainda não analisada, Edmunds e outros pesquisadores, esperam que esses dados, combinados com uma nova abordagem para rastrear contagens de casos, que não dependa de testes pré e pós-evento, vai lançar mais luz sobre os riscos de transmissão em grandes eventos.

Mas os resultados chegarão tarde demais para informar a política. Restrições ao número de pessoas que podem se reunir em ambientes fechados e mandatos sobre distanciamento social, foram suspensos na Inglaterra, embora não em outras partes do Reino Unido em 19 de julho, levando a frustrações entre alguns cientistas envolvidos na pesquisa, que se preocupam com as pessoas que agora acham que é seguro comparecer a grandes reuniões e eventos.

 

Referente ao artigo publicado em Nature

 

 

 

Autor: 
Dr. Dylvardo Costa Lima
Pneumologista, CREMEC 3886 RQE 8927
E-mail: dylvardofilho@hotmail.com

 

 

 

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