fbpx

Coluna Momento de Reflexão – Névoas do luto

Nuvens de sofrimento e aprendizado, também representa passar uns dias ensandecido ou alucinado pelas névoas do luto, num flutuar frequente e constante, da gangorra da razão e da emoção reticente, sem entender, ou querer entender, a compreensão desse momento. Nas fotos da lembrança, e nos retratos da memória (no pensamento e na realidade), frequentemente indagamos os porquês. No caldo borbulhante do luto existe a culpa recidivante (mesmo sem ter, ou querer), a questão que não encontra resposta, a saudade do choro que se entrelaça no silêncio, em variados instantes, a reorganização psíquica e a ressignificação. No tempero dele mergulham os ingredientes que o tempo abranda, mas não apaga, que vai e volta, sem que percebamos o motivo real desse vai e vem. Há nesse pesar e dissabor lacerante (sem desejar ou pretender), também por demais insistente, a necessidade de não ser o que se é, ou doravante, se enclausurar pelo caminho do novo obscuro; e, vindo desse mesmo ensopado, encontrar um labirinto sem saída, ou um escuro atalho no futuro.

Tudo passa, tudo tem solução e tudo tem um algo a ser feito. As brumas do luto permitem palavras de consolo e fé, de quem nos quer bem (lembrando de um pensamento freudiano quando disse: “onde abundam as dores brotam os licores”). A busca de algo consolante, entretanto, algumas vezes, se esconde nas adversidades que se avolumam, ou na incompreensão do momento. A perda causa um redemoinho no pensar e no agir. Pergunto, como reflexão: qual o efeito dela e de nossas ações, negativa ou positivamente, ante as pessoas que conosco caminham nesse instante de penúria? Lembro de um pensamento de Nietzsche quando Ele disse: “aquele que tem um porquê para viver, pode enfrentar quase todos os comos”. Como enfrentar ou encontrar os comos, porém, se a ilusão do existir fica chamuscada pelo efeito maltratante do luto castigante? Engolir, se engasgar, ou enganar os ‘comos’ é uma espécie de necessário drible, que se oferece ou se presenteia para a mente modificada ou perturbada, nas situações de perdas irreparáveis.

O tempo, o efeito dos afetos, a fé, a necessidade de persistir, a espirtulidade e os ensinamentos da vida (pelo saber e experiência pessoal e alheia), são alicerces que ajudam a soprar essas névoas do sofrer para bem longe – lembremo-nos disso. A vida sempre vale a pena; mesmo com todo dilema ou problema. Peneirar, chuviscar e aprender as névoas do luto inspira a elevar o valor da existência, e nos ensina o semeio de amar – fazer de maneira bem-feita a missão mais nobre do nosso peregrinar. Choremos, enxuguemos as lágrimas e caminhemos avante; mesmo imaginando que a decifração do que nos atormenta esteja distante.

 

 

 

A coluna Momento de Reflexão é publicada aos sábados com a assinatura do Dr. Russen Moreira Conrado, Cirurgião Plástico e psicoterapeuta, CRM: 5255-CE – RQE Nº: 1777 – RQE Nº: 1811

 

 

 

Assine a nossa NewsLetter para receber conteúdos e as versões digitais do Jornal do Médico em formato de Revista, E-Book, além de informes sobre ações e eventos da nossa plataforma: https://bit.ly/3araYaa

Este post já foi lido480 times!

Compartilhe esse conteúdo:

WhatsApp
Telegram
Facebook

You must be logged in to post a comment Login

Acesse GRATUITO nossas revistas

Send this to a friend